O que o Campeonato Brasileiro precisa aprender com Luciano do Valle

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O Campeonato Brasileiro de 2014 começou sem o grito de gol de Luciano do Valle, um dos maiores comunicadores da história do esporte nacional. Entretanto, o Campeonato Brasileiro de 2014 não começou em silêncio. No lugar do luto, um dos piores tipos de barulho: a gritaria advinda dos tribunais, que ameaça a principal competição do país.

É significativo que a morte de Luciano do Valle tenha acontecido no primeiro fim de semana do Campeonato Brasileiro de 2014. Vítima de infarto, o narrador esportivo de 66 anos foi acometido por um mal súbito no sábado, quando viajava a Uberlândia para narrar Atlético-MG x Corinthians.

A primeira rodada do Campeonato Brasileiro teve apenas 16 gols em dez partidas. É a pior média de um fim de semana inaugural desde 1994, quando o torneio registrou 1,37 gol por jogo na rodada de abertura.

A ausência de gols é uma espécie de homenagem a Luciano do Valle. Sem ele, os gols não teriam mesmo o sentido adequado. Ainda que tenha sofrido muitos problemas nos últimos anos, o narrador principal da TV Bandeirantes mudou a história do esporte na televisão brasileira.

Luciano do Valle mudou porque soube transmitir emoção em qualquer situação. Em qualquer jogo. Em qualquer competição. Uma das maiores contribuições dele foi abrir espaço para modalidades como basquete, futebol americano, vôlei e até sinuca na TV aberta.

Além de narrador, Luciano do Valle foi um empreendedor. Ele desenvolveu produtos como a seleção brasileira de másters e o futebol dente de leite, e ainda criou espetáculos como um jogo de vôlei no Maracanã.

“A rivalidade que existia entre mim e a Paula foi totalmente criada por ele. O Luciano soube aproveitar que as duas estavam no Brasil e usou isso para promover o basquete. Ele colocou nossos nomes na cabeça do público”, disse a ex-jogadora de basquete Hortência, um dos maiores nomes da modalidade no país, no velório do narrador.

“Ele era um realizador. Eu estive com o Luciano em tantas empreitadas que vocês nem fazem ideia. O Luciano sonhava durante a noite e realizava durante o dia”, completou o narrador esportivo Octávio Muniz.

Todos os jogos da primeira rodada do Campeonato Brasileiro tiveram um minuto de silêncio em homenagem a Luciano do Valle. Mas será que esse tempo foi suficiente para pensar no que ele ensinou para o esporte nacional?

Com um espaço na TV aberta, Luciano do Valle soube promover produtos que não eram exatamente populares. Soube transformar figuras como o pugilista Adilson Maguila em personagens populares.

A marca Maguila, aliás, foi registrada por Luciano do Valle e doada ao pugilista. “Ele foi bom para mim, e eu fui bom para ele”, resumiu o ex-atleta no domingo, durante o enterro do narrador.

O maior diferencial de Luciano do Valle como narrador sempre foi a emoção. Ele não foi um profissional de bordões ou de precisão técnica – na fase final da carreira, principalmente.

O maior ensinamento de Luciano do Valle, porém, não foi esse. Ele mostrou ao esporte nacional que produtos podem ser potencializados se tiverem a promoção adequada. Que há espaço para diferentes modalidades, campeonatos e ídolos se um trabalho adequado for realizado em torno disso.

Essa era a homenagem que o futebol brasileiro podia ter prestado a Luciano do Valle. A primeira rodada do Campeonato Brasileiro podia ter servido como marco para um modelo de promoção e de divulgação dos jogos.

Além disso, o Campeonato Brasileiro podia ser um pouco mais visto como um produto. Algo que perde valor quando é questionado ou ameaçado de diferentes lados. Algo que não dá espaço a contendas judiciais como as que se arrastam desde o ano passado.

No fim, é isso: não importa se a razão é a da Portuguesa ou da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Não interessa se a infração do Figueirense prescreveu ou se o Icasa tem direito de jogar a Série A. Não faz diferença em qual divisão deve estar o Betim. Em todas essas batalhas, quem perde é o futebol.

Enquanto o produto não for promovido de forma adequada e esse tipo de notícia ainda tomar espaço, o futebol brasileiro não vai ser grande. Não foi grande nem na voz de Luciano do Valle.

O futebol brasileiro tem uma história de momentos grandes, mas de realidade pequena. É uma oscilação que quase repete o roteiro de um jogo. E desde o último sábado, o país ainda tem um motivo a menos para esperar 90 minutos por poucos gritos de gol. 

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