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Já há um bom tempo, as melhores práticas de gestão corporativa impulsionam, dentro das instituições, a compreensão da posição privilegiada que estas ocupam na sociedade e que, uma vez conscientes do seu papel, promovam a chamada responsabilidade social corporativa.

Convencionou-se dividir a sociedade, nesse sentido, em primeiro setor (o Estado), segundo setor (a iniciativa privada) e terceiro setor (as organizações não-governamentais/ entidades da sociedade civil) para melhor se delinear as nuances.

Muito do desenvolvimento socioeconômico de um país depende do grau de articulação e engajamento dos três setores na criação e execução de programas variados, voltados à saúde, à educação, à cultura, ao esporte.

Com efeito, os clubes de futebol são importantes instituições que ocupam esta posição social privilegiada, para além daquilo que acontece, eminentemente, dentro do campo e das competições por eles disputadas.

Mais ainda do que representarem, para muitos jovens, a oportunidade de ascensão social e econômica para toda a família, os clubes de futebol têm, na comunidade em que estão inseridos, a origem e a razão de sua existência, pois a influenciam e por ela são influenciados.

Clubes de futebol personificam e incorporam ideologias, crenças, símbolos e aspectos culturais em dada cidade, estado, região, país.

E, por tais razões, gozam de imenso potencial de engajar a sociedade em atividades e iniciativas que extrapolam sua essência meramente esportiva e competitiva. Existente, pois, esse elo entre comunidade e clube, a força motriz para o desenvolvimento de programas de responsabilidade social corporativa no esporte encontra terreno favorável.

E o que isso tem a ver com o futebol brasileiro?

Tudo, uma vez que se discute, no seio do Ministério do Esporte, a possibilidade da criação de um grande programa de anistia financeira a grande parte dos passivos acumulados pelos clubes de futebol, exigindo-lhes, em contrapartida, dentro outros, a criação e execução de programas de inclusão social por meio de atividades esportivas.

Na Inglaterra, a responsabilidade social corporativa dos clubes de futebol existe, fundamentalmente, a partir de 1981, quando tensões raciais na periferia das maiores cidades do país levaram o governo Thatcher a lançar o programa de inclusão social denominado "Action Sport", que incentivava a prática esportiva.

O governo mapeou a ociosidade de algumas instalações esportivas do país, ao mesmo tempo em que reconheceu nos clubes o grande potencial de engajamento, coesão e identificação social e lhes convocou a aderir ao programa.

Nesse tempo todo, a evolução da natureza e da qualidade dos programas executados apontou para que fossem classificados nestas categorias: educacionais; esportivos; de inclusão social; de integração cultural; familiares; saúde; assistência social/beneficência.

Para que se tenha uma referencia mais precisa, dos 20 clubes da Premier League, em 2011-2012, todos mantinham programas de responsabilidade social corporativa, totalizando 355 programas.

Média de quase 18 programas sociais por clube.

O Chelsea FC, clube com maior número de programas (44), em 2005-2006 investiu 2.8% do orçamento (4.4 milhões de libras) em responsabilidade social corporativa: 3 milhões para investimentos comunitários; 1.3 milhões para assistência social/beneficência; 200 mil crianças participaram dos programas educacionais do clube e foram doadas 573 mil libras para mais de 700 famílias cujos filhos necessitavam de tratamento contra o câncer.

Espero que todos nós – incluo-me nessa luta – consigamos fazer com que o futebol brasileiro alcance esse patamar de verdadeira responsabilidade social corporativa no esporte.

E que o Governo Federal e o Ministério do Esporte exijam essa contrapartida social dos clubes como sendo a construção de um verdadeiro marco de governança e sustentabilidade corporativa.

A sociedade já deu demais ao futebol brasileiro. Chegou a hora de receber.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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