A tática, o coletivo e o José Mourinho: antes, uma questão de(o) português, agora, uma questão de tempo…

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Hoje vou postar algo nada habitual (nem habitual da minha parte, nem por parte da Universidade do Futebol).

No entanto, dadas as estatísticas e os números, vou, eu mesmo, me conceder uma licença.

Em julho de 2007 publiquei na Universidade do Futebol (na época Cidade do Futebol) um texto debatendo a utilização ou não, a validade ou não, dos “coletivos” realizados pelos treinadores de futebol no treinamento e “apronto” de seus jogadores e equipes.

Em 2008 passei a utilizar esse texto em um momento específico das disciplinas de “Treinamento em Futebol” e “Treinamento nos Esportes Coletivos” das Faculdades onde atuava como professor de graduação.

Em 2009 postei-o, com pequenas alterações em um dos meus blogs.
Essa semana – já em 2014 – o texto em questão atingiu em um deles (dos blogs) 500 mil acessos – isso sem contar os acessos na Universidade do Futebol.

Realmente para mim, nos meus controles de acessos (levando em conta apenas os “acessos únicos” para não ter a falsa ideia de que o número é maior do que parece) é um número muito expressivo.

Então hoje vou “republicar” (licença poética) o texto. Não é só pelo número de acessos. É também e principalmente pelo fato de que ele, mesmo escrito e publicado em 2007, parece feito para hoje…

E eu me pergunto “como ainda pode?”…

Mas, vamos lá.

O texto é: “A tática, o coletivo e o José Mourinho: uma questão de(o) português!”

Vejamos…

Nas teorias do treinamento desportivo, um dos princípios mais discutidos e pontuados é o da SOBRECARGA. Ele rege que para o organismo (integral) do atleta continuar se desenvolvendo e fazendo evoluir sua performance, é necessário que haja um "agente estressor" que possa gerar esse desenvolvimento.

Esse "agente estressor" no caso do atleta é o treinamento desportivo. Para conseguir o "estresse" que vai provocar uma REAÇÃO do organismo (para o seu desenvolvimento) é necessária uma carga de magnitude superior àquela que ele está "acostumado"; uma SOBRECARGA.

Pois bem. Uma questão que tem intrigado e rondado a cabeça de cientistas do desporto, treinadores e amantes do futebol é a que diz respeito à importância do "Coletivo" nos treinamentos de uma equipe de futebol.

Quando pensamos em "Coletivo" imaginamos um jogo (reservas e titulares, titulares e equipe B, etc. e tal) próximo ao jogo competitivo formal, com o objetivo de preparar ou observar uma equipe para uma partida oficial de campeonato. O fato, é que temos hoje treinadores em evidência na mídia defendendo o menor número possível de coletivos; priorizando jogos reduzidos e treinamentos técnico-táticos.

Na "contramão" temos José Mourinho (na época do texto, já vitorioso técnico do Porto e do Chelsea) e um grupo crescente de Estudiosos e Cientistas do Desporto que defendem a ideia de que se deve treinar o jogo, jogando (só se consegue andar de bicicleta melhor, andando de bicicleta; só se aprende a dançar melhor, dançando; só se consegue jogar melhor, jogando).

Nessa perspectiva, não há nada mais real para criar situações que se assemelhem ao jogo do que o tal "Coletivo".

Mas e o treino técnico-tático ou os jogos reduzidos?

Temos aí um problema a se resolver. Um corredor treina corridas para melhorar sua performance. Não corre, porém sempre na mesma velocidade, na mesma distância. Corre em velocidades próximas aquelas de sua competição, às vezes menores, às vezes maiores; o que é verdadeiro (ou deveria ser) também para as distâncias percorridas. Em outras palavras ele tem no seu treinamento uma alteração de cargas que exigem do seu organismo (integral) respostas que permitem seu desenvolvimento (SOBRECARGA).

