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Entre os 12 clubes que detêm os maiores orçamentos do futebol brasileiro, apenas cinco (Botafogo, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio e Santos) mantiveram seus treinadores de 2016 para 2017. E dessa lista, apenas azuis mineiros, tricolores gaúchos e alvinegros paulistas contam com profissionais que há tempos figuram na elite nacional (Mano Menezes, Renato Gaúcho e Dorival Júnior, respectivamente). Existe um processo de renovação no banco de reservas dos principais times do país, mas essa troca de guarda também expõe um aspecto relevante do jogo praticado em âmbito nacional: como são raros os projetos sistêmicos, a escolha é sempre um processo extremamente complicado (e com altíssima margem de erro).

O Corinthians, por exemplo: Tite, treinador mais longevo da história recente na equipe alvinegra, saiu durante o Campeonato Brasileiro de 2016 e assumiu a seleção brasileira. Foi substituído por Cristóvão Borges, que depois deu lugar ao auxiliar Fábio Carille, posteriormente trocado por Oswaldo de Oliveira. Três linhas de trabalho diferentes, três propostas distintas para formação de equipe e estruturação do trabalho diário. Três direções para um elenco cuja identidade já havia sido debelada por sucessivas trocas de atletas. O time perdeu essência e qualidade, mas a diretoria também abriu mão de qualquer fio condutor.

O resultado de tantas mudanças foi um Campeonato Brasileiro medíocre. O Corinthians passou longe de brigar pelo título e não conquistou sequer uma vaga na próxima edição da Copa Libertadores, principal competição do futebol continental (em âmbito esportivo e em retorno financeiro). Resultado: a diretoria demitiu Oswaldo de Oliveira e partiu mais uma vez para o mercado.

Quando decidiu buscar um novo treinador, o Corinthians viu que o Atlético-MG já havia fechado com Roger Machado, que talvez seja, entre os treinadores neófitos do futebol brasileiro, o detentor de uma ideia mais interessante para montagem de suas equipes. Que Fluminense (Abel Braga), Internacional (Antonio Carlos Zago), Palmeiras (Eduardo Baptista) e Vasco (Cristóvão Borges) também tinham escolhido seus técnicos para a próxima temporada. Que até o São Paulo, que inovou e deu o cargo ao ídolo Rogério Ceni, escolhera uma estrada para iniciar o próximo ano.

Da lista acima, contudo, quais foram os treinadores contratados depois de a diretoria ter chegado a um ideal de jogo a ser praticado? Quem foi escolhido por verdadeiramente preencher o que seu clube deseja para a próxima temporada? As primeiras escolhas de treinadores foram por convicção de trabalho ou apenas por serem esses os “bons nomes”?

É isso, afinal: ainda que os nomes tenham mudado, times brasileiros seguem escolhendo apenas marcas. Há os ídolos (caso de Rogério Ceni, mas a lógica também se aplicaria a Paulo Roberto Falcão, que comandou o Internacional em 2016); outros preferem técnicos com bom histórico recente (Roger, Eduardo ou Antônio Carlos, por exemplo); há ainda as diretorias que contratam por tamanho do profissional (por conquistas ou carreira, Abel Braga é sempre lembrado em listas de qualquer equipe).

Independentemente da lógica, ainda são raros os casos de times brasileiros que sabem o que querem e que comunicam isso de forma clara. O resultado é que muitos técnicos tentam aplicar ideias que passam longe da essência ou do que as equipes têm a oferecer. É a roda da demissão precoce: diretoria não sabe o que quer, treinador inicia um trabalho descolado da realidade ou da expectativa, jogadores e torcedores se frustram, o próprio profissional se frustra, mudança acontece.

A renovação dos treinadores brasileiros é uma prova de que a velocidade pode ser pequena, mas os principais dirigentes do futebol nacional entenderam que é necessário mudar conceitos e buscar um futebol mais adequado à realidade contemporânea. Para isso, contudo, é fundamental entender que não basta apenas trocar a geração ou escolher profissionais diferentes.

O ideal é que exista uma abordagem sistêmica entre proposta de jogo, pontos fortes do treinador e características dos jogadores. Da diretoria aos torcedores, seria bom se todos entendessem quais são as propostas de cada equipe e por que as decisões são tomadas. Esse processo depende de estratégias de comunicação em diferentes níveis, mas só pode existir numa realidade em que as pessoas entendam o quanto é relevante saber o que elas querem.

A falta de clareza nesse sentido é a principal explicação para a dificuldade que todos os times têm quando tentam contratar um técnico.

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