No futebol, algumas barreiras ainda tomam conta, mesmo que algumas pessoas tentam transcender paradigmas estabelecidos. Inovar e ter coragem soa como um “marco utópico” para quem quer construir novos caminhos, mas é possível.
Relativamente à construção metodológica, há considerações interessantes em todos os lados, em todas as escolas. Muitas tendências foram evoluindo, ganhando corpo, originárias de ciências mais clássicas e complementadas com novas ciências. Essa junção pode ser saudável se uma transcendência conceitual for bem entendida.
Assim, deve-se diminuir o julgamento de ideias, e sim ter ideias e convicções processuais. Construir um caminho próprio, depois de considerar o que é sustentável, o que vale a pena e é realizável dentro do ambiente, é um ato contextual, real e atual.
Então, a tese de que a capacidade física de uma equipa depende diretamente da carga de trabalho realizada na pré-temporada, as ideias das cargas, do volume e intensidade, são todas consideradas e discutíveis, juntamente com o chamado pico de forma; mas será que uma equipa pode ou não ser programada para ter o chamado “pico” de forma, em certo ponto da temporada? Será que essa equipe chegará naquela final da competição que é o ponto do pico de forma?
Para a teoria clássica sim, pois é impossível manter a mesma forma em alto-nível durante toda a época desportiva, por isso devem ser planejados em alguns períodos os famosos picos de forma que surgem após momentos de elevada preparação física ou a preferência por alguma capacidade física.
Evidente que a dimensão física é importante, mas definir picos de forma em um período determinado parece uma utopia, pois é difícil prever como a equipe estará para o próximo treino, imagine para um período futuro de três meses ou mais. Gerir essa previsão futura do tempo pode ser um grave problema para uma comissão técnica. O futebol não oferece um cenário seguro e controlado, por isso, o “pico do jogar diário” pode representar algo mais significativo para a evolução e prevenção da equipe.
Uma equipe antes que esperar ou perspectivar seus picos de forma, deve criar ao longo da temporada, semanalmente, diariamente, uma regularidade de jogo em todas as dimensões do processo. O importante é definir, desde o primeiro dia os patamares organizacionais de jogo e uma lógica de treino que estabilize e progrida a forma de jogar. E o mistério para esta interação e unidade tático-técnica-física-pscicológica reside na identificação da qualidade que a intensidade relativa tem em cada dia de treinamento e não no volume de trabalho.
Sem picos de forma, com intensidade relativa permanente, do primeiro ao último dia, sendo uma intensidade relativa a cada dia da semana de treinamento, é uma das novas tendências do treinamento. Acredita-se nessa intensidade do trabalho do primeiro ao último dia do ano. A forma de jogar da equipe vai gerar desempenhos específicos suscitados pela regularidade criada no dia a dia, que claro, evidente, pode acontecer algumas perturbações, mas que garanta sempre uma regularidade que deixe a equipe mais perto da vitória em todos os jogos.
O pico de forma que visa apenas o desenvolvimento físico, das capacidades físicas, deve ser substituído pelo pico do jogar diário, que também considera e muito a dimensão física, mas aponta para patamares progressivos de desempenhos desenvolvidos pela qualidade do processo. Uma equipe de futebol deve buscar a evolução constante, deve ser muito melhor a cada dia, e todos os dias progressões devem acontecer. Como o calendário no futebol dura de nove a dez meses, o sucesso dependerá dos resultados nos jogos, e que cada jogo seja criado um rendimento superior ou relativo que por vezes tem suas quedas. Isso exige regularidade no desempenho que possibilite vencer o máximo que puder e, portanto viver uma lógica de treino semanal e diária. Então, falar em “picos de forma” pode ser uma precipitação metodológica, especialmente para um esporte coletivo que tem no dia a dia o maior e melhor remédio natural que pode existir.
Abraços a todos e até a próxima quarta!