Talvez seja fácil pensar em sobrecarga imaginando adaptações físicas. Mas como imaginarmos uma sobrecarga técnico-tática, ou melhor, uma sobrecarga "técnico-tática-fisico-mental"? Como abstrairmos a idéia de um "agente estressor" que provoque respostas integrais e integradas no jogador de futebol, que o permita se desenvolver, aumentando sua performance de jogo?

Certamente nos jogos em campo reduzido o volume de passes, finalizações, desarmes, coberturas, marcações duplas (e as mais diversas e inusitadas situações-problema de jogo) ocorrem em maior escala. Em outras palavras, no campo reduzido a sobrecarga parece maior. Ao se manipular as regras do jogo nesses treinamentos, é possível ainda priorizar esse ou aquele princípio do jogo, amplificando ainda mais a sobrecarga para determinada variável.

Ocorre, porém, que ao mesmo tempo em que se exige mais de determinadas variáveis, corre-se o risco de "desprestigiar" outras. Por isso, a condução de um treinamento com prevalência de um objetivo tático precisa ter regras bem ajustadas, para que ao se buscar de forma específica a sobrecarga do jogo não ocorra um indesejável distanciamento do próprio jogo.

Por outro lado, os coletivos são "exercícios" que se aproximam do jogo e que podem trazer situações-problema altamente especializadas. Talvez a carga do coletivo não seja a SOBRECARGA desejada para o desenvolvimento integral do atleta em sua preparação para o jogo, mas é inegável que ele exige o que mais próximo de um jogo um exercício pode exigir.

No entanto, mesmo o coletivo por si só pode não representar as exigências que proporcionem o desenvolvimento da equipe. Se uma equipe joga no 1-4-4-2 em linha e no coletivo enfrenta invariavelmente um 1-4-4-2 em losango, estará ela exercitando situações-problema restritas às possibilidades desse confronto. Então, mesmo no coletivo, deve-se buscar um maior número de situações que permitam a equipe uma melhor compreensão sobre o jogo.

Certamente, se fossem os coletivos a solução para a preparação de uma equipe, talvez melhor fosse buscar algo mais específico ainda: ao invés de treinar para o jogo através do coletivo, dever-se-ia treinar para o jogo jogando sempre formalmente de forma competitiva (por exemplo participando de competições paralelas de menor expressão ou fazendo amistosos contra equipes de nível).

Então, a melhor solução é quebrarmos paradigmas (como tem feito o português José Mourinho). Os jogos em campo reduzido, os jogos adaptados, os treinamentos de ataque contra defesa ou os "Coletivos" devem ser etapas de um processo que se completa jogando o jogo. O coletivo não deve ser entendido como um jogo sem pretensões de melhora tática.

É óbvio, mas ainda se alardeia que treino tático é uma coisa, treino técnico é outra e coletivo… (Então um coletivo onde
há uma regra que diz que a equipe de posse da bola, ao ultrapassar a linha do meio-campo, tenha 4 segundos para ter todos os jogadores (exceto o goleiro) posicionados dessa linha para frente, deixa de ser coletivo porque tem uma regra que taticamente "exige" rápida compactação?).

Da mesma forma, um jogo usando metade do campo, trabalhando ataque contra defesa deixa de ser jogo "coletivo" porque é chamado de treino tático?

Certa vez um treinador viu seu time sofrer um gol logo após ter um de seus jogadores expulsos. Após o jogo disse que sua equipe sofrera o gol porque não houve tempo hábil para orientá-la para aquela situação (de um jogador a menos em dada posição). Qual a relação disso com o texto acima? Certamente os jogadores, condicionados à tutela do comando técnico, não foram capazes de, naquela situação-problema, resolver, a partir de rápida leitura do jogo, àquela nova exigência tática.

Então vos pergunto, caros amigos: o que faltou para o rápido re-arranjo tático da equipe? Mais "coletivos" ou mais "treinamentos táticos" (didaticamente falando)?

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