Não sou antropólogo, mas vou me reservar o direito de fazer uma breve análise sobre duas características comuns que identifico na maioria dos brasileiros: a paixão e a intensidade no sentido de querer evidenciar suas inúmeras emoções. Esta combinação gera um comportamento muito peculiar: o exagero de felicidade quando tudo vai muito bem e o extremo oposto quando acredita que muita coisa vai mal.
Conversando com o amigo Bruno Teixeira, também gestor do esporte, a frase que pareceu ser consenso em uma breve análise sobre o que se tem falado pela opinião pública e a sociedade em geral sobre os gastos (ou investimentos) na Copa e nos Jogos Rio 2016 é esta: “não há equilíbrio nos comentários sobre o assunto”.
E é verdade. São poucos os textos ou depoimentos que abordam claramente os prós e contras. Tudo parece, agora, que cada brasileiro deve defender de que lado está: se do Governo, deve colocar os megaeventos em um pedestal das genialidades de tomada de decisão do poder público em benefício do seu povo; se da Oposição, com o discurso de que o dinheiro dos megaeventos resolveria, de uma vez só, todos os problemas da saúde, segurança e educação.
Ambos são vazios e não encontram respaldo no campo real. Existem sim coisas boas em se realizar megaeventos, com impactos tangíveis e intangíveis que são interdependentes aos objetivos que um determinado local ou país tem com ele. Por exemplo, o Brasil pretende, há algum tempo, se apresentar como um importante destino turístico internacional (hoje, a soma de visitantes por ano em São Paulo e Rio de Janeiro é idêntica ao que Buenos Aires recebe – http://blog.euromonitor.com/2014/01/euromonitor-internationals-top-city-destinations-ranking.html
Copa e Olimpíadas são, principalmente, uma grande plataforma de comunicação global que atinge, durante 15 ou 30 dias, mais da metade da população mundial. Estes megaeventos poderiam contribuir em muito para um melhor posicionamento do turismo brasileiro em âmbito internacional. Contudo, a soma de projetos frágeis com a onda de pessimismo da população, que vem paulatinamente incentivando uma “anti-promoção” do país, tem impedido a construção de um legado mais positivo neste sentido.
Por sua vez, é verdade que muita coisa poderia ter sido feita de maneira diferente. É fato que poderíamos ter investido de forma mais inteligente os recursos públicos nos megaeventos. Mas antes de ter um olhar míope sobre o que tem sido feito com o esporte, é preciso debater objetivamente soluções visando a melhoria da aplicação de recursos públicos em todas as esferas. O esporte é tão vítima da ineficiência e da falta de clareza das políticas públicas quanto outras áreas.
Entre desvios, corrupção e, principalmente, má gestão, perdemos muito em eficiência. E é sabido que este é um mal que não “privilegia” o poder público, mas sim a população como um todo, que coaduna com este sistema nefasto.
Está claro que não falta dinheiro para investir no Brasil. E dentro deste espectro de investimentos, é também papel do poder público dispender recursos com a promoção de lazer da população (está, inclusive, na nossa Constituição Federal – artigos 6º, 217 e 227). Tenho plena convicção de que todos os cidadãos já usufruíram desta benesse, seja no Carnaval de Salvador, no show do Roberto Carlos gratuito na praia, na Luta do UFC disputada em um ginásio público, na Oktoberfest realizada anualmente em Blumenau ou tantas outras plataformas de entretenimento.
Debater e lutar por um país melhor é direito e dever de todos os brasileiros. Que o façamos de maneira ponderada, com sabedoria, analisando prós e contras e, acima de tudo, utilizando dos meios mais adequados para tais reivindicações, pensando no todo e não apenas no próprio umbigo. Afinal, ser feliz é saudável, seguro e gera aprendizados!!!