O mundo atual está tão obcecado pelo padrão, pela mesma configuração, que quem foge um pouco desse protótipo estrutural, é taxado de louco ou vulgarizado por não seguir diretrizes balizadoras.
O futebol, um reflexo social, também tem essa problemática, pois está se transformando em uma produção serial, ou seja, todos padronizados com o mesmo perfil. Isso induz a enlatar os jogadores como sardinhas com um selo de atributo único, obcecado pelo controle, pela velocidade, pelo padrão, desvalorizando a natureza da diversidade e a vida contemplativa do jogar sendo você mesmo.
Processo padronizado do futebol atual
Independentemente da realidade, a palavra padrão tomou conta. E o padronizar é um cancro que existe em vários níveis processuais. Dentro de uma lógica hierárquica, ao existir uma ideia macro padrão sem uma sensibilidade devida para os pormenores, enrijecendo a singularidade e os detalhes, por mais que seja defendida com unhas e dentes e pareça astuta na sua lógica, dependendo de sua operacionalização e entendimento, corre o risco de sagrar um protótipo único de jogador com caudilhismo e não criar um contexto natural evolutivo diverso.
Processo formatado do jogador
Mas a diversidade e a natureza singular de cada um é um fator que humaniza as relações. Todos os lastros antropológicos e culturais demonstram que a diversidade e sua ramificação comunicativa é um fator “sine qua non” para a evolução da espécie. Encontrar esse equilíbrio entre ideias e singularidade, é o grande imperativo para não enlatar as capacidades naturais e processuais de cada indivíduo.
Atualmente existe um estado organizacional mais acentuado confundido com rigidez. Um bom processo deve ir contra isso e facilitar que o jogador encontre a si mesmo num primeiro momento, ausentando-se dos padrões estabelecidos. Não é simplesmente se reconhecer no espelho, mas saber de suas debilidades e potencialidades, entender o fio invisível de sua intervenção dentro de sua atuação e procurar também entender o outro para complementar com intencionalidade criativa sua atuação transformadora.
Encontrar e interpretar os mais distintos perfis ao mesmo tempo buscando complementos interativos, é a grande arte da diversidade microscópica que se ausenta de uma forma única preestabelecida. Estes estados que muitas vezes são invisíveis, não podem se equiparar por completo, mas podem compartilhar de certas estruturas profundas.
Interação dos jogadores
A interação dos jogadores, ou seja, uma supraconsciência, tem uma unidade do eu com ela, do eu com o eu, do eu com o outro e do outro com eu. Isso, por si só, revela cultura, qualidade e diversidade. E dentro desse mundo, complementar é interpretar e habilitar as capacidades dos integrantes com uma luminosidade progressiva que crie evoluções e propósitos para a singularidade de todos, sem uma classe única.
Riquelme deixou claro isso em uma entrevista no Jornal Marca: “Não podemos pretender ter 10 jogadores como Iniesta ou Busquets. No Atlético, Diego Costa se sente cômodo e desfruta. Seu estilo, podem gostar mais ou menos, porque a Espanha está acostumada com a qualidade, mas Diego é um atacante muito perigoso e difícil de marcar, estilo Luis Suárez no Barça. Lutam, são chatos… e servem, claro que servem”.