O Corvo

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Conhece alguém que sente azarado, ou que é tido pelos outros como tal?

Aquela pessoa para quem tudo acontece de errado?

Ou nunca, nada, acontece?

Ainda, naquilo que se envolve também costuma não “vingar”?

Como existem muito mais coisas entre o céu e a terra que nossa vã filosofia pode imaginar, assim como “no creo en brujas, pero que las hay, las hay”, sim, tem gente que anda com o corvo sobre os ombros.

O corvo é tido como símbolo de clarividência, em especial do mau agouro, dos maus presságios – embora estudos recentes apontem que o animal dispõe de traços de instintos apurados de sobrevivência e adaptação.

Apelar para o inexplicável, ou para a sucessão de coisas inexplicáveis na vida pessoal e profissional, como justificativa para que as expectativas se confirmem em verdadeiras frustrações é o que muita gente adota.

“Só acontece comigo”, “nada vai dar certo”, “não tenho sorte”…

Muito daquilo que o folclore do futebol vinculava ao Botafogo, ao cravar que as coisas pesadas, negativas, sofridas, só aconteciam com o clube.

São frases que traduzem pensamento e, principalmente, atitude de derrotado na véspera dos acontecimentos.

Bastou o Botafogo, já há alguns anos, implantar gestão profissional, ter o estádio João Havelange como casa, passar por grande revolução no marketing e comunicação, disputar títulos regionais e nacionais, que os comentários que invocavam o sobrenatural para os infortúnios do clube cessassem.

Muito daquilo que fazemos de nossa vida pessoal e da atividade profissional depende de nossas escolhas, de nosso preparo, de nossa atitude.

Obviamente, o talento também tem sua parte inata, que vem de berço.

“Nasceu pra isso” é a frase que se houve nesse caso.

Nascer pra isso e esperar que todo o restante, também, venha, aleatoriamente, é arriscado demais.

A dedicação, o preparo, o treinamento, a qualificação e o aperfeiçoamento técnico-funcional são imperiosos para que o resultado venha para uma pessoa, ou para um grupo de pessoas, reunidos em torno de uma instituição.

Picasso, uma vez perguntado como ele fazia para produzir suas obras maravilhosas, respondeu: “São 24 horas trabalhando”.

E, na máxima do futebol, que afirma que “o craque tem sorte; o perna-de-pau tem azar”, percebemos que o corvo não costuma pairar sobre os ombros errados, mesmo.

Aliás, conheço um cara que sim, esse sim, não só carrega o corvo consigo, mas também faz a ave negra e reluzente passear pelo ombro de quem estiver por perto de qualquer coisa em que esteja envolvido.

“Craque” no que faz, ele não é.

Isso deve ser o começo de alguma explicação. Deste mundo, não do além.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br
 

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