Os ensinamentos de Felipão e o desenvolvimento do cabeceio – parte I: analisando o jogo

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No exato momento em que me preparava para escrever minha coluna semanal, recebei um e-mail de Sir Gheorge Randsford com um texto que tinha como manchete “Após erros na bola aérea, Felipão põe jogadores para pular no Palmeiras”.
Só com a manchete já fiquei intrigado.
Será que temos um treino revolucionário baseado no “pular” que resolverá os problemas da bola aérea?
Comecei a ler a matéria e me deparei com a seguinte descrição do treino:
“Durante parte de treino desta quarta-feira, Scolari utilizou uma espécie de forca. Amarrou uma corda em uma bola no alto e obrigou os zagueiros, laterais e mais o volante Chico a tentar alcançá-la com a cabeça…”.
A explicação para esse tipo de trabalho foi que na derrota para o Guarani na última rodada a equipe tomara três gols em jogadas originadas em bolas paradas.
Bom, antes de discutirmos o treino, precisamos olhar para o jogo e observar os problemas apresentados pela equipe, a fim de agir na origem dos mesmos.
Não vamos discutir o jogo todo, mas os gols em questão a fim de entender as declaração e o treino de nosso amigo treinador.
Vejamos os gols:

A altura do salto foi a diferença determinante nos gols?
Vamos lá!
Em uma análise geral, podemos observar que nos dois primeiros gols a organização defensiva de bola parada da equipe da capital apresentou problemas.
Nesses momentos do jogo (bola parada defensiva), a equipe tinha como referência uma marcação individual aos pares.
No primeiro gol, o atacante Barcos (189 cm), marcador direto do atacante do Guarani Bruno Mendes (184 cm), não fez a marcação individual como deveria ser feita.
Barcos, por sua vez, não fez o treino com a forca do Felipão e tem 5 cm a mais do que o atacante do Guarani. Saltar foi o problema?
Além disso, do ponto de vista coletivo, a equipe palmeirense não apresentou relações fortes dentro do sistema – parecia que cada jogador obedecia a referências próprias, que por sua vez não eram muito bem elaboradas do ponto de vista organizacional e da lógica do jogo.
Dá a impressão de que se um atleta errar o sistema não vai conseguir se reorganizar rapidamente e corrigir o erro…
No lance houve alguns erros: no primeiro, o jogador do Guarani sobe sozinho e desvia a bola para o gol.

No rebote do goleiro, a marcação individual falha de novo e o zagueiro Neto, do Guarani, marca.

Vejam que nesse lance o jogo se resumiu a confrontos individuais. Treinado o salto vou “reforçar” a ação individual ou a ação coletiva?
Entendam que treinar o “salto” ou outra capacidade física é importante se temos a complexidade como pano de fundo, mas treinar apenas o “salto” para resolver os problemas do jogo não me parece uma ação muito boa.
No segundo gol, a marcação individual ocorre da mesma forma. Como a falta é mais próximo à linha de fundo, temos um jogador marcando por zona (bola baixa), que não ajudou muito na origem da jogada.

Na sequência, o atacante do Guarani antecipa seu marcador, e o jogador que está na bola baixa, cabeceando a bola na trave.

No rebote, a bola cai no espaço mal ocupado pela defesa (esse espaço está mal ocupado, pois a equipe do Palmeiras se preocupa em marcar os jogadores e não em controlar os espaços do jogo) e o atleta que está no rebote da equipe de Campinas antecipa o seu marcador que chega atrasado e faz o pênalti.
No terceiro gol, a jogada é de contra-ataque. Vejam que no início a equipe do Palmeiras não está estruturada para a transição defensiva na região próxima à perda da posse de bola e não há zonas de pressão nesses espaços; sendo assim, o Guarani consegue progredir no campo de jogo e aproveitar o contra-ataque.

Após conduzir a bola por muitos metros, o jogador do Guarani encontra um passe, aproveitando-se da falha palmeirense.

No fim da jogada, novamente o atacante do Guarani antecipou a defesa e marcou o gol.

Vejam que em cada um dos gols o “salto”, ou a ação motora do jogador, foi uma parte, mas não o todo!
Um ponto a ser destacado é que pela dificuldade coletiva das equipes (isso é um reflexo de nosso futebol), em muitos lances o que se pode observar são confrontos 1×1.
Será que isso é bom?
Será que esse é um sintoma de nosso olhar fragmentador sobre o jogo?
Será que por isso olhamos para o “salto” e não para o jogo como um todo?
Deixo um desafio: pense em cada um dos gols e reflita sobre como podemos corrigir os erros de forma coletiva através de atividades práticas de campo.
Nas próximas colunas, continuo essa discussão e pretendo apresentar atividades complexas para desenvolver o jogar em cada uma dessas situações.
Até a próxima!
Para interagir com o colunista: bruno@universidadedofutebol.com.br
 

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