Entrevista Tática – Guilherme Almeida, zagueiro do Verdy Tokio-JAP

Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade
Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade

Com o auxílio do treinador Rodrigo Bellão, companheiro de trabalho e com muita experiência em categorias de base, publico a coluna desta semana.

O atleta entrevistado teve boa parte de sua formação na Portuguesa-SP e, atualmente, defende o Verdy Tokyo pela segunda divisão do futebol japonês.

Ao longo da entrevista, algumas informações que confirmam aquilo que recorrentemente discutimos, como a importância do futebol de rua para a formação e a velocidade de jogo em outros centros, superior ao jogo brasileiro. Confira:

1 – Quais os clubes que você jogou a partir dos 12 anos de idade? Além do clube, indique quantos anos tinha quando atuou por ele.
Aos 13 comecei a jogar na Portuguesa-SP e fiquei lá até aos 17, quando me transferi para o Palmeiras-SP e joguei por dois anos. Com 19 anos fui para o São Paulo-SP e com 20 para o Avaí-SC. Hoje estou com 21 anos e jogo no Verdy Tokyo, do Japão.

2 – Para você, o que é um atleta inteligente?
Creio que existem vários conceitos para ser um atleta inteligente. Um deles é ter a mentalidade que nunca sabemos de tudo, que precisamos aprender a cada dia. Aquele que consegue absorver o máximo de aprendizado de cada dia de trabalho e no nosso caso a cada dia de treino.

3 – O quanto o futebol de rua, o futsal ou o futebol de areia contribuiu para a sua formação até chegar ao profissional?
O futebol de rua com certeza me ajudou muito, pois a minha infância toda foi ralando os dedos no asfalto. Isso me deu uma “malandragem” boa no “mundo da bola”. Já o futsal foi onde comecei a dar os primeiros passos até descobrir que era no campo que ia me encontrar como jogador.

4 – Em sua opinião, o que é indispensável numa equipe para vencer seu adversário?
Acredito que todos os jogadores, independentemente se titulares ou reservas, terem a mesma vontade, o mesmo entendimento tático, todos (como usamos no mundo do futebol) “comprarem a ideia do treinador”, se dedicarem a ela, e acreditarem que vai dar certo se tiver o entendimento e a entrega do grupo todo. Os talentos individuais, que decidem uma partida, só aparecem se o time estiver bem durante um jogo.

5 – Quais são os treinamentos que um atleta de futebol deve fazer para que alcance um alto nível competitivo?
Acho que individualmente treinar ao máximo em cima das dificuldades. Digo por mim que tinha dificuldades para usar a perna esquerda e me dediquei a treinar e hoje tenho facilidade para usar a mesma. Essa questão também se enquadra em uma das perguntas anteriores sobre ser um atleta inteligente. Trabalhar em cima dos “defeitos” também é uma qualidade de jogadores inteligentes!

6 – Para ser um dos melhores jogadores da sua posição, quais devem ser as características de jogo tanto com bola, como sem bola?
Ao meu ver, para ser um bom zagueiro é preciso ter uma boa saída de bola, conseguir sair da pressão com qualidade de passe e ter um bom cabeceio. Sem a bola ter uma boa recomposição e entender bem as movimentações das linhas, tanto a de trás como a da frente. E, é claro, ter o extinto de defensor: de se entregar na marcação para evitar a dádiva do futebol que é o gol.

7 – Quais são seus pontos fortes táticos, técnicos, físicos e psicológicos? Explique e, se possível, tente estabelecer uma relação entre eles.
É sempre difícil falar de si, mas por ter jogado de meio-campista e volante por um bom tempo tenho uma boa qualidade de passe. Taticamente, consigo entender bem as movimentações e mudanças de posição. Como não sou um zagueiro de força supro isso com a inteligência, concentração e outros quesitos.

8 – Pense no melhor treinador que você já teve! Por que ele foi o melhor?
Eu tive vários treinadores bons, mas teve um que marcou pois ele ajudou muito no meu crescimento. Ele me apontava os defeitos, me fazia trabalhar em cima deles e me ensinou a usar a minha inteligência ao meu favor. Ele era calmo, não usava palavrões, não gritava e não usava essas “armas” que normalmente são usadas por treinadores e que são comuns no futebol. Mesmo assim ele tinha o grupo nas mãos! Fez um time que não era tão bom tecnicamente, se entregar na parte física e tática e chegar a uma semi final de campeonato, onde poucos acreditariam que chegássemos

9 – Você se lembra se algum treinador já lhe pediu para desempenhar alguma função que você nunca havia feito? Explique e comente as dificuldades.
Na minha trajetória já joguei em varias posições. Comecei de meia, depois volante e hoje zagueiro. Nunca tinha jogado de lateral direito e teve um jogo que precisei fazer essa função. Nosso lateral foi expulso, tínhamos feitos as três substituições e precisei jogar. Com um jogador a menos mais defendi do que ataquei, mas por orientar demasiadamente o meu lateral direito quando jogo de zagueiro eu sei o que ele tem que fazer. Então não tive muita dificuldade para exercer essa função, só fiquei um pouco mais cansado, pois lateral corre demais.

