É um tanto quanto assustador acompanhar alguns fatos ligados aos clubes de futebol no país. Os mais recentes têm a ver com a forma de condução de inúmeros processos (ou falta deles) ligados ao Vasco da Gama.
E aqui não tem apenas a ver com o atual mandatário, que classicamente se apropria do clube. Tem também a ver, mas não é só, mesmo porque não são raros os casos em que ocorrem fatos similares em outros clubes.
O que fica evidenciado é a falta de trato e respeito com a marca do clube. Por isso, a palavra “apropriação” foi utilizada no parágrafo anterior. A lamentação está muito amparada pela perda de oportunidades e falta de aproveitamento do potencial de negócios que o futebol brasileiro possui e não realiza por força deste despreparo.
No nosso cenário, temos uma série de carros importados, de Ferraris a Lamborghinis, trafegando em estradas escuras, esburacadas e cheias de obstáculos pelo caminho. Nem o mais moderno radar de identificação de objetos é capaz de identificar a “surpresa” que vem pela frente. O pior de tudo é que, uma hora ou outra, um desses carros potentes chega antes dos outros. Todo amassado e com a cor desbotada. Mas chega.
Na analogia, obviamente, os carros são os clubes; a estrada é o campeonato e tudo o que o cerca (dos clubes rivais, que ao invés de se tratarem como parceiros, se encaram como inimigos mortais, a forma como é construído o debate em torno da competição enquanto produto de marketing e tantos outros pormenores); o radar talvez sejam os analistas, que de um jeito ou de outro tentam apontar os melhores caminhos para o futuro, apesar da insistência de os clubes em repetir insistentemente um modelo que se esgotou na década de 1990; o chegar na frente é que sempre pelo menos um dos clubes será o campeão (e outros 4-5 irão para a Copa Libertadores e, por conta disso, teoricamente, atingem seus objetivos, no caso do Campeonato Brasileiro), mesmo que para isso deixe um passivo e um enorme buraco de processos mal administrados que serão reclamados em questão de meses. O estrago, em muitas situações, é de difícil conserto.
Pelo caso citado no primeiro parágrafo é que é tão difícil falar em gestão do esporte no Brasil – afinal, estamos falando do atual Campeão Carioca, que acaba sendo o escudo e a justificativa para qualquer ação bem ou mal estruturada se sustentar no tempo dentro dos clubes. Está-se trabalhando com uma régua muito baixa e, portanto, o nível de aprendizado e de evolução do mercado é tão lento.
Enquanto não mudarmos a forma e o modelo de gestão dos clubes, a tendência é permanecermos discutindo as mesmas coisas ano após ano. Aliás, muitas das minhas colunas aqui na Universidade do Futebol dos últimos 5 anos poderiam ser simplesmente copiadas e coladas, uma vez que os problemas são quase sempre os mesmos neste ciclo temporal…