Caros leitores,
Quando defino o cronograma das minhas publicações, confesso que sinto dificuldade em distribuir os temas de modo que o conteúdo seja atrativo tanto para os leitores que estão mais adaptados à compreensão do futebol sob uma ótica complexa, como para aqueles em que a visão é fragmentada ou então somente integrada.
Sendo assim, peço que os leitores mais avançados contribuam com suas opiniões em colunas que julgarem simplificadas para que numa troca de e-mail possamos alavancar a discussão, e que os leitores menos habituados em relação aos temas me enviem feedbacks sobre a compreensão (ou não) do assunto.
Sugiro, também, que estes leitores dediquem (e ganhem) parte do seu tempo com os inúmeros materiais disponíveis na Universidade do Futebol, em formato de cursos, colunas, entrevistas e aulas gratuitas, para seu aperfeiçoamento profissional.
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Sobre os feedbacks que tenho recebido dos leitores, muitos têm mencionado a importância de exemplificar os temas explorados e, se possível, simplificar a sua explicação. Concordo com estas opiniões, pois, mais do que elitizar o conhecimento e deixá-lo acessível somente a um pequeno público precisamos, para o bem do futebol, disponibilizar facilitadamente todas as informações que tivermos para, quem sabe, observarmos as urgentes transformações práticas necessárias. Portanto, instigá-los com os conhecimentos que adquiro é, ao menos, um dos meus objetivos.
Um tema que, indispensavelmente, necessita compreensão para pensar o futebol complexamente é o conceito de fractal. Seu entendimento faz com que a concepção do treino, que reflete diretamente no jogo, somente faça sentido se for operacionalizada sistemicamente.
Explicar (e exemplificar) este conceito será o tema desta coluna.
Tradicionalmente, o treino de futebol é divido em quatro partes que treinadas isoladamente melhoram o todo, ou seja, o jogar da equipe.
Sabidamente, para treinar o físico, existem os treinos de força, velocidade e resistência. Para aprimorar o técnico, são realizadas a exaustão os lançamentos, passes, chutes e cabeceios em treinos de finalização, aquecimentos com fundamentos ou quaisquer outras atividades exclusivamente técnicas. Para treinar o tático, comumente, retiram-se os adversários (em alguns casos já vi até tirarem a bola) para combinar os movimentos e as jogadas a serem realizadas no jogo. Já o treino psicológico é de responsabilidade da psicóloga.
Na visão integrada, algumas partes são treinadas conjuntamente, estabelecendo-se, então, treinos físico-técnicos, técnico-táticos, ou até, físico-tático-técnicos, porém, sem uma interação global.
E a falta da interação global (sistêmica) é o grande problema de todos estes treinos! Por terem origem fragmentada ou, no máximo, integrada, suas execuções não são fractais do jogar da equipe.
Por definição, um fractal é um objeto geométrico que pode ser dividido em partes, cada uma das quais semelhante ao objeto original. Traduzindo para o futebol, um treino fractal é aquele que é parte do objeto original, ou seja, do jogo de futebol, mais especificamente, do jogo de sua equipe.
É esta ideia que permite a afirmação de Rodrigo Leitão de que o jogo de futebol é técnico-tático-físico-mental ao mesmo tempo, o tempo todo, para todos os jogadores.
Posto isso, quando optamos por separar o treino de futebol em partes (procedimento inevitável, caso contrário faríamos somente coletivos), este treino (ou esta parte) deve conter todos os elementos que constituem o jogo.
Dessa forma, as partes treináveis do futebol deixam de ser as partes física, técnica, tática ou psicológica isoladamente e passam a ser as partes fractais (que contém o físico-tático-técnico-psicológico), que representam o todo, sejam elas individuais, grupais, setoriais, intersetoriais ou coletivas.
Se o conceito sobre os fractais realmente for aprendido, os treinos analíticos (de qualquer uma das vertentes) nunca mais farão sentido. Sob esta mesma ótica, aproveito para questionar alguns exercícios da Periodização Tática que, apesar do conteúdo teórico ter como pré-requisito a organização fractal, por não serem jogo (apesar de ter relação com o Modelo de Jogo), classifico-os como fragmentos e não fractais do todo.
Concluindo: ter que decidir para resolver problemas circunstanciais é a tônica do jogo de futebol. Nos treinamentos, quanto mais os atletas estiverem expostos aos problemas que poderão surgir nos jogos e mais assertiva for a intervenção do treinador para auxiliar os jogadores a solucioná-los, maiores serão as possibilidades de sucesso na competição. Está em suas mãos: decida pelas partes desconectadas do todo ou por aquelas que representam o jogo. Espero que um dia deixem de fragmentar nosso futebol!
Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br