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Os problemas do futebol brasileiro se repetem. Em muitos casos, parece que ao invés de buscarmos as melhores soluções para os evidentes elementos que apontam a decadência do nosso espetáculo, preferimos a reprodução fundamentada no conhecimento empírico e que tem contribuído para o reconhecido ciclo vicioso dos processos relativos à modalidade.

Um tema que sempre proporciona grandes debates (o que não significa que ocasionam perceptíveis transformações) é a Categoria de Base e suas responsabilidades num processo de formação.

Na coluna desta semana, o debate proposto diz respeito à definição da posição dos atletas durante o período de formação que, sabidamente, deve proporcionar um rico ambiente de ensino-aprendizagem-treinamento.

Tempos atrás, neste espaço, numa coluna de certa forma voltada às questões mais imediatas na composição do elenco, foi proposto um questionamento quanto à preferência do treinador por jogadores especialistas numa posição, ou então, por jogadores versáteis. Caso tenha interesse de retomar a leitura, clique aqui.

Na ocasião, por não ser este o objetivo, pouco se mencionou sobre a influência das Categorias de Base no resultado final do desempenho global de jogo de um atleta de futebol, o que pode torná-lo tanto especialista como multifuncional.

Nas inúmeras discussões que envolvem este tema, existe uma corrente de profissionais que se posiciona contrariamente quanto à vivência (em treinos, amistosos e jogos) do atleta em diferentes posições ao longo do processo. Para estes profissionais, variar a posição do jogador significa improvisá-lo e, consequentemente, gerar prejuízos imediatos e de longo prazo ao atleta. Sob este viés, um volante em formação, por exemplo na categoria sub-15, com bom 1vs1 defensivo, bom cabeceio, boa antecipação e recuperação, que são algumas das competências necessárias para exercer a função de zagueiro, não poderia desempenhá-la sob pena de limitação atual e futura em sua posição de origem.

Além disso, o discurso adotado por esta corrente diz que a preocupação com o coletivo não deve ser maior que a preocupação individual com o desenvolvimento do jogador. O contrassenso observado é que a aparente preocupação predominante com o desenvolvimento individual vem acompanhada da pressão pelo resultado e seu alcance a qualquer custo (mas isso é tema para outra coluna). Além disso, muitos afirmam que o improviso só deve ser feito na categoria Profissional.

A demanda do futebol moderno tem solicitado jogadores inteligentes, capazes de resolver (em cada vez menor tempo e espaço) os inúmeros problemas que o jogo lhes impõe. Sair jogando mesmo com o adversário em pressão-alta, gerar superioridade numérica em setores perigosos ao adversário, escolher a maneira que vai bater na bola para realizar um passe longo e decidir qual movimentação fazer após a cobrança de uma falta lateral do adversário são apensas alguns dos exemplos das situações-problema que o todo (equipe) e partes (jogadores) devem lidar ao longo de uma partida.

Atletas que sabem “pisar” em diferentes locais do terreno de jogo (que exigem soluções técnico-tática-física-mental diferentes), por possuírem maior inteligência de jogo, tendem a apresentar um significativo leque de possíveis, que são as respostas contextualizadas de cada jogador. E como o jogo de futebol é um confronto de sistemas caótico e dinâmico, por várias vezes em uma partida um atleta é exigido a realizar uma ação distinta daquela predominante em sua posição. Para exemplificar, na última quinta-feira, o Cruzeiro, líder do Campeonato Brasileiro, venceu o Grêmio com o gol originado numa jogada de transição ofensiva feita por Dedé, que recuperou a posse de bola, participou de uma tabela, realizou uma condução e terminou com um cruzamento preciso. Resumindo, um zagueiro que cumpriu de maneira eficaz as regras de ação de um lateral.

E qual o melhor momento para o atleta aprender a desempenhar variadas regras de ação?

Sem dúvida, ao longo do processo de formação.

É consenso que o objetivo das Categorias de Base é formar (bem) integralmente o atleta. Possibilitar que o mesmo vivencie diferentes regras de ação (ofensivas, defensivas e de transição) é o primeiro passo para as experiências futuras em distintas posições. Em fase sensível de aprendizagem, ao contrário do que defende a corrente dos que são contra aos “improvisos”, entender o jogo coletivo e saber desempenhá-lo nos mais diferentes setores do campo permitirá que as experiências vividas e acomodadas se estendam ao longo de toda a carreira. Assim o fazem profissionais como Pirlo, Lahm, Di Maria, Mascherano, Oscar e Rooney.

Os problemas do futebol brasileiro se repetem. Improvisar e formar são excludentes quando deveriam ser complementares.

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