A estruturação das competições

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Com o término da Copa, o foco dos debates e comentários agora volta a ser a estruturação do futebol brasileiro, que é bradada por muitos no sentido de posicionar o Brasil como a maior potência do esporte mundial. Um dos focos desta estruturação passa pelas competições, que se coloca como base para que o país possa ter um melhor produto vendável para um “público sedento por consumo”.

É inegável a necessidade de se debater e de transformar em algumas medidas o calendário do futebol brasileiro. Mas, seguindo o tom dos meus últimos textos, precisamos ter cautela. Vejo muitas propostas que parecem fazer muito sentido em termos esportivos, mas não levam em conta o aspecto financeiro em relação à autossustentabilidade das competições no médio-longo prazo.

Quer-se uma transformação do dia para a noite, subsidiada pelo governo ou a CBF – aliás, é comum da nossa cultura esperar que alguém, alheio ou não ao processo, pague a conta, sem determinar efetivamente quanto, como e por que deve pagar!!! E este é o ponto: não se pode querer uma ruptura total já em 2015 com recursos alheios.

Para o crescimento das competições e a ampliação da participação de mais clubes com um calendário mais consistente e duradouro do que os atuais 3-4 meses, é preciso “fazer crescer o bolo financeiro” aos poucos, em um plano que compreenda a realidade da maioria dos clubes pequenos e que leve em conta um desenvolvimento orgânico. Ilustro esta breve retórica com dois exemplos: um do momento atual e outro com a narrativa de um fato histórico.

Primeiro, a saber, conforme divulgado no site www.srgoool.com.br, na primeira rodada da Série D do Campeonato Brasileiro deste ano, que ocorreu no último final de semana, das 16 equipes que jogaram em casa, nada menos do que 11 “pagaram para jogar”. Isso mesmo, 11 equipes, fazendo um cruzamento da renda líquida sobre o número de “pagantes”, tiveram que pagar para cada torcedor ir ver o jogo. A Cabofriense-RJ, por exemplo, “pagou” o equivalente a R$ 53,22 para cada um dos seus 134 torcedores irem ao estádio ver o jogo diante do Guarani de Palhoça-SC. Essa premissa, obviamente, não se restringirá à primeira rodada. A tendência é que se repita ao longo dos próximos 5 meses de competição. Ou seja, não temos mercado consumidor, por enquanto, para sustentar mais do que as 60 equipes das Séries A, B e C (sabendo que algumas destas equipes igualmente são deficitárias).

O segundo caso é um que remonta o ano de 1995, quando eu acompanhava futebol apenas como torcedor. Naquele ano, assisti todos os jogos em casa do Joinville-SC na Série C do Campeonato Brasileiro. O JEC foi derrotado nas quartas-de-final pelo XV de Piracicaba (em jogos de ida e volta), equipe que lançou naquela época o famoso “Carrossel Caipira” com o técnico Oswaldo Alvarez e se sagraria campeão Brasileiro da Série C na final contra o Volta Redonda, 4 jogos mais tarde.

Pois bem, o regulamento da Série C de 1995, que contou com 107 equipes (sendo que praticante 80% das equipes jogou menos de 8 jogos e o campeão disputou 16 partidas) previa o acesso de 2 equipes para a Série B de 1996. Acontece que, ao se definir o regulamento e as equipes para disputarem a Série B de 1996, houve várias desistências, abrindo vaga para o 3º, 4º, 5º e 6º colocados da Série C, que acabou por incluir o Joinville-SC na Série B de 1996 (além de ABC, Atlético Goianiense e Gama). Isso mesmo: 4 equipes simplesmente desistiram de participar da Série B por razões econômicas!!! Série B!!!

O que isso quer dizer? Passados aproximadamente 10 anos desde 1996, a Série B se tornou um produto bom em meados da década de 2000. Hoje, quase 20 anos depois, é um produto consistente para equipes de médio-grande porte. A Série C, desde que foi implantado um novo formato de disputa em 2009 (com 20 clubes), vem ganhando espaço na mídia e está em um bom processo de crescimento. Esse processo de desenvolvimento até a sua efetiva consolidação tende a levar mais 5 ou 10 anos.

É isso que precisamos compreender ao propor inovações no calendário e no formato das competições: que nem todos os clubes terão condições de jogar em um sistema profissional (a constatação é dura, mas é real) e o desenvolvimento levará, naturalmente, bons anos para se consolidar – será preciso analisar todas as etapas para não haver atropelos e tampouco rupturas que desviem o foco.

E é lógico: com boa gestão, somado à qualidade do projeto, a tendência é que a curva de crescimento se acelere. O que não existe é o alcance de um “patamar ótimo” do dia para a noite. Não existe mágica… nem no futebol, nem em nenhum outro tipo de negócio no mundo!!! 

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