Definitivamente estamos na idade das trevas quando se trata da organização e gestão do futebol no Brasil. Salvo algumas pontuais iniciativas que estão – que bom – sendo bem-sucedidas. Entretanto, de uma maneira geral, faz-se um desserviço à modalidade, um dos maiores patrimônios deste país.
Depois da tragédia do Maracanã na final da Copa Sul-Americana, estão escancarados todos os cenários pelos quais os torcedores podem passar quando vão a um estádio. Isso não é normal. Os mandos e desmandos de dirigentes populistas, também não. O presidente da entidade máxima do futebol nacional (CBF) afastado e o consequente vácuo de poder na instituição, mais a passividade dos clubes e federações estaduais em relação ao tema, não são – em nenhum lugar – situações normais. Inadmissíveis.
Dizem que o futebol é reflexo do cenário atual do país. Quero lembrá-los que existem exceções. Pois bem, são de fato reflexo, haja vista o caos social, econômico e político em que o Brasil está. Caos: a melhor palavra. Situações que não são normais em hipótese alguma.
Pobreza não é normal. Violência não é normal. Interesse individual ou de pequenos grupos acima do coletivo, favorecimento, tráfico de influência não são normais. Enriquecimento ilícito, idem.
Mas as coisas estão em processo de mudança. Ah, como estão! As crianças cada dia mais torcem para clubes de futebol do estrangeiro. Inclusive gritaram “é campeão” quando o Real Madrid ganhou o último mundial de clubes, nos Emirados Árabes. Seus pais, conscientes dos riscos nas arenas (algumas só se forem de guerra mesmo), não levam os filhos aos jogos. E com o tempo este legado, outrora falado com a boca cheia pelo pai que o filho torce pelo mesmo time, não é passado. No futuro, o filho passará para o neto.
Infelizmente, só se reflete nisso quando acontece uma tragédia – como a do Maracanã do dia 14 de Dezembro – ou quando uma equipe europeia vence uma sul-americana pelo mundial de clubes. Vivemos do passado. Quem vive do passado é museu. E então, procura-se por todas as respostas. Claro que há inúmeros fatores que faz o futebol europeu estar bem à frente do sul-americano e brasileiro, como por exemplo: o PIB dos países, a força da moeda (em consequência da competitividade, tecnologia, inovação e poder de consumo) e o mercado comum europeu de livre circulação de pessoas e mercadorias. Ora, é reflexo da sociedade de lá. Claro, nem tudo são maravilhas. No entanto é consequência do trabalho coletivo, da constância, da eficiência, da excelência, de querer que seja feito da melhor maneira. De uma cultura – de trabalho – vencedora.
Com tudo isso, mesmo com isso tudo, é possível mudar. E a mudança está nos torcedores, a essência deste esporte. Basta não sermos coniventes com o que não é normal, querermos mais e melhor. Sempre