Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?

Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade
Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade

Olá, caro leitor.
Dê uma boa olhada na imagem.
Que sentimentos vem à tona ao observá-la?
Num final de semana onde passeava com minha esposa por São Paulo, ao me deparar com esse grafite em um dos muros do “beco do Batman”, fiquei por alguns minutos o observando, perplexo e com muita agonia.
Este grafite retrata algo que, infelizmente, é muito comum na vida da maioria de nós: estarmos em situações nas quais, claramente, não nos encaixamos, mas que, ainda assim, somos forçados a nos enquadrar. Obviamente, não é possível levar a vida saciando todas as nossas vontades, uma sociedade repleta de pessoas assim seria insustentável, todos, de alguma maneira, precisamos ceder um pouco.
Mas, um pouco, e não por completo! Não devemos, ou não deveríamos, negligenciar aquele desejo interior em expor aquilo que sentimos, que desejamos, só porque isso pode ir contra, ou ser diferente daquilo que a maioria (ou um grupo “dominante”) faz ou pensa.
E o futebol? O futebol é expressão humana! Aflora e traduz sentimentos! E sendo assim, está sujeito a também ser, de alguma forma, oprimido.
Convido a se remeter a seus tempos de criança, de adolescência, relembre os momentos de prazer, de alegria ao jogar bola… Estes momentos ocorreram em situações onde você jogava livremente, ou onde seguia tudo aquilo que um treinador/professor ditava fora de campo?
A cultura de futebol em nosso país é um tanto quanto conservadora e imediatista. O que, desde cedo, acaba ceifando a criatividade de jogadores e treinadores. Muitos destes jogadores que no futuro serão também treinadores e irão apenas reproduzir o que com eles foi feito, dando então continuidade a um ciclo vicioso.
No Brasil, ao se ler e ouvir análises sobre jogos, jogadores e treinadores, tudo soa muito igual! Muitas destas análises retratam cenários bem distintos do que na realidade são. Quando Guardiola trocou o Barcelona pelo Bayer, e posteriormente indo para o Manchester City, muitos insistem em falar que o treinador busca reproduzir o “Tiki-Taka” (abominado por Pep) em seus novos clubes, quando cada uma destas equipes que ele dirigiu, possui uma identidade própria, algumas semelhanças sim, mas bem longe de serem iguais, de serem tão-somente cópias.
Parece-me que estão sempre querendo fazer como na imagem, encaixar uma equipe ou jogador, num padrão que não lhes cabe. São comuns as improcedentes comparações de equipes europeias com as brasileiras, tentando-as colocar na mesma moldura, ou então, de jogadores que possuem destaque nacional, são alçados ao posto de craques, de revelações do futebol mundial, mas que não conseguem obter sucesso no extremamente competitivo e qualificado futebol dos grandes centros europeus, e assim cada vez mais cedo retornam ao Brasil ou migram para mercados de menor expressão e nível competitivo.
Ao se assumir uma equipe, o que se busca primeiramente?
Convido o leitor a assistir este fragmento do documentário “Quando sinto que já sei”, um documentário extremamente interessante (e pertinente) a todo aquele que se dedica a transmitir qualquer tipo de conhecimento.

 
Será que nossos atletas são folhas em branco?
E nossas equipes, nosso grupo de jogadores, estamos tentando lhes enfiar um modelo “goela abaixo”?
Como são nossos treinos? Meras reproduções daquilo que foi feito conosco quando éramos mais jovens? Um ambiente fechado, sem espaço para o novo, para a criatividade? Estamos simplesmente tentando encaixar cada jogador encerrado numa série de regras para cada posição?
O quanto estamos permitindo que nossos atletas criem? O quanto estamos nos permitindo criar?
Não é porque o modo de jogar “y” deu certo com a equipe “x”, que naturalmente eu deva reproduzir isso. O conservadorismo e imediatismo de nosso país pode acabar nos induzindo a ir por uma via mais fácil, que de forma sedutora transmite a falsa ideia de maior segurança. Na busca por aceitação, acaba-se fazendo aquilo que a maioria faz e espera que também o façamos, limitando a possibilidade de se criar algo novo, de arriscar fazer diferente. E não estou dizendo aqui em desprezar o que já feito, mas sim, de o usar como modelo e não como molde.
Cada jogador é único, traz algo em si e tem muito a oferecer, uma equipe é composta de vários destes seres únicos, e ela não é algo fechado, assim como os seres estão em constante mutação, a equipe situa-se na mesma condição, sempre sujeita à novas possibilidades, novos comportamentos, novas formas de jogar. Ela não se encaixa em somente um padrão, mas pode caber em vários! Atletas e consequentemente equipes, tudo será fruto dos estímulos ao qual são expostos, sejam eles castradores ou instigadores.
Agonia! Agonia ao ver que muito do potencial de tantos meninos e meninas se esvai pelo ralo da opressão. Que tantos treinadores se reprimem em função do meio e não buscam alimentar a criatividade que possuem dentro de si. Acredito que seja preciso um basta para essa realidade! Há espaço e possibilidade de inovar mais, ousar mais, permitir que cada um expresse mais aquilo que é, sem forçar que todos se encaixem em um espaço onde não cabem.

“A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte

A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer”

Trecho da Música “Comida” da Banda Titãs.

 
Link para o documentário completo:

 

Compartilhe

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email
Share on pinterest

Deixe o seu comentário

Deixe uma resposta

Mais conteúdo valioso