As melhores equipes do futebol mundial apresentam a grande capacidade de todos os seus atletas lerem o mesmo jogo, inclusive em circunstancias potencialmente caóticas. Um meio de aperfeiçoar a inteligência coletiva para estas situações é expor, nos treinamentos, os mais variados problemas em situações de jogo afim de que, em competição, a resposta pretendida pelo treinador seja eficazmente aplicada.
Mais do que abordagens, orientações e cobranças para os comportamentos de transição defensiva, criar jogos que, para vencê-los, seja necessário um bom nível coletivo de recuperação imediata da posse ou recuperação a partir de determinada(s) referência(s) do jogo (que são as duas referências operacionais possíveis) é indispensável. Com a criação de um ambiente imprevisível, aumentam-se as possibilidades de dar maior ordem à desordem que a perda da posse gera em uma equipe.
Para auxiliá-los na elaboração de treinamentos que enfatizem esse momento do jogo, a coluna desta semana irá apresentar algumas opções de regras que, como já foi abordado nas colunas anteriores sobre este tema, se bem distribuídas nas formas de pontuação do jogo, podem ser uma ótima ferramenta para construir o jogar pretendido.
Então, para treinar a recuperação imediata da posse de bola, as seguintes regras podem ser utilizadas para compor o jogo:
• Após a perda da posse de bola no campo de ataque, estabelecer um tempo entre 5 e 10 segundos para que a equipe que perdeu a bola recupere a posse caso contrário o adversário recebe uma pontuação. Esta regra faz com que a equipe que perdeu a posse busque-a novamente o mais rápido possível, além de proporcionar um ambiente de cobrança mútua uma vez que a não recuperação acarreta em ponto para o oponente. Na sequência da jogada, caso a bola saia para lateral ou linha de fundo antes do término da contagem, zera-se a mesma e o jogo segue sem que ocorra pontuação para esta jogada;
• Na medida em que este comportamento se aperfeiçoar a regra pode ser estendida para todo o campo com algumas adaptações. Caso a perda da posse ocorra no campo de ataque, inicia-se a contagem. Porém, o adversário só irá pontuar se, após o tempo pré-determinado, tiver ultrapassado o meio de campo. Se a perda ocorrer no campo de defesa, inicia-se a contagem, no entanto, só valerá a pontuação caso a posse de bola se mantenha no setor ofensivo. Estes ajustes fazem com que a equipe que recuperou a posse não adote um comportamento de retirada da zona de pressão que fuja à lógica do jogo.
• Outra sugestão é adotar um tempo menor para as perdas de posse de bola ocorridas no campo de defesa em comparação as ocorridas no campo de ataque;
• Dividir o campo em vários quadrantes e beneficiar com um ponto a equipe que perder a posse de bola no campo de ataque e conseguir recuperá-la no mesmo setor que havia perdido.
• Com o cumprimento desta regra em um nível ótimo, as regras do jogo podem evoluir para a pontuação somente se houver um grupo de dois ou três jogadores no setor em que se recuperou a posse, direcionando as abordagens para a importância de um mecanismo coletivo e não individual de transição defensiva. Em estágios avançados, com o campo dividido em faixas horizontais e verticais, a pontuação pode ser dada somente se a equipe conseguir fazer o “campo pequeno a defender” simultaneamente a tentativa de recuperação da posse. Para verificar o posicionamento coletivo que vale a pontuação, pode ser definido um número máximo de faixas verticais e horizontais consecutivas que os jogadores devem ocupar. É uma excelente regra para transmitir o conceito de unidade complexa (não precisa utilizar este termo com os jogadores) à equipe. Pressionar a região que se encontra a bola e diminuir os espaços no interior da equipe é muito eficaz desde que todos os jogadores compreendam quais são suas ações de acordo com o posicionamento da bola, adversário, alvo, região do campo e companheiros. Manter todos estes elementos e criar situações de jogo que valem ponto quando realizados os adequados comportamentos coletivos, reforçam as ideias de jogo do treinador.
Percebam a diversidade de jogos com níveis de complexidade diferentes que podem ser elaborados somente para um momento do jogo e, mais especificamente, referentes a um comportamento de transição defensiva. Para a recuperação a partir de outras referências do jogo existem várias possibilidades e que serão sugeridas em outra oportunidade.
Para concluir, muitos podem questionar qual das duas opções é melhor treinar. De acordo com alguns estudiosos do futebol, a princípio, não existe comportamento de transição melhor ou pior. Depende, somente, do jogo que você quer (ou pode) jogar.
Só não vá fazer como alguns treinadores que nas transições defensivas de suas equipes saem aos berros cobrando comportamentos que não treinou. No jogo pode ser tarde demais! Decida-se e treine. (com as regras certas que favoreçam a dinâmica do seu jogo).
Abraços e até a próxima semana!
Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br