Aos preparadores físicos (e aos demais profissionais também) – parte II

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Os acontecimentos das últimas semanas movimentaram o universo do futebol. No âmbito mundial, ocorreu a saída de Pep Guardiola do comando da equipe que deixa um legado de um bom e belo jogo. Com a mudança, além da expectativa criada sobre como será o desempenho do treinador em um novo clube, todos estão ansiosos para saber se o promovido auxiliar Tito Villanova conseguirá manter a média de conquistas do clube catalão nos últimos anos.

Já em nosso país, onde o futebol apresentado não tem deixado legado nenhum, finalistas e os primeiros campeões estaduais foram conhecidos. E, para estes times, a fórmula (divulgada através de reportagens, vídeos, conversas e outras informações) para se chegar à final é bem conhecida: muito treinamento tradicional.

Como a expressão treinamento tradicional (que compõe as periodizações físicas e a periodização integrada) já foi amplamente discutida neste portal, são desnecessárias maiores explanações.
Juntamente com esses modelos de periodização, farão parte desta discussão a Periodização Tática, criada por Vítor Frade e a qual profissionais do futebol lentamente têm buscado acesso, e também a Periodização Complexa de Jogo, idealizada por Rodrigo Leitão e com a qualainda não tive maior contato que não a leitura de sua tese de doutorado.

Somente para lembrá-los, o objetivo desta coluna, que teve a parte I publicada semanas atrás, é promover uma troca de conhecimento que leve à resolução da seguinte questão-problema: “ao longo de um microciclo de treinamento no planejamento de atividades na preparação de uma equipe, o quanto é possível ser realizado em total especificidade, portanto, jogando futebol?”.

Se a última coluna do tema continha somente algumas perguntas e, de certa forma, bastante gerais, nesta publicação acontecerá um breve “brainstorming de questionamentos e dúvidas” específicos da vertente física do jogo que, se solucionados, podem elevar e alinhar a discussão entre todos os profissionais do futebol e, consequentemente, interferir positivamente no treinamento das equipes de futebol.

O brainstorming será elaborado em função do conhecimento que tenho sobre os diferentes tipos de periodização que, obviamente, pode ser limitado diante da minha interpretação de tudo que aprendi sobre cada um dos modelos de preparação.

Na sequência, grande parte daquilo que questiono das periodizações ou que procuro respostas (e acredito que outros treinadores também):

•Por que os preparadores físicos adeptos do treinamento tradicional insistem em querer melhorar cada uma das capacidades físicas isoladamente (principalmente a força) sendo que toda e qualquer ação realizada num jogo é imprevisível e absolutamente variável? Se um dos princípios do treinamento esportivo é a especificidade, ao prescrever um treino físico “fechado” (dividido em séries, repetições, cargas, distâncias, etc.) vocês concordam que estão se distanciando do que será a realidade do jogo?

•Para estes mesmos preparadores, estes modelos de periodização preconizam poucos picos de forma física no decorrer de uma temporada. Como vocês solucionam esta questão quando, no calendário do futebol, é preciso ter pico de forma (global e, portanto, também física) até duas vezes por semana, durante várias semanas?

•Para quem aplica a periodização integrada e inicia os trabalhos com jogos reduzidos, por que a preocupação ainda se incide nos aspectos exclusivamente físicos da modalidade? Ao fazer o atleta treinar com “intensidade”, porém, correndo muitas vezes “errado” não estou criando hábitos que se manifestarão no jogo formal?

•Já existem diversas publicações científicas que apontam melhoras das capacidades condicionantes a partir do método integrado; então, existe a possibilidade de quem o aplica dar um passo à frente e ao invés de partirem da necessidade física que sua equipe precisa evoluir para elaborar o treino, partirem da necessidade coletiva de acordo com os diferentes momentos do jogo e de acordo com o Modelo de Jogo pretendido e então identificarem qual (e como) o metabolismo será exigido?

•Diversos exercícios observados em materiais de quem aplica a Periodização Tática, por mais que tenham relação com o Modelo de Jogo, consistem na execução de estímulos realizados com grau inexistente de imprevisibilidade. Estes exercícios, realizados com regimes de tensão, duração e velocidade de contração ajustados ao morfociclo padrão também não podem ser considerados distantes do jogo de futebol?

•O morfociclo padrão da Periodização Tática preconiza predominância distinta de contrações musculares nos diferentes dias aquisitivos no decorrer da semana para descansar as estruturas estimuladas no dia anterior. Existe a possibilidade de ser comprovado em algum estudo (ou já existe algum) que estimular as mesmas estruturas em dias consecutivos é prejudicial?

•Quem aplica a Periodização Tática poderia buscar um meio de controlar a carga de treino de modo que ela tenha maior aceitação da ciência objetiva?

•A Periodização Tática e a Periodização Complexa de Jogo desconsideram a musculação na preparação do futebolista. Para a segunda, exercícios de preventivos de fortalecimento e proprioceptivos são necessários. Qual é a opinião de quem aplica a Periodização Tática?

•Como a Periodização Complexa de Jogo define o seu microciclo (que vi publicado até então somente no Resumo Inteligente da Universidade do Futebol), e mais especificamente, em relação a vertente física do jogo?

•Para a Periodização Complexa de Jogo, atletas com diferenças significativas de massa magra devem treinar musculação visando aumento de volume muscular?

•Para a Periodização Complexa de Jogo, é possível aplicar estímulos com caráter físico semelhante em dias consecutivos?

•Como a Periodização Complexa de Jogo avalia e controla a evolução da vertente física da sua equipe?

Algumas questões são bem repetitivas, porém, pelo que se observa na prática, precisam ser instigadas constantemente. Já alguns outros pontos são mais atuais e vão de encontro ao que deve ser a tendência no treinamento em futebol. Quanto mais pessoas forem atingidas com as questões acima e estiverem dispostas a discutir e buscar soluções, mais rapidamente observaremos a evolução do futebol brasileiro.

Como pode ser observado, o preparador físico jamais será extinto do futebol. Como mencionado em outra ocasião, terá nova função carregada de complexidade.

Nesta coluna deixo mais perguntas do que respostas. No entanto, para a pergunta feita inúmeras vezes pela imprensa esportiva nos últimos dias sobre a vinda do ex-técnico do Barça ao Brasil para melhorar nosso futebol, a resposta é clara: Guardiola está longe de poder solucionar nossos problemas.

Conto com a sua ajuda, leitor. Obrigado!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

Leia mais:
Aos preparadores físicos (e aos demais profissionais também) – parte I

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