Diante dos gastos exorbitantes de alguns clubes europeus neste início de temporada no hemisfério norte, combinados aos diversos interesses políticos e econômicos envolvidos em todas essas transações, a federação de futebol daquele continente (UEFA) resolveu intervir e instituiu o “fair-play financeiro” para os clubes sob sua esfera, que tem como princípios: não permitir o calote; o controle de gastos e incentivar o investimento sustentável dentro deles. Objetivos desta iniciativa: controlar e melhorar a saúde financeira das equipes.
Entretanto não é apenas isso. Os principais trabalhos conduzidos por uma entidade de administração do esporte (federação) são: proteger e difundir a modalidade. Dentro da proteção, enxergamos o “fair-play financeiro” citado acima, uma vez que os grandes gastos na contratação de alguns atletas por determinados clubes, fere um fator muito importante dentro do futebol: a competitividade. Isso significa em proporcionar equivalentes condições de competitividade entre as equipes, a fim de proporcionar equilíbrio. Quanto mais imprevisível for o resultado, mais atrativo ao público é o jogo. Nessa linha de pensamento, é por isso que os “clássicos” atraem mais torcida. Além da história e palmarés das equipes, o placar de um clássico é uma incógnita.
Há cerca de duas décadas, quando ainda não existiam os grandes volumes de dinheiro do mundo árabe, dos chineses, dos empresários do sudeste asiático, dos grandes conglomerados norte-americanos e dos magnatas do leste europeu, percebia-se mais equilíbrio em ligas europeias, sobretudo na alemã. O Kaiserslautern no fim dos anos 1990 fora promovido da segunda para a primeira divisão e de cara conquistou a competição. Já não se vê mais isso. Conta-se nos dedos de apenas uma mão qual clube pode ser o campeão ao final de uma temporada: na Alemanha, na Inglaterra, na Itália, na França e na Espanha (nem se fala!), por exemplo.
O futebol sul-americano e especificamente o brasileiro estão distantes deste investimento estrangeiro – que em um primeiro momento pode encantar muitos torcedores. Entretanto é preciso aplicar bons princípios de gestão do esporte a fim de tornar a modalidade sustentável e melhorar a saúde financeira das equipes. Bom, mas atenta-se neste texto a um aspecto positivo no futebol de clubes do Brasil: o fator equilíbrio. Basta vermos os campeões nacionais na última década e os classificados para os torneios continentais. Na vizinha Argentina, percebe-se o mesmo. Vai sempre haver um clube que tem mais investimentos, outros nem tanto, mas essa diferença é pequena perto dos clubes da primeira liga da França, em que uns poucos têm muito, e outros muitos têm bem pouco. Consequência disso? Desequilíbrio. Bom para o futebol? Não!
Com tudo isso, o trabalho para a igualdade de condições entre as equipes é fundamental para a competitividade de um torneio, que é um dos fatores que vai manter o interesse do público. Caso contrário, com o tempo os placares serão previsíveis, os estádios se esvaziarão e a audiência da TV, vai cair. Como foi dito, o Brasil está longe dessa realidade europeia. O “fair-play” a ser aplicado por estes lados é a boa gestão, em respeito ao atleta profissional e ao torcedor.