Novamente, a violência das torcidas organizadas volta às manchetes e às análises de alguns especialistas do meio esportivo. Evidenciada, sobretudo, pela confusão causada por torcedores de Vasco e Corinthians no último final de semana em Brasília.
E o problema não são as leis. São, como muitas no Brasil, a aplicação delas. O Estatuto do Torcedor está aí para provar isso. E se o Estado é inoperante ou ineficiente para efetivar um controle sobre atos desta natureza, será que as entidades do futebol também devem se omitir de qualquer ação mais proativa, como o fazem hoje e historicamente?
Por outro lado, o Prof. Dr. Gustavo Pires (no livro “Agôn, Gestão do Desporto, o Jogo de Zeus”, 2007, p. 11) debate a questão da violência como uma manifestação venal da construção histórica-sociológica do homem e, portanto, ligada ao desporto. A guerra, na verdade, era controlada pela prática esportiva e assim surgiu os “Jogos e tornaram a paz gloriosa, através do prazer lúdico da violência controlada”. Em uma das passagens do livro, Pires comenta:
“Aqueles que através de um discurso pseudomoralista pretendem castrar o desporto em geral e o futebol em particular das suas origens antropológicas que têm a ver com a necessidade de extravasão [sic] da violência (geralmente virtual) que cada homem contém dentro de si, transformando o jogo numa mera recreação, em que o objetivo se resumo a curtir o deleite da destreza do gesto acrobático e da estética geométrica da progressão no terreno, que também se encontram em muitas outras atividades humanas, podem estar a fazer com que o futebol se desligue dos laços que ainda o prendem às suas verdadeiras raízes que se encontram nas origens da humanidade, fazendo com que deixe de ter a atração mágica que, semana após semana, época após época, conduz aos estádios quer direta, quer indiretamente através da televisão, dezenas de milhões de espectadores por todo o mundo, independentemente do seu estatuto social, credo, gênero ou idade”.
É bem verdade que a “violência” a qual Pires refere está relacionada à prática do esporte. Mas serve para entendermos que ela dificilmente será totalmente controlada e anulada em se tratando de esporte.
O que assusta, especialmente no caso citado no 1º parágrafo, é a inércia e a falta de um posicionamento mais firme e decisão das organizações do próprio esporte. Enquanto não entendermos que a questão da violência das torcidas deve fazer parte sim de uma pauta das entidades de administração e de prática do esporte, no sentido de perceber que um controle mínimo (ou mesmo um posicionamento mais efetivo que iniba algumas dessas práticas) contribuirá para a entrega de um espetáculo mais palatável para o consumo, não consigo enxergar uma solução consistente no curto-médio prazo.
E esta questão está longe da visão minimalista de aumentar ou reduzir o preço de ingressos. Precisamos, enfim, entregar mais e melhor para que haja efetivamente um retorno positivo dos próprios torcedores no viés do consumo ou mesmo na ampliação dos investimentos de patrocinadores privados por conta do espetáculo ímpar proporcionado nas arenas. Eis a agenda positiva que precisa ser levada a cabo nas pautas (e atitudes) dos organismos do futebol…