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Historicamente, o Brasil se acostumou a favorecer a cultura do privilégio.

Desde o Brasil Colônia, passando pelo Brasil Império, quem era “amigo do Rei” podia tudo e subjugava todo e qualquer direito de terceiros em benefício próprio.

Não era só simplesmente a criação de normas e leis favoráveis à manutenção dessa cultura.

O brasileiro também se especializou em burlar a legislação com o seu “jeitinho”.

Some-se a isso uma burocracia estatal infindável e temos, após nossos primeiros 500 anos, um quadro de ineficiência na gestão e no trato da coisa pública.

Esta cultura de privilégios pode ser bem entendida na expressão “com licença”.

Num sentido, percebemos que a burocracia e a regulamentação que o Estado impõe aos cidadãos, no Brasil, em muitos casos, é anacrônica e impede um ambiente saudável para que o empreendedorismo e o desenvolvimento social aconteçam.

São muitos órgãos públicos e estruturas que exigem documentação em excesso, não dialogam entre si, não há padronização ou simplificação e os resultados deixam o cidadão perdido no meio do caminho, com serviços de baixa qualidade e com custos cada vez mais crescentes para o contribuinte.

Licença, permissão, concessão, outorga, alvará… Noutro sentido, ou melhor, no outro lado do balcão, percebem-se algumas discrepâncias entre a realidade da maioria da população e aqueles que, como bem costuma dizer Elio Gaspari, estão no “andar de cima”.

Num país com grande déficit de cidadania, são inúmeras as licenças e os privilégios de que gozam algumas carreiras públicas.

Férias de 60 dias para juízes e promotores (sem contar os recessos anuais).

Auxílio-moradia e auxílio-alimentação (para pessoas que recebem salários “mínimos” de R$ 15.000).

E olha que tem juiz contestando no Poder Judiciário receber em caráter retroativo…

O mais bacana é a licença-prêmio. A cada tantos anos de trabalho, determinadas carreiras concedem vários meses de licença para o servidor público que, se não gozada, pode ser computada em dobro para efeitos de aposentadoria.

Não é de se surpreender que o universo de candidatos ao serviço público aumenta a cada ano, numa escala que não acompanha a qualidade prestada ao cidadão.

O cenário é prova contundente de que vivemos num país que favorece o privilégio, a zona de conforto, não o empreendedorismo, a inovação, o desenvolvimento socioeconômico.

O que se quer é ser alçado ao andar de cima. Fazer parte do seleto grupo.

Entrar no camarote, sem muitas responsabilidades.

Isso agrega valor ao indivíduo.

Infelizmente, não à sociedade.

No país do futebol e da Copa 2014, se houvesse uma devassa geral e se colocasse na ponta do lápis quanto custa a manutenção dos privilégios e a ineficiência estatal, tenho certeza de que custaria bem mais do que todos os estádios construídos para o evento.

A Copa do Mundo e a Fifa já viraram um Judas muito fácil e simples de malhar.

Tem mais coisa em nosso espelho, como brasileiros, pra enxergar.

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