A despeito de ter investido mais de R$ 100 milhões em reforços apenas para esta temporada, o Palmeiras foi eliminado precocemente no Campeonato Paulista, na Copa do Brasil e na Copa Libertadores, que era o principal objetivo do clube no ano. Também está a 14 pontos do Corinthians, que tem uma partida a menos e lidera o Campeonato Brasileiro. É um roteiro ascendente entre aporte, expectativa e frustração. A construção dessa espiral negativa tem a ver com uma série de erros de gestão, é claro, mas também foi permeada por decisões questionáveis do ponto de vista de comunicação. E nesse aspecto específico, o técnico Cuca tem sido um dos principais problemas da equipe alviverde em 2017.
Cuca foi campeão brasileiro com o mesmo Palmeiras no ano passado. Deixou o clube no fim do ano, quando estava em alta com torcida, diretoria e mídia, e priorizou questões pessoais no primeiro semestre de 2017. Foi substituído por Eduardo Baptista, profissional de natureza absolutamente distinta, e funcionou como uma sombra para o sucessor.
Baptista foi demitido em maio, depois de o Palmeiras ter caído no Estadual. Com a saída dele e o retorno de Cuca, a ideia da diretoria era reencontrar o elã da temporada anterior a tempo de salvar a campanha na Copa Libertadores. Em menos de três meses, porém, a mudança serviu mais para expor problemas do que para perseguir soluções.
Há o caso Felipe Melo, por exemplo. Titular na Copa do Mundo de 2010, o volante foi um dos principais reforços do Palmeiras para este ano. Foi contratado como um acréscimo técnico e como uma liderança, apesar do histórico comportamental. Cuca julgou que o meio-campista não se encaixaria em algumas premissas táticas que ele considerava inegociáveis – a marcação individual, por exemplo. Também considerou que o jogador poderia se tornar um problema se fosse preterido.
O episódio culminou com o afastamento de Felipe Melo, que acionou o Palmeiras na Justiça. O que poderia ser uma decisão técnica/tática, ainda que questionável, virou um problema de tribunais e jogou pressão sobre todo o restante do elenco.
A eliminação na Libertadores mostrou que não foi um caso isolado. O Palmeiras caiu nos pênaltis, e a TV Globo flagrou o zagueiro Luan e o atacante Deyverson, que não bateram, conversando com Cuca antes das cobranças. Depois do jogo, em entrevista coletiva, o técnico criticou a omissão de alguns de seus atletas e novamente criou um problema maior do que a situação existente.
Deyverson foi achincalhado por torcedores depois do jogo. O caso dos pênaltis transformou o centroavante, que foi contratado neste ano e tinha bons números com a camisa alviverde, em um problema para o Palmeiras administrar.
O mesmo vale para Egídio. Cuca expôs o lateral, que passa longe de ser unanimidade entre os torcedores, e o manteve entre os titulares com as mesmas orientações de marcação individual e proposição (?) ofensiva. O pênalti perdido foi apenas o epíteto de uma relação que já vinha sendo minada havia tempos.
No domingo (13), em empate contra o Vasco, Cuca tirou Egídio do time titular. Disse que estava tentando preservar o lateral, responsável pelo pênalti que eliminou o Palmeiras da Libertadores, um dos mais cobrados pela torcida. Todavia, em que essa decisão foi positiva para o atleta? Que tipo de preservação é essa?
Falta maturidade à comunicação de Cuca no Palmeiras. O técnico age de forma rasa, procurando vilões e entregando culpados para individualizar problemas que são muito mais densos. A discussão sobre as questões coletivas foi sobrepujada nos últimos dias pelos jogadores que rechaçaram cobranças de pênaltis ou o lateral que errou e acabou preterido.
Erros acontecem em qualquer ambiente e são parte fundamental em um planejamento bem concebido. Um projeto de sucesso depende do quanto está preparado para lidar com o que sai do roteiro – improviso é uma virtude, mas até para improvisar é preciso ter repertório e preparação.
O Palmeiras não soube reagir ao que saiu do roteiro. Em vez disso, tomou o caminho que Cuca escolheu: apontou culpados, anunciou deficiências no elenco e foi ao mercado. A diretoria segue achando que resolverá com reforços um problema que não é de peças, mas de cultura.
Havia uma chance de o mercado aproveitar os percalços do Palmeiras e evoluir. Havia uma chance de os insucessos do clube gerarem debates que ultrapassassem a superfície. Do jeito que Cuca e a diretoria conduziram as coisas, porém, o que fica é apenas a certeza de que o imediatismo que dominou o clube neste ano só vai se tornar mais latente.