O estádio Mané Garrincha será sede da capital brasileira na Copa do Mundo 2014 e também será um dos mais caros e mais questionados (pelo mesmo motivo) pela população. Numa cidade como Brasília, planejada e, por isso, com área destinada ao esporte, a inserção e ampliação do complexo do estádio se deu tranquilamente, sem nenhuma obstrução de edificações vizinhas, como outras cidades-sede.
Consigo enxergar uma inspiração do novo estádio na arquitetura de Brasília. Mais precisamente comparando a cobertura com a Catedral metropolitana de Brasília (foto abaixo), mas, segundo o próprio autor, Eduardo de Castro Mello, o estádio em geral também faz referência ao estádio de Berlim, ao Palácio da Alvorada e ao Palácio do Planalto.
Já um pouco modificada desde a apresentação inicial, atualmente o estádio apresenta uma cobertura mais com a cara ainda de Brasília, como podemos ver abaixo:
* O telão centralizado não será mais disponibilizado por questões financeiras e agora serão dois localizados atrás dos gols.
O aspecto e apelo plástico do estádio são bastante condizentes à arquitetura de Brasília e somente fortalecerá o turismo que vai à cidade para conhecê-la como a cidade modernista que marcou a história do Brasil.
É interessante salientar a proximidade do campo em alguns trechos, como podemos ver pela imagem abaixo, onde o banco de reservas fica emendado com o anel da arquibancada inferior:
Para isso, deve ser estudada somente a questão da segurança no que diz respeito à invasão do campo. Geralmente algum obstáculo, de preferência não visual, para que dificulte o acesso ao campo e que facilite a ação dos seguranças – como gradis horizontais em anel ao longo da arquibancada, abaixo da mureta da arquibancada. Neste caso, fica mais difícil; então, a solução deve ser vista de outra forma a garantir que a desordem não tome conta do Mundial e posteriormente de nossos campeonatos.
O escritório responsável é o Castro Mello Arquitetos, autor responsável pelo projeto original e único autorizado a mexer no projeto devido sua importância, agora liderado por Eduardo de Castro Mello e seu filho Vicente de Castro Mello. Ambos trabalham com Ian McKee, e este junto a Vicente luta bastante pela certificação LEED e consciência da sustentabilidade das construções para a Copa.
Neste sentido, é óbvio que o estádio de Brasília é o que deve servir como exemplo de sustentabilidade, visando o selo máximo (Platinum) e buscando a certificação que dignifica o equipamento como edificação verde.
Para a construção da arena devem ser usados materiais recicláveis ou reciclados e o estádio terá uma cobertura que tem material que auxilia na limpeza do ar. A cada hora de sol, a decomposição de óxidos de nitrogênio (NOx) será capaz de ter o efeito de tirar do ar o equivalente a 104 carros ou 75 caminhões poluidores. Energia também será produzida pelo estádio e deverá abastecer cerca de mil casas por dia.
Haverá a captação da água de chuva por meio de calha interna na cobertura em anel que direcionará a água para quatro pontos estratégicos de escoamento por gravidade até o anel mais baixo do estádio. No entanto, isso só parece funcionar com a cobertura aberta. De qualquer forma, toda a água coletada estima-se que deve ser responsável por 80% do uso total do estádio.
O entorno do estádio receberá projeto paisagístico de Benedito Abbud, renomado profissional, com símbolos da flora brasileira como o pau-brasil, ipê amarelo e outras espécies do cerrado. Podemos observar também que o paisagismo, por meio das cores das plantas, colabora com o sistema radial de dissipação do público, facilitando junto à arquitetura em si, para uma melhor distribuição das pessoas na saída dos jogos e orientação pelo estacionamento.
O piso das calçadas é totalmente drenante, baseado em uma experiência do paisagista para uma calçada acessível e sustentável, e é trabalhado também junto às leis vigentes de acessibilidade.
Ao falar em acessibilidade, devo salientar que a proposta do escritório permite vagas para cadeirantes e obesos em vários pontos diferentes do estádio, possibilitando uma gama de visibilidade diferente e sem segregar o público. No entanto, o estádio disponibiliza somente uma vaga para acompanhante, o que, muitas vezes, é de reclamação deste público, por limitar a atração para uma dupla.
A circulação interna é baseada em oito rampas, o que facilidade bastante na mobilidade de pessoas com dificuldades e o acesso mais facilitado é em nível direcionando à parte superior do anel inferior como vemos no corte abaixo. Inclusive essas facilidades de locomoção ajudam bastante a ampliar o público e garantir o direito da população também para as visitas guiadas que o estádio poderá fazer depois da Copa.
Já nos detalhes abaixo, a ênfase está no bloqueio em vidro de alta resistência para que não hajam acidentes de queda, mas que permitam total visibilidade sem obstrução alguma. O desenho da arquibancada também garante que a visibilidade de um cadeirante não seja interrompida por alguém que fique em pé logo abaixo.
De qualquer forma, em Copa do Mundo o público geralmente assiste aos jogos sentados, prática comum fora do Brasil. Como será aqui no Brasil? Mantendo o respeito às cadeiras e a quem não consegue ver em pé ou mantendo a tradição?
Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br
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