É notório o investimento de clubes, ligas e federações para a criação de canais de comunicação para a divulgação dos seus produtos. Especificamente, na criação de canais de televisão e de emissoras de rádio próprias que geram conteúdo exclusivo, que os canais de televisão (aberta e por cabo) não possuem. Acessos privilegiados, entrevistas pontuais com convidados muitas vezes de difícil acesso. Quando permitido, narração e comentários bem parciais dos jogos. Algo inimaginável de se ver ou ouvir em emissoras de televisão e estações de rádio que estamos acostumados a assistir ou escutar.
Certa vez um comunicador brasileiro disse, em 2010: “Se a Disney fosse um clube brasileiro, venderia o Mickey Mouse e não os seus desenhos animados”. Oito anos depois, os “mickeys” seguem sendo vendidos, mas os “desenhos animados” estão sendo mais aproveitados. Ao acompanhar o canal a cabo do Real Madrid é possível ter a dimensão do que pode ser conseguido, desde engajamento e fidelização do torcedor até o retorno financeiro. A programação é vasta, vinte e quatro horas do dia e os jogos pelo canal transmitidos são anunciados da seguinte maneira: “os comentários do seu ídolo, sem o clubismo de quem não é dos nossos”. Oras, um chamariz importante para aquele que leva este fator (clubismo) em consideração. Qualquer clube da primeira divisão do futebol do Brasil é capaz de gerar – sem sombra de dúvidas – muito mais conteúdo.
Isso no Brasil tem tomado forma e quem ganha com isso é o torcedor. Não é preciso ser um canal a cabo ou com uma assinatura ainda mais exclusiva. E nem que o clube tenha milhões de torcedores. Basta que as próprias redes sociais do clube produzam este conteúdo e inclusive transmitam os jogos. Na minha cidade natal (bem longe de ser populosa), o clube faz isso: transmite os jogos pela rede social com o áudio de uma rádio local. O resultado é excelente: comentários em tempo real, engajamento e alcance nunca outrora imaginados. Ademais aproxima o torcedor à transmissão da rádio e aos trabalhos do clube, uma vez que o comentário fica lá registrado. A exposição dos patrocinadores aumenta e, consequentemente, o vínculo destas marcas com o clube. Tudo isso dentro de um planejamento estratégico que o clube estabeleceu a longo prazo. Toda a decisão tomada tem como base os princípios deste plano. A raiz deste plano, por sua vez, nasce – desculpem-me a repetição de ideias – em um começo: o estabelecimento de uma missão, uma visão e valores.
Com tudo isso, ações como estas estão ao alcance de todos os clubes, independentemente do tamanho, palmarés ou massa associativa. É um investimento que pode ser alto, mas se é uma tendência mundial, é porque tem dado certo. A concorrência na indústria do futebol tem aumentado e a instituição não quer perder torcedores para os seus similares. Sobretudo para os clubes europeus, que já produzem conteúdo em português do Brasil justamente para chamar a atenção de crianças e jovens.