Nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno. Esta será a tônica da análise desta coluna baseada nas inúmeras reportagens da última semana que versaram sobre os legados e os “legados” da Copa do Mundo de Futebol realizada no Brasil no ano passado. Separei algumas para ilustrar.
O fato é que, após um ano do megaevento, não foram poucas as tentativas de inflar as razões e emoções para tecer textos ou fazer comentários com baixo nível técnico (na maioria das vezes) e, pior, prejudiciais a qualquer tentativa de buscar uma evolução do segmento. Vamos a alguns deles:
1) ARENAS: já comentei em outras oportunidades que precisamos respeitar a taxa de aprendizado na gestão de novas arenas. Nós não temos, ainda, modelos de referência executados no país nesta área. Sim, temos alguns erros de projetos, que afetam em parte a sustentabilidade de algumas operações! Sim, poderíamos ter avançado mais rapidamente com base em experiências internacionais! Mas nem tudo pode ser jogado no lixo. Esta reportagem da Folha (http://goo.gl/1DxkqQ) é claramente um desserviço a evolução de pensamento que precisamos ter sobre a análise das novas arenas. Quando há tentativa de diversificação de receitas a partir de novos eventos, se é ridicularizado. Se a mesma estratégia fosse feita em uma arena europeia, por exemplo, seria ovacionada e festejada, como case de gênios. Vamos respeitar um pouco quem paga a (cara) conta da manutenção e operação destes equipamentos e contribuir com novas ideias e projetos para a sua rentabilização! Vamos também respeitar os eventuais erros nestas operações. O modelo de gestão de arenas esportivas no Brasil só será encontrado a partir de experiências brasileiras!
2) LEGADO: sim, bem-vindo ao mundo real. O legado estrutural prometido e associado com a Copa do Mundo não veio e não virá. Aliás, este vem sendo um erro tanto de FIFA quanto de COI de promessas de um mundo dos sonhos nos países ou cidades-sede de megaeventos que não se concretizou. O COI já percebeu esta falha – tanto que os Jogos Rio 2016 tendem a ser o último de um modelo que pertence ao passado (vide publicação da Agenda 2020) – e está se transformando no sentido de se adaptar os Jogos a cidade e não o contrário. O fato é que, apesar de grandiosos (gigantescos, mega ou o que for para colocar como superlativo), eles são “apenas” eventos esportivos. Se não respeitarmos as demandas e as características do país e das cidades-sede, não será possível construir legado. Não existe mágica. É triste ver este tipo de reportagem ((a) http://goo.gl/gzGG9u; (b) http://goo.gl/7XENaL; (c) http://goo.gl/TTpM87), principalmente pelo uso político do esporte, que agora nos transforma em vítima. Cabe a nós, do esporte, trabalhar para que, no futuro, o nosso segmento seja respeitado enquanto plataforma de negócio e não como instrumento para alavancagem de mal feitos políticos se quisermos ter algo positivo daqui para frente.
3) ANTECIPANDO OS 7×1: dentro de mais algumas semanas, preparem-se! Haverá muita gente querendo analisar o 7×1 e o “legado” deste resultado para o desenvolvimento do futebol brasileiro. Já antecipo: não, não mudou praticamente nada. Não parece ter havido aprendizado com o mal resultado esportivo como base para a transformação desejada do futebol brasileiro. E não haverá, se continuarmos a querer copiar os modelos daqueles que nos derrotaram. Enquanto não debatermos seriamente o nosso modelo de acordo com a nossa cultura, as características do nosso povo, das nossas instituições esportivas e demais pormenores, continuaremos a andar em círculo.
Para termos um legado de fato e podermos evoluir, precisamos melhorar também o nível deste debate. Enquanto trabalharmos com pensamentos completamente fora da realidade ao fazermos críticas sem embasamento sobre o que é e como funciona o nosso futebol, não haverá evolução, nem revolução, nem legado…