A criação de uma liga de clubes para a gestão das competições do futebol brasileiro se tornou o tema do momento após a deflagração dos escândalos de corrupção na Fifa e que se lastrearam para as principais entidades do futebol das Américas, incluindo a CBF. Mas o que é uma Liga de Clubes? Para que serve? É a solução para todos os problemas no âmbito do futebol? Será que todos os que defendem uma liga sabem responder a essas perguntas…
Novamente e, infelizmente, o debate sobre este tema importantíssimo para o futuro do futebol brasileiro está pautado por um ambiente estritamente político, emotivo e com baixíssimo amparo técnico. A Liga por si não fará o milagre da transformação! Mas, se bem estruturada e pensada, poderá sim ser um marco para a consolidação do nosso futebol em um produto de referência em termos globais.
As colocações aqui posicionadas parecem óbvias: ambiente político x argumentos técnicos e estruturados. O grande problema é que, há pelo menos duas décadas, insistimos no viés político, o que gera baixíssima taxa de mudança por razões óbvias, que é a da proteção ao ambiente interno. Como querer que os clubes liderem a mudança se o sistema político destes é idêntico ao de federações e da confederação, mudando apenas o “colégio eleitoral”?
Se não pensarmos em um projeto que olhe para a questão com múltiplas visões, incluindo o respeito às instituições e seu sistema político e, ao mesmo tempo, busque alternativas exequíveis no tempo com uma percepção sobre o mercado, continuaremos a conviver com debates sem qualquer efetividade. A temperatura do tema uma hora vai cair – logo logo o assunto do momento será outro! Se não se elevar o nível do debate para o campo prático e estrutural, não será possível conseguir nada.
Trocar o poder de mãos para uma nova gestão que contém uma mesma linha de raciocínio tende a não fazer muita diferença – apenas alimentará o embate político citado acima. Também não vejo amadurecimento suficiente, ainda, dos clubes trabalhando como “sócios”, que é o que se preconiza de forma bem básica um ambiente de Liga.
Por isso e por muitas outras coisas, é preciso pensar em um formato inicial de Liga que seja híbrido e com transição gradual, por mais que isso não seja o ideal em termos de alavancagem e estruturação de negócios (já tivemos algo nesta linha com o finado “Clube dos 13” – e todos sabem também no que ele se transformou e como acabou). Não adianta querer forçar goela abaixo um modelo que não é nosso em estruturas viciadas de poder. Isso só será feito se um bom projeto for montado com base no mundo real e não no de fantasias que boa parte da opinião pública está tentando construir.
Mas como pensar em progressão e longo prazo no Brasil é tão utópico quanto sonhar com uma Liga totalmente profissional e independente como muitos desejam, muito provavelmente continuaremos assistindo um “discurso para a torcida” em contraposição a ações voltadas para dentro com o intuito de proteger o ambiente político!
Reiterando: enquanto não se apresentar e se alinhar com TODOS os agentes envolvidos o seu papel dentro de uma possível Liga, mostrando quanto que cada um ganha e qual a respectiva função de todas as partes, não teremos efetividade alguma. É preciso aumentar a régua do debate para que tenhamos algo verdadeiramente transformador!