Fernandão

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Como assim?

Capitão campeão não morre.

Com 36 anos, em acidente aéreo?

Não.

Não torço por nenhum dos clubes pelos quais ele defendeu com honra e seriedade. Mas adoraria tê-lo visto com a 9 esmeraldina. A do Palmeiras, não do Goiás de berço. Do coração que também se tingiu de vermelho.

Da alma colorada que não sabe agora como expressar a dor pela perda de quem só soube ganhar no Beira-Rio. Não só títulos. Respeito. Admiração. Um lugar na história eterna.

Para a caríssima colega colorada Renata Fan, nem o caríssimo colega Falcão é mais ídolo que ele.

Gol 1000 do Gre-Nal em que vestiu pela primeira vez a camisa vermelha. Referência do Inter campeão do mundo contra Ronaldinho do Barcelona e do Grêmio.

Capitão que ergueu a taça da conquista da América. Capitão que foi para o outro lado do mundo conquistá-lo erguendo acima da cabeça privilegiada o troféu da Fifa.

Atacante, meia-atacante, técnico, inteligente, sabia se colocar dentro e fora da área e do campo.

Mas me recuso a colocar Fernandão no passado. Ele segue presente na vida de quem gosta de alguém que joga e se joga por um time.

Não há torcedor do Goiás e do Inter que não queira ainda olhar para a grande área esperando ver aquela figura por ali. Em qualquer área. Ajudando no cabeceio, orientando, dando um pé. Mão. Coração.

É daqueles caras legais que a gente gosta por ser gente. Não precisava jogar o que jogou. Ganhar o que venceu. Bastava ele ser do nosso time. Era um orgulho. Bastava isso. Era da nossa gente.

Esse é o maior título. Campeão no futebol qualquer um pode ser. Campeão pela vida é para poucos.

Fernandão é ídolo que não precisa dar carrinho na lateral. É torcedor que sabe como se portar. Soube como honrar a profissão com inteligência privilegiada. Dando a cara de titãnio pra bater.

Gostava de contar histórias das placas que tinha pelo rosto, fruto de pancada futebolística. Homem de ferro. De convicções férreas. De conduta pétrea.

Começava agora carreira de comentarista. Tinha tudo para dar mais certo do que dera no Inter como diretor e treinador. Sabia do que falava. Sabia o que fizera. Sabia.

Só não sabemos dizer a falta de um ídolo. E tão jovem.

Para a família, toda a força do mundo que ele ganhou em 2006.

Para as torcidas em luto, tudo que um ídolo traz de lembrança.

Um minuto de barulho por um grande.
 

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

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