Xico Sá, brilhante, publicou ontem, durante o jogo amistoso entre Brasil e Inglaterra, em seu Facebook: "Se tivesse aqui no Maracanã hj, Nelson Rodrigues diria: ñ há um desdentado, só gente c/ saúde dentária de artista de cinema” (sic).
O Brasil tem 30 milhões de desdentados. Destes, 8 milhões não tem nenhum dente na boca.
Para a maioria de nós, problemas dentários se resumem à dor, a algo estético que pode ser mais facilmente corrigido com aparelho, a um acidente (inclusive no esporte) que faça quebrar ou perder um dente.
Nada que nos dificulte os caminhos para viver e desfrutar a vida plenamente na sociedade. Ainda, 45% da população não têm acesso a material de higiene bucal (escovas, pastas, fio dental).
E, somente, 70 milhões de brasileiros tem, em suas casas, acesso à água fluoretada, capaz de reduzir em 60% os riscos de cáries. Todos estes são dados do Ministério da Saúde de outubro de 2012.
Logicamente, este cenário evidencia uma grande questão de saúde nacional a ser enfrentada. Em contrapartida, temos 20% dos dentistas de todo o mundo. Mais que a soma de EUA e Canadá. Um dentista para cada 838 brasileiros – o triplo do que recomenda a OMS.
Como costumo dizer, o Brasil possui grande déficit de cidadania, sendo esta questão como mais um dos seus fatores. Acessibilidade e inclusão: duas palavras importantíssimas nesse contexto.
Quais as dificuldades que uma pessoa sem dentes enfrenta na busca por emprego? Quais os reflexos disso na saúde mental, na auto-estima, no convívio social?
Todos os quase 80 mil ingressos foram ocupados para o jogo de reabertura do Maracanã. De fato, um estádio lindíssimo, multicolorido, reformado totalmente, uma grande festa, pese toda polêmica que o antecedeu.
São quase 5000 mil cadeiras destinadas aos portadores de necessidades especiais, numa clara e moderna política de acessibilidade e inclusão no esporte, que já acontecem na Europa e nos EUA.
Os novos estádios construídos, no Brasil, para a Copa do Mundo, devem estimular ainda mais esta tendência – ou dever do Estado e de todos – de garantir o binômio acesso e inclusão social através do esporte, contribuindo para o desenvolvimento do país e, também, criando um círculo virtuoso para a indústria esportiva.
Meu pai, comerciante do setor de autopeças, contava que um cliente, dias atrás, queria incrementar seu caminhão e gastou uma boa quantia de dinheiro.
Não tinha alguns dentes na boca. Mas, com o desenvolvimento econômico do Brasil, tinha conquistado, com o trabalho, o dinheiro para equipar melhor seu caminhão, e assim decidiu.
O grande desafio do Brasil, agora e cada vez mais, é oferecer alternativas de acesso e inclusão social às pessoas, para que, tal qual o caminhoneiro, possam decidir se se sentarão nas arquibancadas do Maracanã ou se investirão na saúde bucal.
Quem sabe, um dia, as duas opções sejam possíveis…
Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br