O futebol por jogadas mecanizadas ou jogado pelo jogar dos jogadores?

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No futebol muitos são os jargões usados e palavras empregadas para procurar sintetizar as ocorrências e interações que acontecem dentro do retângulo mágico. A palavra jogada é utilizada com frequência. Corriqueiramente é demonstrada para expor algo que aconteceu dentro de campo, narrar que “aquela foi uma bela jogada”, que “tal jogador fez uma jogada espetacular” ou que “aquela jogada foi de cinema”.

Em contrapartida, para os treinadores, o verdadeiro significado do termo jogada é diferente. Jogada é entendida como a automatização de ações treinadas de uma forma determinada em uma região do campo, em algum momento do jogo ou em bolas paradas, e tem como fim predeterminar antecipadamente ações de jogo. Resulta que os jogadores memorizam possibilidades e executam, por vezes, de forma forçada e sem o entendimento real da situação.

Essa forma de estruturar o processo gera uma dicotomia-distância entre o jogo, jogador e treinador. Nela parece que tudo que acontece dentro de campo está submetido a ações preestabelecidas pelo treinador o tempo inteiro. O jogo e o jogador ficam em segundo plano. De certa forma, estas generalizações preestabelecidas se convertem em pensamentos automáticos e diminui muito a forma do jogador perceber situações do entorno, que simplesmente é o jogo.

Jogo, jogador e treinador são conceitos intimamente unidos. O treinador sozinho não existe. Sua figura nem consta no regulamento do jogo. Uma jogada predeterminada, também não existe sozinha e fica muito luminosa na prancheta do treinador. Jogo, jogador e treinador são palavras que não se desenvolvem de maneira independente. Elas seguem um processo de contínua influência recíproca.

Está claro que a repetição de uma mesma ação, a repetição constante ou uma série predefinida ou estabelecida, exercitada a toda hora, aparentemente pode ser um artifício eficaz, já que o ato repetitivo “teoricamente tem seus benefícios” pois, faz o jogador “deixar de pensar” ou desconectar o pensamento consciente. Agora, como essa repetição ocorre, a regularidade e que conteúdo inserido nela se desenvolve, é que pode fazer o jogador não jogar e apenas decorar jogadas ou ações.

E nosso cérebro tem uma capacidade de automatizar uma grande quantidade de informações. Mas questiono novamente que essa capacidade de enxergar a automatização, quando queremos apenas mecanizar jogadas e estabelecer ações num contexto que nunca se sabe realmente o que vai acontecer, carece de critérios reais e exponenciais para a natureza do jogo ou propriamente de um jogar específico, o que ocasiona na hora do jogo um “branco contextual”. É um paradigma. Parece que quando se decoram jogadas, tudo irá ser feito bem, mas quando o jogo inicia, o vazio entra em cena e os jogadores entram em um mundo paralelo esquecendo-se de tudo.

Agora, jogar criando interações, que de certa forma também existe repetição, por meio de mecanismos não mecânicos que vão além de jogadas, gerados por cenários criados, difere-se um pouco especialmente se inserirmos contextos reais e emoções positivas. E o jogo de futebol é isso: é jogado e exige desafios. Inegável que esses cenários criados devem ser construtivos e não criado de qualquer maneira, pois também podem virar uma “espécie” de mecanização e, tudo que tem forma mecanizada, pode bloquear informações importantes.

Por isso, ao criar probabilidades que ultrapassam a automatização e originam  automatismos expressivos e comunicam ao organismo que o jogo tem variabilidade, ele, ao sentir isso, fica propenso a receber identificadores gerados por emoções reais e positivas. Assumindo isso, mostramos a capacidade do nosso organismo criar interações qualitativas. A medida que elas vão sendo criadas, se desperta a curiosidade e níveis evolutivos de jogo com constância de novos automatismos não mecânicos.

Então, não importa a quantidade de jogadas ou variações, tudo tem um prazo de validade e de certa forma essa mecanização ao longo do processo competitivo gera um lastro negativo. Por incrível que pareça, por mais que uma quantidade excessiva de jogadas repetidas pareça gerar benefícios com a automatização, se não assimiladas emocionalmente pelos jogadores, os cenários que transmitem uma aleatoriedade maior, sem essa automatização mecânica, podem “ser mais recordados” pela emotividade que os jogadores vivenciaram.

Está claro que o que fizermos como treinadores influencia e modifica os jogadores. Temos uma parcela muito grande, especialmente se virarmos estratégias ou treinadores de jogadas. E, acredita-se em benefícios com isso mas, na realidade, traz muitas sequelas a longo prazo para os jogadores, sobretudo na formação. Conectar os atletas com o jogo é algo que o treinador deve fazer antes que qualquer coisa, já que dessa forma os jogadores compreendem o jogo realmente como ele é: de maneira interativa e intuitiva.

Abraços e até a próxima quarta!

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