Copa das manifestações

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Nem tanto radical tampouco conformista. Esse deverá ser o tom do texto desta semana, cujo tratarei com o maior cuidado por se tratar de um tema bastante delicado.

E começo muito mais pela reflexão do “Por quê?”, que tem sido a tona de alguns debates que venho tendo com o colega Luis Felipe em meu trabalho. Sempre que vemos algo que trata de investimentos em esporte, nos perguntamos: “tá, mas e por quê?”.

Vejo que muitas das queixas contra a Copa não tem na sua raiz e essência a simples pergunta dos "porquês" – que, aliás, é a primeira questão que é levantada por qualquer criança que começa a querer ter uma percepção de mundo.

Essa resposta, até onde me lembro, nós nunca tivemos: por que queremos a Copa? Ora, um megaevento, que é transmitido para o mundo inteiro, com níveis de audiência altíssimos, com mensagens positivas de uma nação por longos 30 dias (ou mais) – a saber que apenas a guerra é capaz de transmitir com tanta intensidade algo de um determinado local ou país, só que de forma extremamente negativa –, que é catalisador de investimentos e melhorias urbanas nas cidades – como é provado por inúmeros estudos econômicos e sociais mundo afora –, que reúne o mundo para um bem comum, no "país do futebol"… Por que não haveríamos de querer?

A resposta não está estritamente nas causas, mas nas atitudes. O custo da Copa é ínfimo perto do que é reservado constitucionalmente e investido na saúde ou na educação, como se é óbvio imaginar (e tem de ser).

Não é o gasto na Copa que está atrapalhando estes setores – do contrário, parece que antes da Copa (ou dos Jogos Rio 2016) a educação, a saúde e a infraestrutura andavam às mil maravilhas e, após o anúncio de sede do Brasil para estes megaeventos, tudo desandou. Pura visão míope da questão. Culpa de quem não soube responder adequadamente os porquês de se trazer este tipo de evento ao país.

Fazendo uma conta simples e comparativa, a saúde deixou de gastar, no ano de 2012, mais de R$ 9 bilhões por pura ineficiência administrativa (para tanto, merece ser vista a entrevista do presidente do Conselho Federal de Medicina no Jô Soares: http://tvg.globo.com/programas/programa-do-jo/O-Programa/noticia/2013/06/roberto-luiz-davila-afirma-que-o-brasil-nunca-teve-tantos-medicos-como-hoje.html).

Isso mesmo, havia dotação orçamentária, que não foi empregada por não se conseguir gastar. Só a "sobra" da saúde em 2012 daria para fazer duas vezes os estádios para a Copa.

Não que eu concorde com os gastos públicos em estádios. Aliás, entendo que tínhamos potencial para fazer uma Copa quase 100% privada, com eventual financiamento público por parte do BNDES (que o faz com qualquer outro ente privado que deseja investir no país, diga-se de passagem).

Seria melhor, inclusive, para o pós-Copa, visando a gestão e a operação dos novos equipamentos, vide casos do Grêmio e do Palmeiras, com suas novas arenas em parceria com construtoras e operadoras profissionais.

O fato é que a rebeldia contra a Copa está errada. Sim, temos superfaturamentos que não podemos aceitar. Temos gastos indecentes e desnecessários. Essas são causas importantes. Mas, nunca o evento em si.

Do contrário, deveríamos repudiar qualquer apoio público para qualquer tipo de evento – do show do Paul McCartney até o Carnaval – e sabemos que, à sua maneira, cada um contribui, direta ou indiretamente, para movimentar economicamente uma dada região e, impactar, pessoas que gostam ou não daquele espetáculo, embora o dinheiro público seja o mesmo.

Finalizando, o que se deve ponderar é a crítica pela crítica aos megaeventos. A importância deles é inegável e, se o analisamos friamente, sem vícios, é possível perceber benefícios tangíveis e intangíveis atrelados à sua realização.

Que o repúdio venha sobre os desvios, as obras superfaturadas e a falta de entrega do legado prometido – aí teremos um debate inteligente, pertinente e justo.

 

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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