Em um jogo de futebol, a todo instante a variação dinâmica do posicionamento da bola, dos companheiros e dos adversários faz surgir, instantaneamente, uma readequação da estruturação individual e coletiva do espaço.
A variação dinâmica de qualquer natureza tende a gerar microdesequilíbrios organizacionais, tanto para a equipe que tem a posse da bola, quanto para sua adversária.
Sob o ponto de vista da estruturação do espaço, a lógica de reorganização dinâmica da equipe para manutenção de um equilíbrio posicional (defensivo e/ou ofensivo) pode ocorrer, ou de forma simétrica ou de forma assimétrica (LEITÃO, 2009; 2012).
Em geral, tanto a lógica de reorganização simétrica quanto a assimétrica independem da simetria ou assimetria geométrica da estruturação do espaço da equipe.
Isso quer dizer, em outras palavras, que para uma ocupação espacial simétrica do espaço, pode haver uma lógica interna de movimentação dos jogadores, simétrica ou assimétrica. O mesmo vale se a ocupação do espaço também for assimétrica.
Vou tentar exemplificar então, no texto desta semana, a partir de uma estruturação espacial defensiva zonal, o funcionamento de uma lógica interna de reorganização coletiva simétrica, e uma assimétrica.
Vejamos a Figura 1.
Temos nela (na Figura 1), a “equipe amarela” estruturada no 1-4-3-3.
Acrescentaremos uma equipe adversária (branca), de posse da bola, atacando pelo lado direito da defesa do time amarelo (Figura 2).
Com a bola pela esquerda da defesa, a equipe amarela flutua zonalmente para o lado dela (da bola).
A linha de ataque formada pelos jogadores 11, 9 e 7 (do time amarelo) mantém uma relação espacial entre eles, porém diminuindo a área do triângulo virtual formado no campo de jogo (Figura 3). O jogador número 9 assume um posicionamento especial para evitar que o time adversário consiga voltar a bola para trás (ele fecha o passe no jogador 3 do time branco).
Toda flutuação da equipe amarela tenta manter a geometria desenhada pelo 1-4-3-3.
Se a bola consegue ser circulada pelo adversário (equipe branca), saindo da direita do seu ataque, passando pelo centro, para depois chegar do seu lado esquerdo, deverá a equipe amarela (que se defende) flutuar de maneira a manter suas linhas do esquema tático, bem definidas.
Então, conforme podemos observar nas Figuras 4 e 5, quando a bola muda de lado, basta que as linhas da equipe que se defende, mantendo sua geometria, desloquem-se no campo de jogo, da esquerda para a direita.
Com a bola na direita da defesa, respeitando a mesma lógica defensiva que estava presente no lado esquerdo, mais uma vez a linha de ataque diminui a área do seu triângulo virtual, com o jogador número 9 “fechando” o passe do adversário para trás.
Toda essa lógica interna de reorganização dinâmica em função da posição da bola é uma lógica simétrica para a estruturação do espaço.
Isso é caracterizado pelo fato de que os jogadores das linhas de defesa, meio-campo e ataque não precisam mudar de posição entre si dentro da sua própria linha ou entre as linhas para poder manter a ocupação desejada do espaço (durante toda a dinâmica os jogadores 2, 3, 4 e 6 permanecem na linha de defesa, os jogadores 5, 8, e 10 permanecem na linha do meio campo, os jogadores 7, 9 e 11 permanecem na linha de ataque, e o goleiro mantém sua posição principal).
Agora, vejamos, para a mesma situação incial, e para a mesma estruturação do espaço, outra dinâmica de ocupação espacial.
Mais uma vez, a bola está do lado esquerdo da equipe amarela que se defende (Figura 6).
Mais uma vez o jogador número 9 da linha de ataque do time amarelo se posiciona para fechar o passe para trás da equipe branca.
Agora começa (didaticamente falando) a assimetria (Figura 7).
Quando a bola consegue ser circulada ao centro (pela equipe branca), ao invés do jogador número 9 (amarelo) correr para a faixa central, ele entra na linha do meio campo da sua equipe, pelo lado esquerdo.
Ao mesmo tempo sai para a linha de ataque o jogador número 8 (que pertencia à linha do meio-campo) – permanecendo nela (na linha de ataque).
Essa troca de posição, aparentemente mais racional sob o ponto de vista do deslocamento no campo de jogo, leva a mudanças posicionais constantes, de maneira que, para cada vez que a bola alterna de uma faixa para outra do campo de jogo, novos jogadores saem de uma linha para a outra.
Se a bola sai da faixa central e vai para a faixa direita da defesa da equipe amarela, dentro da assimetria estabelecida pela equipe, emerge uma simetria, pois após a mudança de linhas entre os jogadores de ataque e meio-campo, eles permanecem em suas novas posições sistêmicas (Figura 8).
No entanto, podemos observar (ainda na Figura 8) que ainda que esteja mantida a geometria do 1-4-3-3 zonal, estão diferentes as interações entre os jogadores 7, 9 e 11, e entre os jogadores 5, 8 e 10; porém não entre as linhas de defesa, meio-campo e ataque.
Com uma lógica interna de reorganização assimétrica, para manutenção equilibrada do espaço, é então de se esperar, que caso a bola saia agora da faixa direita de defesa da equipe amarela, em direção à faixa central, mais uma vez com uma troca, possivelmente o jogador número 8 (que agora na Figura 8 está fechando o passe para trás) entrará novamente na linha do meio-campo (por fora, pelo lado direito), e assumirá a faixa central na linha de ataque, o jogador número 11.
E, assimetricamente falando, por hoje é isso…
Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br