10 – Qual a importância da preleção do treinador antes da partida?
A preleção é de suma importância, pois são acertados detalhes sobre o que faremos dentro de campo principalmente taticamente. Muitos confundem preleção com motivação. Eu discordo, pois se um jogador está no vestiário pronto pra entrar em campo e está desmotivado ele não é um jogador de futebol. Creio que não é preciso motivar nenhum jogador de futebol para jogar!

11 – Quais são as diferenças de jogar em 4-4-2, 3-5-2, 4-3-3, ou quaisquer outros esquemas de jogo?
Na minha posição muda a movimentação da linha, o jeito de se fazer coberturas, muda o modo de fechar para ser atacado, muda o jeito de subir a linha e dar o apoio para que outro jogador saia para dar combate.

12 – Comente como joga, atualmente, sua equipe nas seguintes situações:
• Com a posse de bola;
• Assim que perde a posse de bola;
• Sem a posse de bola;
• Assim que recupera a posse de bola;
• Bolas paradas ofensivas e defensivas

Com a bola somos muito agressivos e sempre procuram o jogo pra frente. Quando perdemos a bola a pressão é muito forte sobre a bola independente em que parte do campo ela se encontra. Quando recuperamos a posse, o primeiro objetivo é sempre pra frente, sempre procurar o gol.

Pecamos um pouco nas bolas paradas no começo do campeonato, mas estamos treinando forte em cima disso e já houve melhoras nos últimos jogos.

13 – O que você conversa dentro de campo com os demais jogadores, quando algo não está dando certo?
Procuramos achar o erro para acertar, pois quando conseguimos diagnosticar o que está err
ado é mais fácil acertar. Complica quando não conseguimos achar o erro, ou então, quando conseguimos achar tarde demais e o placar já está desfavorável.

14 – Como você avalia seu desempenho após os jogos? Faz alguma reflexão para entender melhor os erros que cometeu? Espera a comissão técnica lhe dar um retorno?
Eu sou um jogador que me cobro muito e procuro sempre corrigir o que errei e trabalhar em cima do que acertei para continuar acertando. Normalmente eu vou atrás dos DVD’s dos jogos para que eu tenha a visão de quem está de fora, que é totalmente diferente da nossa que estamos lá dentro.

15 – Para você, quais são as principais diferenças entre o futebol brasileiro e o europeu? Por que existem estas diferenças?
Vou comparar com o futebol japonês que é onde estou hoje. O futebol brasileiro é mais cadenciado, mais técnico, é um futebol mais bonito e mais clássico. Aqui no Japão o jogo é muito corrido, é o tempo todo em velocidade e com muita pressão sobre a bola. Não sei falar ao certo o porquê exatamente existem estas diferenças. Temos muito que aprender com eles e com certeza eles têm muito mais que aprender com nós, brasileiros, pois somos o pais do futebol independente de qualquer coisa.

16 – Se você tivesse que dar um recado para qualquer integrante de uma Comissão Técnica, qual seria?
Eu acho que comissão técnica tem que ser um amigo e não um inimigo do atleta. Tem que saber separar as coisas, saber a hora de cobrar severamente e a hora de conversar e saber o que está passando na cabeça do jogador. Ser jogador de futebol é uma mistura de sentimentos muito grande. Eu não vejo outra profissão que tenha esta mistura, pois você se sente ansioso, feliz, triste, motivado, preocupado, nervoso, tranquilo, cobrado, etc. Esta mistura de sentimentos às vezes atrapalha se não tiver pessoas para dar o suporte necessário. Nem sempre o jogador de futebol entende as coisas através de gritos, broncas e palavrões. As vezes uma conversa individual com um jogador pra mostrar onde ele pode evoluir é muito mais produtiva. Gostaria de dizer também que se a ele entregamos a confiança de conduzir nosso trabalho, esperamos que ele nos ajude a evoluir para que juntos possamos crescer, pois quando se ganha todos ganham e quando se perde todos perdem, inclusive a comissão.

Compartilhe

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email
Share on pinterest

Deixe o seu comentário

Deixe uma resposta

Mais conteúdo valioso