Olá, caro leitor!
A pergunta que dá título ao texto é um questionamento recorrente na autoanálise de minha atuação profissional. Até que ponto estou mais preocupado em formar uma equipe “organizada” (cada vez mais acho este um termo muito abrangente para definir um time), consistente, que possa vencer os jogos executando corretamente o modelo de jogo proposto, ou bons jogadores, autônomos, que tenham capacidade de perceber, pensar e agir da melhor forma possível, que possam ao máximo se adequar a um modelo de jogo, seja no clube em que estamos no momento, seja num próximo clube aonde vá jogar, qual a prioridade? Recentemente li uma frase num site português que aguçou ainda mais a reflexão sobre isso:
“Ver a árvore e não apenas a floresta, olhar para cada atleta de forma individualizada, trará posteriormente sucesso à aprendizagem de cada um e, consequentemente, à equipa.”
Felizmente, nos dias de hoje, é possível analisar uma equipe e seus jogadores de forma bem minuciosa, seja com um grande aparato tecnológico, seja com lápis e papel. É possível traçar parâmetros de avaliação para os jogadores e a equipe, facilitando a compreensão do quão efetivo nossos treinos têm sido em promover a evolução da equipe e dos jogadores. Sendo assim, como estamos mensurando isso? Somente pelos placares dos jogos de nossas equipes? Possuímos parâmetros de avaliação individual que vão além dos testes físicos ou da observação e análise puramente subjetiva dos jogos?
Como treinador fico extremamente satisfeito quando minha equipe alcança placares positivos e uma das tendências (ou tentações) para isso é organizar uma sólida e segura defesa, evitar ao máximo que os atletas tomem atitudes que coloquem a equipe em risco. Dentro dessa visão, uma atitude adequada seria automatizar ações através dos meus comandos e limitar ações que eu julgue serem demasiado arriscadas, por exemplo, para garantir que a equipe não perca a bola no seu campo de defesa, instruir os atletas a buscarem a progressão somente com bolas longas em direção ao campo de ataque. Talvez isso possa trazer mais segurança e assegurar algumas vitórias, porém, adotando esta prática, estarei favorecendo uma rica formação aos meus jogadores de defesa? Estarei alinhado às novas tendências que o futebol mundial tem tomado?
Creio que, trabalhando em categorias de base, estes questionamentos devam estar presentes no meu dia a dia. Sendo formador, devo ter consciência de que a promoção de uma equipe completa, prioritariamente, acontece entre as categorias de base (e ainda assim podem haver dispensas neste processo) sendo que no estágio final do processo, normalmente na categoria sub-20, são poucos os atletas que ascendem à equipe profissional (o que, felizmente, gradativamente vem mudando nos clubes brasileiros, cada vez mais jogadores da base tem sido promovidos à equipe profissional). Sendo assim, a preocupação com a evolução individual dos atletas deve ser maior do que a com a evolução da equipe. E há a tendência de que quanto mais bem capacitados individualmente forem meus jogadores, mais fácil será organizar a equipe e melhor será nossa qualidade de jogo, mas o olhar individual para cada atleta, deve estar presente. Neste aspecto, não adianta termos equipes vitoriosas na base, se estas não conseguem colocar jogadores no time profissional.
Base e profissional claramente possuem objetivos distintos, o peso da busca pela vitória no profissional é muito maior do que na base, assim como a preocupação do treinador está muito mais voltada em desenvolver aspectos coletivos do que individuais, se um jogador numa equipe profissional apresenta desempenho abaixo do esperado, inevitavelmente é trocado, não há tempo (e paciência) para formá-lo. Já a base tem como principal objetivo formar jogadores e quando estes não apresentam o desempenho que se espera, dever-se-ia antes de dispensá-lo, investigar os motivos para tal, analisar o que pode ser feito para que este consiga evoluir, buscar maneiras mais efetivas para a sua formação e não apenas o descartar porque não está conseguindo ganhar os jogos.
Neste sentido, o clube que sabe o perfil do jogador que deseja formar e, mais ainda, do perfil de jogador para cada posição do jogo, pode conseguir resultados de formação muito melhores. Entender aquilo que se deseja como objetivo (perfil de jogador) e criar mecanismos específicos para se alcançar este objetivo é missão fundamental de um clube formador.
O olhar dos formadores deve ultrapassar só o de que “minha equipe jogou bem”, é preciso saber o quanto cada jogador tem evoluído, se preocupar em demasiado somente com o desempenho coletivo e, às vezes fazendo “vista grossa” para deficiências individuais (sejam elas físicas, técnicas, táticas ou comportamentais) é atitude mesquinha e egoísta do formador. Buscar a vitória sempre! Imbuir a consciência de que o jogo é coletivo, sempre também! Potencializar e buscar a evolução de cada jogador individualmente deve ser também prioridade nas categorias de base, ter um olhar individual para o todo que é o jogo.
E você, leitor, o que pensa a respeito?
Até a próxima!