A interferência do estado no esporte brasileiro tem crescido de maneira assustadora e tem atacado em pontos nevrálgicos do desenvolvimento de alguns projetos que se julgavam mais voltados para o mercado e a profissionalização de um modo geral. Esta participação mais "ativa" do estado não é novidade, é verdade – faz parte da construção histórica de muitas modalidades no país.
Contudo, começa a incomodar à medida que adota posturas intervencionistas, sob o argumento de "proteger" o esporte como identidade nacional, e inibe que haja a construção de uma estrutura de mercado para esta indústria.
Na história recente e, olhando especificamente para o futebol, me lembro de quatro exemplos que mexem amplamente as relações comerciais da modalidade: (a) mudança na lei que inibiu a entrada de investidores estrangeiros nos clubes brasileiros, após amplo movimento no início da década de 2000, sob o argumento de proteger a identidade dos clubes; (b) a proibição da venda de bebidas alcoólicas, justificada pela relação com a violência; (c) a obrigação de tocar o hino nacional antes dos jogos (e, em alguns estados e municípios, os hinos regionais), que prejudicam a construção de um cenário de entretenimento antes dos jogos; e (d) a meia entrada para estudantes e idosos, intervindo na gestão de preços e relacionamento dos clubes com seus torcedores e diferentes públicos.
Agora, mais recentemente, pela intervenção direta na gestão de estádios após decorrido processos licitatórios e entregas para a iniciativa privada, em que se firmou acordos e se previu investimentos por parte dos operadores de arenas. O argumento tangenciou, novamente, sobre o "benfeitor estado", que visa "proteger" o bem público e os "clubes indefesos" contra os "tiranos" da iniciativa privada, sedentos por altos lucros.
O que se vê, no fim das contas, é o poder público fazendo um aporte para "enxugar lágrimas". Quem grita mais, independente de sua competência, ganha. Esportes (e até mesmo o futebol) que são incapazes de gerir de forma eficiente seus recursos, tampouco de gerar receitas pela comercialização do mesmo, constantemente choram por migalhas para sobreviver – e entregam muito pouco.
No futebol, apesar de sua Confederação ser movimentada tão somente por recursos privados, tem seus filiados, os clubes, como perigosamente dependentes de recursos públicos, uma vez que não pagam corretamente seus tributos e não são cobrados por isso. Vez por outra surgem leis ou projetos com a proposta de isentar ou perdoar as dívidas, que foram resultado de um longo processo de má gestão.
Não há mercado que sobreviva com tanta intervenção do poder público. Ainda mais em se tratando de um mercado em desenvolvimento como é o esportivo, que precisa encontrar modelos sustentáveis de negócios e gestão de seus ativos. Ficamos, com isso, a mercê da "melhor ideia do dia", e isso não é nada bom para quem tenta fazer planejamentos de 5-10 anos.
De outro lado, não vejo o Estado totalmente à margem dos investimentos e participação dentro do mercado esportivo. Bem ao contrário. Ele tem sim importância na estruturação, apoio a eventos, a projetos sustentáveis e tantos outros – nos esportes olímpicos, por exemplo, desde que se invista na base e no esporte educacional, tal e qual prevê nossa constituição; e nos grandes eventos, que parecem ser insustentáveis apenas com recursos privados, e se mostram benéficos para a cidade e/ou regiões sob o ponto de vista de imagem e turismo…
Enfim, desde que o Estado saiba exatamente seu papel, pondo limites sobre sua forma de atuação no mercado e respondendo minimamente os porquês, o como, o quando e o quanto investir. E essa lógica, em raros casos, acaba sendo de fato explicada. Não à toa, este texto foi inspirado pela seguinte notícia: http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2013/08/1320530-sergio-cabral-estuda-cancelar-concessao-do-maracana.shtml.
Não é preciso dizer mais nada!!!