A relação numérica, a mudança de regras e a lógica do jogo – parte II

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Caros leitores,

Continuando o tema proposto na última coluna, nesta semana discutiremos como a criação de regras e consequente mudança na Lógica do Jogo pode provocar alterações nos resultados apresentados pelas equipes em Jogos (leia-se treinos) com diferentes relações numéricas de inferioridade/superioridade.

Para relembrar, em síntese, o artigo apresentado na publicação anterior mostrou que:

• Equipes em inferioridade correm mais;
• O nível de habilidade dos jogadores influencia a ocupação racional do espaço de jogo da equipe com menos jogadores;
• O índice de estiramento das equipes em inferioridade numérica diminui;
• A equipe em superioridade se distancia da própria meta;
• A equipe em inferioridade se aproxima da própria meta;
• A modificação na distância das linhas de força defesa-ataque e ataque-defesa.

Vale lembrar que a equipe em inferioridade, apesar de apresentar maior aproveitamento de finalizações, venceu somente quando jogou com os 5 jogadores de linha. Nos outros dois jogos (com 4 e 3 jogadores), empatou ou perdeu.

Numa análise subjetiva, muitos dos comportamentos comprovados estatística e cientificamente são esperados quando uma equipe passa a defender em inferioridade. Porém, e se alterarmos as regras do jogo? E se inserirmos restrições de toques na bola, pressão de tempo para finalizar, ultrapassagem de setores para pontuar ao invés de mini-gols, ou então, quaisquer outras regras que direcionem os comportamentos de jogo pretendidos? Será que os mesmos padrões serão apresentados ou as modificações na Lógica do Jogo (logo, na forma de vencê-lo) induzirão a(s) equipe(s) para respostas individuais e coletivas diferentes das apresentadas acima?

Para alimentar a discussão serão criados, hipoteticamente, alguns cenários que, subjetivamente, podem ter repostas distintas das evidenciadas anteriormente. É válido mencionar que, bem como no artigo (Silva et al., 2014) a comprovação científica enriqueceria a discussão.

Imaginemos um Jogo de 10 + GR vs 8 + GR, disputado em um campo com dimensões de 66,5x68m com algumas divisões espaciais no campo de ataque. As regras para a equipe em superioridade seriam as seguintes:

• Limite de 2 toques na bola até a intermediária ofensiva;
• Após cada passe, obrigatória a mudança de setor ofensivo. Se não mudar recebe uma punição. 3 punições equivalem a 1 ponto ao adversário;
• Perder a posse no campo de ataque e não recuperá-la em até 5 segundos = 1 ponto ao adversário (pontuação só vale se o local em que se encontra a bola após 5 segundos for pelo menos na mesma linha da recuperação da posse).
• Invasão da linha de fundo ou linha da grande área = 1 ponto
• Gol = 5 pontos

Já as regras para a equipe em inferioridade seriam:

• Limite de 3 toques
• Finalização que o goleiro não realize uma defesa completa = 1 ponto
• Gol = 5 pontos
• Gol de fora da área = 15 pontos

Para tentar ganhar esta atividade, a equipe em superioridade vai precisar de muita mobilidade ofensiva (para não dar pontos ao adversário) e movimentações em profundidade (para pontuar com progressões). Além disso, terá também que buscar o gol e “tirar” o contra ataque oponente, pois o adversário conseguir manter a posse de bola em progressão vale ponto e gol de fora da área valerá muito ao adversário.

Em contrapartida, parece que a melhor forma da equipe em inferioridade jogar esse jogo seja abaixar o bloco, orientar-se mais para impedir progressão do que para recuperar a posse e aproveitar espaços de média/longa distância para arriscar finalizações e tentar “matar o jogo”.

Aparentemente, este jogo será mais intenso para a equipe em superioridade. A obrigação de acelerar o jogo com mobilidade e transições defensivas agressivas na tentativa de aproximar da vitória será toda dela.

Seguindo com mais um exemplo, imaginemos outro jogo, desta vez de 8 + GR vs 7 + GR em dimensões de 50x68m. A equipe em inferioridade ataca 2 mini-gols dispostos na faixa central da linha do meio-campo, além de corredores para passagens nas duas faixas laterais. Abaixo, as regras para a equipe em superioridade:

• Limite de 2 toques na bola. Livre somente para os extremos da estrutura 1-4-3-1
• Gol = 2 pontos
• Jogada de fundo com os extremos, seguida de gol = 5 pontos.

Para a equipe em inferioridade teriam as seguintes regras:

• Limite de 3 toques na bola
• Circular a bola de uma faixa a outra desde que haja progressão vertical do ponto inicial ao ponto final = 1 ponto
• Passagem com a bola dominada na faixa lateral = 1 ponto
• Gol caixote = 1 pontos
• Passagem na faixa lateral e gol caixote só podem ser feitos após pelo menos 3 trocas de passes.

A equipe em superioridade deve jogar em largura com os extremos na tentativa de fazer gols com maior número de pontos. Já a equipe com menor número, tem mais chance de ganhar se for eficiente na abertura do campo, circulação da posse e jogo apoiado. Com estas combinações de regras, apesar da inferioridade numérica, parece que não haverá redução no índice de estiramento da equipe em inferioridade (tanto para manter a linha esticada para marcar os extremos como para construir as ações ofensivas fazendo campo grande a atacar).

Conhecer as necessidades globais da equipe é imprescindível para o planejamento das sessões de treinamento. De acordo com os elementos que ela precisa evoluir, a comissão tem diversas possibilidades à disposição para construir as atividades. Alterar dimensões, número de jogadores e criar regras de constrangimento ou indução são algumas alternativas que facilitam o aumento da densidade de ações que se pretende para que a equipe adquira comportamentos de jogo.

Em todos os casos, pensar na Lógica do Jogo criado e estimular os praticantes a atingi-la será fundamental.

Obrigado pela sua companhia ao longo de 2014!

Parafraseando um amigo: que a felicidade ao longo de 2015 seja uma constante em nossas vidas!

Que venham novos desafios, novos treinos e novos jogos…

Nos vemos em 2015.

Grande abraço! 

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