Interpretação e “automatização” de comportamentos

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Muito do que se tem falado/comentado no futebol pode ser considerado, por mim, uma mistura de paixão com razão. Uma combinação perigosa, onde se tem muito mais ingredientes do “torcedor” do que do “profissional”. Opina-se muito mais com o fervor da emoção do que as coerências do profissional. “As equipes de top jogam com posse e de forma apoiada”, falaram algumas vezes tempos atrás. “O jogo ofensivo das melhores equipes é caracterizado pelo ataque rápido”. Disseram eles, mas analisaram alguns jogos e cada jogo é um jogo; o futebol é algo construído e não normalizado. E, como tudo que é fabricado precisa de um alicerce sólido e confiável, o futebol para mim advém de qualquer coisa que possa ser válida tecnicamente e cientificamente.

O futebol não é só treino, nem só competição. É treino e competição em um único processo. Por isso, o período preparatório não é fundamental. Fundamental é o período competitivo. Onde consigo interpretar melhor a equipe que estou analisando/treinando.

O desempenho do coletivo, não é a soma dos desempenhos individuais. A soma das partes pode ser maior que o todo, pois sempre há algo novo que possa ser fabricado com a interação entre jogadores e entre setores. Tanto intra equipe, como entre equipes. Podemos produzir algo novo dependendo das qualidades e deficiências do(s) adversário(s).

O que os jogadores pensam sobre futebol, sobre jogo, também é jogo (para eles). Temos que, como treinadores, tentar saber o que cada um pensa e fazer com que a cabeça dos atletas se “abra” ao saber que as coisas não são linearmente assim ou, em nosso ponto de vista, de outro jeito. É preciso readequar a lógica do todo, a “imagem” que se tem do futebol (concepção do futebol) deve ser “visível” para todos. Pensamento do treinador e pensamento dos atletas: se não houver concordância as coisas podem se complicar.

Nós somos um animal de hábitos; se não fizermos, desabituamo-nos. Sendo a prática do hábito, que te leva a perfeição (mesmo sendo utópica).

O que os jogadores pensam sobre o jogo também é jogo, porque promove a adequação do jogador em cada momento da partida. Se isso colide com a forma do treinador ver o futebol, não há solução. O jogador fará o que foi proposto pelo treinador, porém não de uma forma a qual ele acredite como “certo”. E quando fazemos algo que não acreditamos, sabemos que tende a não dar muito certo. Primeiro temos que alertar o atleta de que ele está equivocado e só depois dele se conscientizar disso, poderemos corrigir “com êxito” o comportamento tático dele.

Quando estudamos uma equipa, temos que estudar a equipa e não somente as características de cada jogador. O que eles fazem enquanto equipe, tanto setorial, na estrutura coletiva e, principalmente, como comportamento padrão da equipe. Não somente no aspecto individual. A velha expressão que diz: “na dúvida, corre!”, no final acaba sendo: correr em vez de pensar. Ou quando se fala: “jogue lá a bola (cruzamento ou lançamento), e alguém deve aparecer”. Os jogadores devem ler o jogo, e não jogar às cegas.

Precisamos entender que a organização da equipe é o principal objetivo de um treinador. Sendo o aprimoramento do jogador (individual) um desenvolvimento que segue o desenvolvimento do coletivo. O que se deve treinar é a organização do jogo e da equipe. Tornando importante a operacionalização dessa organização que se pretende. Ou seja, fazer aquilo que se treinou para fazer, fazendo aquilo que se deve fazer, fazendo aquilo que se sabe fazer. Só assim o êxito da partida estará mais próximo. Somente pensando assim o alto rendimento estará mais alcançável, tanto para o jogador como para a equipe.

O treino deve ser igual à competição. Sendo o treino é o que faz a competição que queremos. Só a partir da repetição sistemática é que podemos automatizar os movimentos. Quando um movimento está automatizado, passou para a esfera do subconsciente, pois não precisamos pensar no que vamos fazer e podemos dirigir a atenção para outros aspectos que possam influenciar a nossa prestação. E, como diz Vítor Frade: “a esfera fundamental do saber fazer, está no subconsciente”.

Um pequeno exemplo de automatização (não mecânica) de comportamento:

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