Antes de iniciar as discussões acerca do tema desta semana, gostaria de parabenizar a iniciativa de alguns profissionais do futebol que têm utilizado as redes sociais para a troca e propagação de conhecimento relativo a uma das tendências metodológicas do treinamento em futebol, mais especificamente da Periodização Tática.
Tenho acompanhado muitas das atualizações, porém, não tenho comentado por já possuir um espaço em que posso, de certa forma, colocar minha visão do mundo, ou melhor, do futebol. Além disso, não seria correto opinar e não ter tempo suficiente para avançar em discussões.
O fato é que se nota, nas leituras que faço cotidianamente, a intenção positiva dos profissionais em propor algo mais ao nosso futebol que, também notoriamente, está clamando por melhorias.
Em certos momentos percebi que alguns assuntos foram tão polêmicos a ponto de gerarem comentários mais ásperos. Penso que a divergência de opiniões é fundamental para o crescimento de todos e não há nada melhor que bons argumentos (teórico-práticos) para enriquecer e contribuir na eterna formação que deve ser nossa existência. Sugiro, apenas, como seres humanos que somos (nunca agindo somente racional ou emocionalmente), que reflitam ao optarem por reações equivocadas (colocações ásperas) que somente limitam a construção de um novo futebol.
E agora, iniciando o tema e buscando constantemente a construção de um novo futebol, lanço a seguinte pergunta: como você treina a vertente emocional de sua equipe?
Quando alguém joga futebol, representa em cada ação seu comportamento tático-técnico-físico-emocional diante dos problemas impostos pelo jogo. Para problemas semelhantes, na grande maioria das vezes, os atletas apresentam respostas também semelhantes. Exemplificando, aquele atleta que se omite do jogo quando a situação está adversa (problema) continuará se omitindo (resposta) na maioria das vezes que tal situação se repetir.
E como sabemos, a omissão não é o único comportamento evidenciado em uma partida. Diferentes situações como, torcida, placar do jogo, decisão do árbitro, cobrança de companheiros, atitudes do rival, local do campo, jogada anterior, peso da competição e tradição do adversário, potencializam o desencadeamento de inúmeras reações emocionais (e não só emocionais) em cada um dos participantes de um determinado jogo. Além de omissão, possivelmente por medo, raiva, confiança, insegurança, euforia, nervosismo, ansiedade, coragem e tranquilidade são exemplos de alguns comportamentos emocionais manifestados pelos seres que jogam.
Para você que é treinador de um clube de categoria de base, quantos jogadores de sua equipe “sentiram o jogo” ao enfrentarem um clube grande?
Outra pergunta, mais especificamente para quem trabalha com algum rebelde, quantas vezes este atleta se desligou do jogo após uma cobrança sua ou dos companheiros de equipe?
E você, que assistiu à final dos Jogos Olímpicos? Reparou em comportamentos emocionais distintos (com o placar desfavorável) dos evidenciados ao longo da competição?
Então, qual é o método de treino capaz de aproximar os problemas (não só emocionais) do jogo no treino? O método que utiliza jogos, obviamente.
Como o treinamento com jogos utiliza fractais do futebol para preparar a equipe, a essência e os pressupostos do jogo (desequilíbrio, imprevisibilidade, desafio e representação) são mantidos. Dessa forma, os atletas continuamente são expostos (no treino) aos problemas que podem (e vão) se repetir no jogo.
Infelizmente, não conseguimos recriar no ambiente de treino a totalidade das características que envolvem um jogo oficial, mesmo assim, a possibilidade de confrontar a todo o momento erros e acertos da equipe, vantagem e desvantagem no placar, erros e acertos do árbitro (técnico), ou até o comportamento nas transições ofensivas e defensivas, permite uma leitura precisa de cada um dos atletas.
Com a leitura desta vertente da equipe em mãos, a comissão tem mais uma boa ferramenta para periodizar o seu jogar.
Concluindo, não confundam a discussão do tema com a dispensa do psicólogo no grupo de profissionais que integra uma equipe. Acredito que seu papel é de uma assessoria na educação (eterna formação) do indivíduo para além do desporto. É a profissão que nos orienta para o autoconhecimento. Tema (quem sabe) para uma coluna futura.
Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br