Ao vermos o cenário atual dos times da série A do Campeonato Brasileiro, percebemos que ainda é comum a troca de técnicos durante a competição. Vejamos, neste ano até o momento após nove rodadas, metade dos times já trocaram seus treinadores; sendo o caso mais recente o desligamento do técnico do Fluminense, o décimo dispensado.
Porém, antes deste outros nove já foram dispensados de seus clubes e mais, dos dez clubes que já promoveram mudança de comando técnico, sete deles aprecem na parte de baixo da tabela de classificação.
Mas, nesta coluna, não pretendo falar sobre a questão da continuidade do trabalho dos treinadores e da necessidade amadora dos clubes de não cumprirem seus planejamentos. Minha intenção é abordar uma situação mais do que real no Brasil e falar sobre o outro lado da moeda, ou seja, daqueles que chegam para substituir os desligados.
Para estes fica uma reflexão: como gerar empatia e conquistar confiança do elenco e dos funcionários do clube em tão pouco tempo?
Construir uma relação de confiança e empática é extremamente importante para o estabelecimento de um ambiente de alta performance, em que o treinador possa apoiar o desenvolvimento da equipe, bem como desafiá-la, nas doses certas ao longo do trabalho realizado.
Devemos compreender que sem a confiança e empatia, os envolvidos (atletas e funcionários) tendem a desconfiar e ocorre o aumento da resistência a assumir riscos ou a experimentar novos comportamentos, indispensáveis num cenário de mudança necessária.
Stephen Covey comenta sobre a empatia no quinto hábito em seu livro "Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes", hábito denominado "Procure primeiro entender, e depois ser entendido". Neste hábito, Covey comenta sobre a comunicação efetiva e a necessidade de se escutar o outro com empatia.
O ser humano tem uma forte tendência para atropelar os sentimentos das outras pessoas, de correr para resolver as coisas através de conselhos, mas com frequência se deixa de reservar algum tempo para o diagnóstico, para tentar compreender verdadeira e profundamente o problema antes de qualquer coisa. A maior parte das pessoas não consegue escutar com a intenção de compreender, elas ouvem com a intenção de retrucar e com os treinadores de futebol essa regra não é diferente.
A escuta empática se refere à escuta com a finalidade de compreender, ela entra dentro do quadro de referências da outra pessoa. Se o indivíduo olhar para dentro dele, vê o mundo como as pessoas o vê, compreende seu paradigma.
A empatia não é igual à solidariedade. Este último é um modo de concordar, uma forma de julgamento. As pessoas frequentemente dependem da solidariedade e tornam-se dependentes dela. A essência da escuta empática não está em concordar com alguém, mas sim em compreender aquela pessoa profundamente, tanto no plano emocional quanto no intelectual.
Complementando a escuta empática, podemos e devemos lançar mão de conhecimento da Leitura Corporal dos atletas, uma vez que os gestos muitas vezes comunicam muito mais do que tudo que é verbalizado pelo atleta.
Na prática, inicialmente para se estabelecer uma relação de confiança, são necessárias duas ações:
1. Criar uma genuína e autêntica relação um-para-um com os atletas;
2. Conseguir empatia através de um olhar incondicional sobre a realidade do time e dos atletas.
E você amigo leitor, acha missão fácil para todo técnico assumir uma equipe durante um campeonato em andamento? Será tão simples assim conseguir rapidamente conquistar a confiança e empatia da equipe?
Até a próxima.