A comunicação nas decisões de gestão

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No mundo ideal, toda decisão deveria passar pela comunicação. Não, é claro que nem tudo deve ser submetido aos interesses da comunicação. No entanto, é impossível que as grandes organizações, em um mundo absolutamente conectado, ainda escolham caminhos que não têm relação com a estratégia e os interesses de suas marcas.

Ora, a questão do estádio que abrigará o segundo jogo das semifinais da Copa Sul-Americana também é um problema de comunicação. O regulamento da competição estabelece uma capacidade mínima de 20 mil lugares para estádios usados a partir das oitavas de final, e o Moisés Lucarelli, casa da Ponte Preta, não comporta esse contingente.

Em duas fases da competição, portanto, a Ponte Preta já havia usado o estádio que não cumpre a capacidade do regulamento. Nas oitavas de final, aliás, cinco dos oito locais que receberam jogos estavam abaixo do tamanho mínimo para a competição.

O São Paulo fez então um apelo à Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). A entidade consultou Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e Federação Paulista de Futebol (FPF) sobre a capacidade do Moisés Lucarelli, e as duas entidades atestaram que o estádio está aquém dos 20 mil lugares.

Pela primeira vez na história, a Ponte Preta vai disputar neste ano uma semifinal de uma competição internacional. E nesse momento tão especial, o torcedor da equipe de Campinas terá de viajar até Mogi Mirim para acompanhar o clube.

Mais do que isso: o patrocinador que investiu durante anos no Moisés Lucarelli terá de montar um novo aparato para o momento de maior retorno desse aporte. Ações de ativação e exposição que estavam prontas no estádio de Campinas terão de ser repensadas em Mogi Mirim.

E os serviços, então? Camarotes e espaços para relacionamento terão de ser remanejados. Tudo isso, vale repetir, em um dos momentos mais importantes da história do clube.

É claro, alguém pode responder que o Moisés Lucarelli, como quase todos os estádios mais velhos do Brasil, já não tinha uma estrutura adequada para atender a todos esses pontos. Ainda assim, o equipamento tinha um modelo pronto de trabalho para dias de jogo.

Uma mudança de estádio afeta, portanto, muito mais do que os torcedores que terão de se deslocar de Campinas a Mogi Mirim. Trata-se de um planejamento inteiro a ser refeito. E planejar, convém lembrar, custa dinheiro.

Mas o estádio da Ponte Preta não cumpria o regulamento. E aí está um erro enorme da Conmebol: a entidade não podia atribuir aos clubes o dever de fiscalização de uma competição que ela organiza. Se o Moisés Lucarelli não tem condições, que tivesse sido vetado antes.

Permitir que um campeonato seja submetido a esse tipo de debate é menosprezar todas as coisas envolvidas em uma mudança de sede de um jogo. Repito: não é apenas uma viagem de 20 mil pessoas, mas de um aparato e de uma equipe que lida com ele.

A mensagem que a Conmebol passa nesse caso é assustadora. Quais serão os outros pontos do regulamento que a entidade permite que sejam desrespeitados, desde que ninguém reclame? É a cultura da permissividade.

E aí entra o São Paulo. O time do Morumbi apenas exigiu que o regulamento fosse cumprido. E não há nada errado em brigar pelo que está escrito. Antes de participar do campeonato, todos assinaram um documento concordando com essas regras.

A questão, mais uma vez, é mais institucional do que prática: qual é o efeito que essa briga tem para a imagem do São Paulo? Vale a pena lutar para jogar fora de Campinas e correr o risco de a vitória ser eternamente tratada com um “mas se o duelo tivesse sido no Moisés Lucarelli…”?

Como escreveu brilhantemente o jornalista Luis Augusto Simon, blogueiro do portal UOL, a atitude do São Paulo fomenta animosidade entre as equipes e solidifica uma imagem arrogante do clube do Morumbi. É a lei colocada acima da consciência.

A decisão do São Paulo pode oferecer ao time uma vantagem tática por não jogar em Campinas. Isso pode ser determinante para a classificação. A pergunta que fica é: vale a pena arriscar a imagem da instituição por esse preço?

Pelo ineditismo e por ser um time de menor poder econômico, a Ponte Preta já era um personagem simpático. A briga que o São Paulo comprou potencializou muito a torcida pela equipe de Campinas.

O caso da semifinal da Sul-Americana é extremo, mas há outros bons exemplos no futebol brasileiro atualmente. A comunicação é um processo fundamental para que as outras coisas andem bem em um clube de futebol.

Internacional e Palmeiras são bons exemplos. Os dois times têm situações resolvidas na temporada há quase um mês. Ambos podiam antecipar o planejamento e mostrar aos torcedores que estão trabalhando para sair na frente na próxima temporada.

Em vez disso, os dois têm prolongado indefinições. Comunicação também é saber quais são os melhores momentos para cada coisa.

Times que já cumpriram (ou não cumpriram) suas missões neste ano têm obrigação de acelerar o planejamento e de dizer ao torcedor o que pretendem mudar para 2014. É uma tarefa complicada, evidentemente, mas essa satisfação é uma forma de renovar a esperança de quem segue o clube.

A paixão do torcedor por um time é uma das coisas mais naturais que existem. Os clubes não fazem nada – ou fazem pouco, pelo menos – para criar esse elã. A comunicação, portanto, precisa ser uma forma de afagar o apaixonado e manter esse sentimento aflorado. E isso se faz, entre outras coisas, ao mostrar que o objeto de amor dele está sendo bem tratado.

Quanto a planejamento, o Corinthians deu um exemplo contrário e antecipou o próximo ano. Quatro rodadas antes do término do Campeonato Brasileiro, o time do Parque São Jorge anunciou que não vai manter o técnico Tite e que vai rever uma série de coisas no departamento de futebol.

A medida é uma forma de tranquilizar a torcida após um fim de temporada ruim. Além disso, a iniciativa abre caminho para uma despedida adequada para Tite, técnico que trabalhou no clube durante mais de três anos.

Agora, o Corinthians tem obrigação de fazer uma homenagem de grande porte para Tite. O time já mostrou que está alinhado com a preocupação dos torcedores sobre o rendimento do elenco. Nos próximos dias, a diretoria precisa mostrar que valoriza quem se dedica pelo clube.

Pensar em comunicação não é simples. Não pensar nisso é quase sempre um erro fatal.

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