Os ingressos e a sua dinâmica

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Não existe mágica. Existem problemas e soluções. A grande questão é como estamos dispostos a buscar efetivamente as soluções. E assim seguimos com mais um exemplo de como se administra preços e produtos que estimulam a participação de torcedores em dias de jogos, retirado de Howard & Crompton (2004)[1].

Há mais de uma década, o artigo relata as ações protagonizadas pelas ligas americanas no sentido de trazer as pessoas para os estádios/ginásios/arenas. São 4 táticas, conforme breve descritivo:

1) Diferenciação de Preços: existem jogos e jogos. Cada qual com seu valor. É neste sentido que algumas ligas adotam a tática de diferenciação de preço por jogo conforme os seguintes critérios:

(a) Qualidade do adversário – no nosso caso, os “clássicos” teriam valores diferentes;

(b) Horário do jogo – variação conforme o dia da semana, o horário, o período do ano (levando em conta também a temperatura), se primeiras rodadas ou rodadas decisivas e finais;

(c) Local do assento na arquibancada, tendo valor mais elevado nos melhores locais do estádio.

2) Flexibilidade na Precificação do “Season Ticket”: o valor do “Season Ticket”, em muitos casos, é caro para o consumidor comum nos EUA. Em algumas franquias, mais de 60% dos “Season Tickets” são adquiridos por empresas e não por pessoas físicas.

Além disso, algumas franquias colocam como opção a compra de ingressos para toda a temporada, para a 1ª ou 2ª metade da temporada, ou o fazem por pacotes temáticos – como, por exemplo, somente para jogos contra os principais rivais (os nossos clássicos), ou somente os jogos de verão, ou somente os jogos de domingo (este com foco na atração de famílias), e por aí vai.

A chave é oferecer diferentes oportunidades de consumo, de acordo com o perfil de cada tipo de torcedor em relação a sua capacidade de pagamento.

3) Garantias de Devolução de Dinheiro: que nada mais é do que deixar a possibilidade de devolver parte do investimento para o consumidor caso este não fique satisfeito com os serviços do clube. Serve, principalmente, para não deixar margem de dúvidas sobre a obrigatoriedade em ir a todos os jogos, assumindo um compromisso fixo ao longo de toda uma temporada. Permite, portanto, resgatar um valor proporcional na temporada seguinte.

4) Compras pela Internet: no registro histórico, as compras de bilhetes pela internet são mais efetivas e deixam maior margem de lucro para as equipes, facilitando também a vida dos torcedores.

Somado a estas quatro táticas, existe o estímulo constante para que aqueles torcedores que adquiriram ingresso acompanhem de fato os jogos de sua equipe.

Os autores calcularam que, em jogos da NBA ou NHL, o registro de “NO SHOW” na base de 10% a 15% das pessoas que compraram bilhetes significa um prejuízo na ordem de US$ 1 milhão ao término de uma temporada por deixar de comercializar bebidas, comidas, estacionamento, produtos licenciados e outros.

Enfim, o debate é amplo e precisa evoluir em muito ainda no Brasil. O fato é que as soluções são pensadas estrategicamente. Não podemos sentar em berço esplêndido, justificar com inúmeras desculpas e não agir.

No fim das contas, o que incomoda não é a conhecida baixa média de público e a baixa taxa de ocupação dos estádios de futebol no Brasil. É sim a inércia e as atitudes pouco criativas e efetivas para se trazer o torcedor para acompanhar os jogos de perto, ampliando sua proximidade com o clube e deixando melhores recursos para o mesmo…

1 – Howard, Dennis R.; Crompton, John L. Tactics used by sports organizations in the United States to increase ticket sales. Managing Leisure 9, 87-95, April 2004.

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