Soluções pela emoção

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Ainda que a pauta da semana seja a punição de perda de pontos imposta a Portuguesa e ao Flamengo, que culminou, até o presente, com o rebaixamento da equipe lusitana pelo STJD e a manutenção do Fluminense na primeira divisão, vou me abster de qualquer comentário, por enquanto, neste sentido.

Pretendo retomar e reiterar o debate da semana anterior, que diz respeito à violência protagonizada pelos marginais que vestiam as camisas de Atlético Paranaense e Vasco na última rodada do Campeonato Brasileiro, uma vez que as soluções e medidas que estão sendo tomadas, com boa dose emocional em face do caso, tendem a contribuir para a involução de muitos dos processos relativos à melhoria do espetáculo dentro do recinto esportivo.

Na minha última coluna falei de “Sintomas e Doenças”, mostrando como temos a cultura de tratar alguns “Sintomas”, achando que eles podem solucionar os problemas de algo mais complexo. Agora, para piorar, e visando “dar resposta” à sociedade, começam a surgir “soluções” completamente desprovidas de uma análise técnica racional para os desafios que a indústria do futebol deve enfrentar para combater certos desvios.

O discurso midiático igualmente pouco contribui para a evolução deste debate. Ao invés de procurar defender soluções construtivas, com bases sólidas, clama por decisões e ações de curto prazo. Toma partido de um único caso para servir como base para todos, quando o problema é muito mais complexo.

Em breve, após baixar a temperatura e os ânimos estiverem menos exaltados, não se entenderá os porquês de uma ausência de solução mais efetiva e definitiva. Como não estudamos o fenômeno, o resultado é quase que, invariavelmente, a proposição de uma ação rápida, pouco eficaz e “politicamente correta”. Para esclarecer tudo que foi abordado, vamos ao cenário, por enquanto, que se está desenhando:

1) Briga entre torcedores de Vasco e Atlético Paranaense é creditada totalmente à falta de Policiais Militares na arquibancada do estádio para separar as torcidas após uma deliberação do Ministério Público de Santa Catarina;

2) O foco passa a ser este, parecendo uma equação matemática: Segurança Particular + Torcidas Rivais = Briga Generalizada;

3) Surge, portanto, associação viciada de que a ausência de Polícia Militar em estádios é igual a violência, transformando tal premissa em verdade absoluta;

4) No fim das contas, nos esquecemos de que, no caso em voga:

a. Haviam apenas 6 seguranças privados (não vou nem entrar no mérito do Estatuto do Torcedor, que deveria ser modificado para atender a conveniência de um evento privado) que, convenhamos, não daria conta de resguardar pela segurança de 100 torcedores, quem dirá de 10.000;

b. O estádio dispunha de área reservada para torcida visitante, com gradil de proteção. Por vontade do clube mandante, venderam-se mais ingressos do que o recomendável, obrigando a abertura deste gradil para a acomodação dos torcedores vascaínos;

c. Ninguém perguntou se o estádio ou o mandante possuem Plano de Segurança – senhores, os clubes de futebol do país (e respectivos estádios) realizam (ou recebem), ao menos 30 eventos por ano nas mesmas proporções. Será que ninguém nunca discutiu esse problema com todos os cuidados necessários? Qual o “Caderno de Encargos” de que um administrador de estádio de futebol entrega para a entidade que loca seu espaço?

5) Por fim, a natural e populista solução política dos “JÊNIOS” (isso mesmo, com J, para bem caracterizá-los) para dar uma resposta que não deveriam dar: jogos, agora, só com policiamento público.

Devemos responsabilizar, a bem da verdade, os organizadores da competição, solidariamente com os clubes participantes e integrantes do campeonato. São eles que devem pensar e procurar encontrar as soluções definitivas para seus problemas – sei que isso é um tanto quanto utópico à medida que conhecemos o modus operandi das entidades que desenvolvem esporte neste país. Mas o fato é que estamos dando uma responsabilidade ao governo quando este deveria apenas estabelecer diretrizes visando a ordem pública.

Fazendo uma analogia simples: um restaurante que tenha sido identificado com problemas de higiene em sua cozinha, após ser fiscalizado pela “Vigilância Sanitária”, acabará por ser fechado até que consiga corrigir seus problemas internos para fazer jus a uma reabertura. Não será, portanto, a “Vigilância Sanitária” que irá, no dia seguinte, consertar a pia, arrumar a rede de esgoto ou comprar freezer para melhor conservar os alimentos. O que este exemplo significa? Que o governo procurou garantir e preservar pelo bem da sua população, mas não colocou efetivamente a mão na massa.

É isso que precisamos ter em mente. Se o futebol quer ser respeitado como indústria, proporcionando melhores serviços e ampliando suas receitas, precisará assumir melhor suas responsabilidades.

As respostas, já que não vem do governo, aparecem da iniciativa privada, após a brilhante decisão da Nissan em romper o contrato de patrocínio com o Vasco da Gama, entendendo que as confusões causadas pelos torcedores cruzmaltinos tendem a manchar a imagem corporativa da montadora.

O fim melancólico da principal competição da principal modalidade esportiva do país só atesta a incoerência e mostra que algo permanece muito errado no futebol brasileiro… A mudança deve ser iminente, especialmente dentro dos estádios e arenas esportivas do país, que é o local onde efetivamente se produz e consome o espetáculo do futebol.

Quem sabe, no futuro, deixaremos de ser o país dos jogadores de futebol para nos tornarmos, definitivamente, o país do futebol. Um dia, quem sabe, chegaremos lá!!!

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