Primeiramente, o que é um “Jogador Inteligente”?
Fiz essa pergunta a alguns profissionais do futebol. A partir de suas respostas construí uma possível definição para a expressão acima:
“Jogador Inteligente é aquele que, num curto espaço de tempo, consegue identificar os problemas do jogo aos quais está exposto e executar as melhores soluções possíveis. Situação que também se transfere para suas ações extra campo (relação com companheiros, comissão, diretoria, mídia, torcedores, etc)”.
Sem a menor pretensão de afirmar que esta conclusão seja a definição oficial para o título de “jogador inteligente”, mas com o objetivo de buscar uma noção do que pensam aqueles que estão atuando com jogadores de diferentes idades, da base ao profissional, em grandes clubes do Brasil, para podermos iniciar uma discussão mais ampla sobre o assunto.
Dado esse padrão de opinião sobre o que é um jogador inteligente, lanço a pergunta que dá o título a esse texto: como você está formando jogadores inteligentes?
Em outra coluna (Toma decisões: algo simples e complexo) adentrei um pouco neste assunto e trouxe a sabida noção das vertentes (que são indissociáveis no jogo) física/técnica/tática/psicológica que compõem um jogador de futebol. Existem diversificados métodos usados para se desenvolver três destas vertentes, a física, a técnica e a tática, e a grande maioria dos profissionais do futebol tem bem definida (e domina) sua linha de trabalho para cada uma delas.
Porém, quando o assunto recai sobre a vertente psicológica, a responsabilidade acaba caindo somente sobre um psicólogo ou sobre o próprio atleta. Não seria o caso de os demais membros da comissão terem um pouco mais de domínio sobre o assunto afim de poder contribuir para uma intervenção mais eficaz neste viés? O que estamos fazendo no intuito de potencializar as tomadas de decisão de nossos jogadores?
Outros profissionais do futebol, do esporte e de fora do esporte, bem antes deste que vos escreve, também fizeram esta pergunta (mesmo que não diretamente relacionada à formação de jogadores de futebol). Abaixo apresento sucintamente alguns exemplos de profissionais que se dedicaram a encontrar alternativas para solucionar esta questão.
O River Plate, da Argentina, conta, em sua comissão técnica, com o suporte da Dra. Sandra Rossi, uma neurocientista que busca contribuir na melhoria das capacidades cognitivas dos jogadores. O vídeo abaixo apresenta um pouco do trabalho desta profissional.
A Dra. Paula Fernandes (psicóloga) e o Dr. Irineu Loturco (cientista do esporte) desenvolvem pesquisas a respeito do assunto, podemos conferir um pouco de seus trabalhos na reportagem a seguir:
O renomado Dr. Miguel Nicolelis (neurocientista) em entrevista no programa “Arena” do Sportv, falou um pouco sobre o funcionamento do cérebro de grandes atletas:
O também Dr. Alcides Scaglia, cientista do esporte e mentor do Projeto do Paulínia Futebol Clube, alerta sobre a necessidade dos clubes em identificar e desenvolver as competências de um jogador inteligente:
O Prof. Dr. Juan Luiz Martinez García trabalhou na base e profissional do Espanyol, foi diretor de formação das categorias de base do Dínamo de Moscou e, atualmente, trabalha em “la Fábrica”, como é chamada a base do Real Madrid. Lá implementa o Smartfootball, uma metodologia que desenvolveu e que pretende formar jogadores mais criativos e capazes de resolver os problemas impostos pelo jogo, priorizando o talento acima de qualquer outra capacidade do jogador. O trabalho no Real Madrid ainda é recente, cerca de 1 ano e meio, porém, após 11 anos no Espanyol, deixou o clube com 13 jogadores da base na equipe profissional e, em 5 anos no Dínamo de Moscou, contribuiu para a conquista da Manchester United Premier Cup Sub-15 de 2014, foi a primeira vez que um clube russo conquistou um título desta relevância internacional.
Abaixo, um vídeo exemplificando o método aplicado no Dínamo:
Recentemente um vídeo de um treino da equipe profissional inglesa do Arsenal foi destaque na internet mostrando uma atividade que envolve a relação da tomada de decisão e ação dos atletas:
https://www.youtube.com/watch?v=aRhwv5cJ-9g
Um outro ponto importante na formação de jogadores inteligentes é a oferta de atividades que também extrapolem as quatro linhas. Nosso cérebro pode, e deve, ser estimulado de muitas maneiras e o trabalho junto aos jogadores deve intervir não somente na sua formação atlética, mas também humana. Pensando nisso, alguns clubes já adotam medidas para contribuir nesse processo, deixo aqui alguns exemplos do Coritiba e do Botafogo:
http://www.coritiba.com.br/artigo/24104/pensando_no_futuro
http://www.coritiba.com.br/artigo/24486/sub_11_visita_museu_da_vida
http://www.coritiba.com.br/artigo/24756/fazendo_o_bem
http://www.botafogo.com.br/noticia_interna.php?cat=oclube&session=2794&subtag=Base
http://www.botafogo.com.br/noticia_interna.php?cat=oclube&session=2644&subtag=Base
No Footecon de 2013, a Universidade do Futebol, também fez a pergunta do que seria um jogador inteligente, seguem algumas respostas:
Trouxe aqui estes exemplos de iniciativas que buscam intervir diretamente no viés psicológico dos atletas, buscando trazer soluções ao problema de formar jogadores inteligentes. Ainda há muito a se estudar e desenvolver neste campo, pensando numa intervenção mais específica e direta para se otimizar a formação deste jogador inteligente. Porém, muitos estudos e técnicas já estão disponíveis e operando, caberá à comissão se capacitar e identificar quais as necessidades da equipe e de seus jogadores, visto que uma coisa é fato: todos queremos jogadores cada vez mais inteligentes em nossos times.