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Fui ao espetacular show de sir Robert Plant neste fim de semana. Muitas memórias de adolescência vieram à tona, pois o rock and roll clássico do Led Zeppelin marcou algumas das experiências e momentos dessa época de descobertas e incertezas.

Naturalmente, esperava-se que Plant desfiasse o repertório de músicas da banda que o consagrou como vocalista.

Não foi o que se viu. Para um respeitável senhor de 64 anos, foi um show de bastante intensidade e energia, mas a plateia pode conhecer músicas do próprio Plant, todas muito bem conduzidas pela banda que o acompanha, The Sensational Space Shifters.

A banda conta com músicos de primeira linha, mas um dele roubou a cena: Juldeh Camara, africano (pelo que entendi, de Gâmbia), que tocou dois instrumentos típicos do continente e que se encaixaram perfeitamente à experiência vanguardista de Plant em misturar rock com tais infusões sonoras.
 


 

Plant tem se negado a ficar refém e escravo do legado do Led Zeppelin. No show, foram apresentados temas da banda, com essa pegada distinta e rica.

No futebol brasileiro, alguns dogmas, hábitos, costumes pautam o comportamento de muitos profissionais. Isso é decorrente da visão de curto alcance que se tem do futebol.

Enxerga-se longe quando o assunto é exaltar conquistas e feitos do passado. Um saudosismo, uma nostalgia, paralisantes, que impedem a introdução do novo – sejam ideias, pessoas e processos de gestão.

Plant rompe com o mecanismo que lhe permitiria ficar eternamente preso àquilo que ele mesmo construiu, mas que já não serviria mais se fosse sempre realizado.

Paulinho da Viola, na introdução da música “Meu mundo é hoje”, diz que “não vive no passado; o passado vive em mim”.

Jamais conseguiremos, ainda que queiramos, renegar a história, pois ela nos acompanhará sempre, em versões contadas pelos outros ou por aquelas que construímos.

Esse tipo de autoanálise, no espelho, ainda precisa melhorar muito no futebol brasileiro.

Assim, vamos evoluir com consistência e fundamento. Adaptar-se para evoluir. Darwinismo puro.

Simplesmente, confrontar ou negar o passado e o presente é sinal de teimosia involutiva. Para mim, Robert Plant merece o título de “sir”, porque se nega à paralisia, vive em movimento uniformemente variado.

Poderia ficar na Inglaterra, no seu chá com bolachas e vivendo dos royalties do Led Zeppelin. Esperando descer sua “Stairway to Heaven”. Prefere rodar o mundo fazendo boa música e compartilhando essa energia.

Nosso futebol precisa rolar muitas pedras ainda para alcançar esse estado de espírito que o rock consegue provocar.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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