Muito se pensava que o futebol do continente fosse tomar outro rumo depois das mudanças que aconteceram na Confederação Sul-Americana (CONMEBOL), sobretudo depois da queda dos ex-presidentes Nicolás Leoz e Juan Angel Napout, e um antigo vice-presidente, Eugenio Figueredo. Com eles, uma legião de apoiadores de uma gestão amadora baseada nos interesses, nepotismo e propina, em prejuízo de um dos maiores patrimônios da região: o futebol, seus atletas e torcedores.
Houve avanços, sem dúvida. As competições estão com uma produção melhor, identidade visual, protocolo. É “perfumaria”, isso ajuda, mas não resolve. O principal torneio de clubes, a Taça Libertadores, está com muito mais brasileiros e argentinos do que de outras nações. Dizem lá que esses países têm grande mercado consumidor e muito interesse no torneio. Não discordo. No entanto a impressão que dá é a de ser uma “casa da mãe Joana”, que sempre cabe mais um. A prazo, desvaloriza o torneio, e certamente isso a CONMEBOL não quer. Quanto mais seletivo o acesso, maior a competitividade e a imprevisibilidade dos resultados. Logo, mais interesse comercial.
Não é questão de voltar a competição em ter dois representantes de cada país, mas de restringir mais o acesso, para a valorização do torneio. Até a premiação em dinheiro vai melhorar. Do jeito em que está, jogadores e comissão técnica são sobrecarregados e expostos ao péssimo sistema modal que se tem no continente, como foi a Chapecoense no ano passado, na maior tragédia de sempre do esporte na região. Mais parece o sistema classificatório ter como base uma troca de favores, que lembra os campeonatos brasileiros do fim dos anos 70 e início dos 80, com quase uma centena de clubes, em que havia a máxima: “Onde a ARENA vai mal, mais um no nacional”.*
O que tem ido mal na América do Sul?
Gestão. Governança. Transparência. Comunicação. Igualdade de gêneros. Falta à entidade máxima do futebol daqui cumprir seu papel: proteger e difundir o esporte. Não é isso que se tem percebido. Saiu um grupo, entrou outro. No entanto, quem são os donos do produto “jogo de futebol”? Os atletas, os clubes! Portanto, a organização deles em uma outra entidade privada (criação de uma liga) pode resolver em parte o futebol sul-americano. À CONMEBOL apenas o que lhe diz respeito.
Um feliz Natal a todos.
*ARENA: Aliança Renovadora Nacional, partido criado em 1965 para dar suporte político ao regime em vigor no Brasil. Foi dissolvido com a implementação do multipartidarismo em 1979. Ou seja, no estado onde o partido ia mal era só colocar um clube local na competição nacional para favorecer a elite política dali