As referências atitudinais e a inteligência coletiva

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Os leitores que acompanharam as colunas que abordavam uma proposta curricular de formação, publicadas em 2011, certamente observaram que o conteúdo “Referências do Jogo de Futebol” está dividido em quatro grandes temas. Plataformas de Jogo, Referências Operacionais do Jogo, Referências Espaciais do Jogo e Referências Atitudinais.

A discussão desta semana refere-se a este último tema que se subdivide nas Referências Atitudinais oriundas de ações da própria equipe e também nas oriundas de ações do adversário.

Como sabemos, todo treinador idealiza um jogar e, em conjunto com a comissão técnica, tenta construí-lo em cada sessão de treino, reunião, conversa individual, preleção, palestra, jogo amistoso e oficial.

O objetivo final desta difícil tarefa é verificar, para cada problema do jogo, a melhor resposta coletiva possível, minimizando, assim, os desajustes na configuração do sistema e a maior exposição à derrota.
Pensando, então, na busca pela melhor resposta coletiva, diversas ações do jogo significam códigos que, se corretamente interpretados (e treinados), orientam a equipe para o cumprimento da Lógica do Jogo.

Fica a critério da comissão técnica definir quais são as ações do jogo, realizadas tanto pelo adversário, como pela própria equipe, que se tornarão as Referências Atitudinais.

Para facilitar a interpretação, serão expostos alguns exemplos de ações adversárias que podem significar códigos para a manifestação de comportamentos individuais e coletivos:

•Passe para o goleiro: como pouquíssimas equipes do país possuem mecanismos de manutenção da posse de bola utilizando o goleiro, pressioná-lo após um recuo de bola pode proporcionar a recuperação da posse de bola;

•Passe do adversário para trás: para tentar afastar o adversário da meta, após a realização de um passe para trás a equipe pode ganhar campo, encurtando a distância entre linhas e aumentando a possibilidade de deixar adversários em impedimento;

•Mau domínio: uma equipe pode estar orientada a impedir progressão e buscar a recuperação da posse de bola mediante a uma má recepção de um jogador adversário;

•Pressionar atleta específico: Uma equipe pode apresentar dificuldade de saída por um dos setores do campo. Pressionar o elo fraco quando o mesmo portar a posse de bola pode ser uma tentativa eficiente de recuperação da posse;

•Pressionar região: de acordo com as Referências Espaciais do Jogo, a equipe pode ter setores de pressão coletiva visando à Recuperação da Posse de Bola.

Abaixo, alguns exemplos de Referências Atitudinais da própria equipe:

•Liberdade para jogadas individuais: geralmente a partir do quarto final do campo;

•Setores favoráveis às inversões: com o intuito de progredir verticalmente e proporcionar situações de vantagem ou igualdade numérica;

•Evitar passes verticais: em algumas regiões do campo o passe reto favorece mais ao adversário que a própria equipe. Se direto ao companheiro obriga-o a recepcioná-lo de costas se projetado ao ponto futuro, favorece a linhas de defesa e cobertura;

•Setor de reposição do goleiro em contra ataque: equipes organizadas tendem a recuperar a posse de bola já bem posicionada para o contra ataque. Ter setores pré-estabelecidos para reposição pode facilitar a progressão ao alvo adversário.

É importante deixar claro que as Referências Atitudinais não podem ser observadas dissociadas das demais Referências e tampouco dos demais conteúdos do currículo. Os exemplos supracitados servem apenas para apontar uma gama de possibilidades que a comissão técnica possui para aperfeiçoar a leitura de jogo coletiva de suas equipes.

A auto-organização do jogo pode passar-lhe a ideia de que muitos comportamentos não são passíveis de intervenção e que a resposta ideal ocorrerá “naturalmente”. Lembre-se, no entanto, que é função do treinador construir a utópica ordem coletiva no caótico jogo de futebol.

Pelas soluções apresentadas nos inúmeros problemas do jogo, podemos afirmar que para muitas equipes brasileiras, infelizmente, a construção das referências de jogo ainda não faz parte dos objetivos de desenvolvimento do Modelo.

É uma pena… Nossos adversários, especialmente os internacionais, têm sabido aproveitar.

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