A importância de lembrar que o atleta é humano

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A imagem do esporte no último fim de semana foi o choro do goleiro Loris Karius, 24. Titular do Liverpool, o alemão cometeu duas falhas gritantes na decisão da Liga dos Campeões da Uefa e foi determinante para a derrota por 3 a 1 para o Real Madrid, que amealhou sua 13ª conquista na competição. O camisa 1 do time inglês pediu desculpas para os seus torcedores, mãos unidas e semblante emocionado. Desabou no gramado, chorou de forma acintosa e mostrou em poucos minutos o quanto é errado excluir de qualquer análise sobre o jogo o fato de todo atleta ser, antes de qualquer coisa, um ser humano.
“Não consegui dormir até agora. As cenas ainda estão correndo por minha cabeça de novo e de novo. Peço infinitas desculpas aos meus colegas de equipe, aos torcedores e a toda a comissão técnica. Sei que estraguei tudo com meus erros e decepcionei vocês”, escreveu Karius no domingo (27), um dia depois da decisão da Liga dos Campeões, em seus perfis oficiais em redes sociais.
O primeiro erro de Karius aconteceu aos 6min do segundo tempo, quando o placar ainda não havia sido alterado. O goleiro tinha a bola dominada em suas mãos, mas errou a reposição e arremessou nos pés de Benzema. Com a meta vazia, o francês só precisou desviar para as redes. O Liverpool chegou a empatar – gol de Sadio Mané –, mas Bale fez o segundo do Real Madrid de bicicleta, sem chance para o camisa 1 rival. O drama do alemão aumentou a sete minutos do fim, quando o mesmo Bale chutou de longe – e no meio do gol. A bola passou entre as mãos de Karius e selou o placar.
Karius está longe de ser unanimidade no Liverpool. Contratado do Mainz 05 em 2016, ganhou a posição do belga Mignolet na segunda metade da temporada 2017/2018, mas viu a diretoria da equipe inglesa seguir em busca de outro goleiro. O brasileiro Alisson, atualmente na Roma, foi um dos nomes procurados.
Os erros diante do Real Madrid fizeram muito mais do que alimentar a desconfiança. Pela proporção e pelo momento decisivo, é provável que afetem de forma definitiva os próximos passos de Karius no futebol. A repercussão das falhas atinge níveis individuais (a posição, a continuidade no Liverpool e o futuro no futebol) e coletivos – o alemão prejudicou as aspirações de seus companheiros, que (também) lutaram muito para chegar à decisão, e também sepultou as esperanças dos torcedores. Nesse contexto, importante lembrar: os ingleses já eram azarões e ainda perderam no início da decisão o atacante Mohamed Salah, sua principal referência técnica.
A proporção dos erros de Karius é gigante em qualquer âmbito. O choro, contudo, não se deve apenas a isso. Na hora, no calor do jogo, é até difícil imaginar que o goleiro conseguiu contextualizar suas falhas. É mais fácil imaginar isso numa comparação com a reação de Guilherme Mantuan, 20, lateral direito do Corinthians. O camisa 2 escorregou ao dominar uma bola no último domingo (27), aos 47min do segundo tempo, e ofereceu ao atacante Rossi o segundo gol do Internacional. Os gaúchos venceram por 2 a 1.
Assim como Karius, Mantuan chorou muito. Ainda em campo, foi consolado por companheiros e até rivais. O jogo não era decisivo, e um revés fora de casa não chega a ser um absurdo em uma competição de pontos corridos. A falha pode ter custado um ponto ao Corinthians, mas é bem mais fácil esconder isso no todo do que lidar com os erros do goleiro do Liverpool.
Um exemplo diferente aconteceu no jogo do Botafogo no último domingo. Jefferson, ídolo e um dos mais experientes do elenco alvinegro, errou em uma saída de bola e proporcionou o primeiro gol do Vitória. Não chorou, não reagiu de forma efusiva. Minutos depois, deu um lançamento longo que originou o empate dos cariocas.
O que Jefferson ensina a Karius e Mantuan é que o esporte, mais do que praticamente todos os outros segmentos, oferece incontáveis chances de reação e de apagar os erros. Ninguém precisa se limitar a um lance ou a uma partida.
O que os dois ensinam a todos nós é que esse processo de reação não é nada simples. Como qualquer pessoa, jogadores podem se abalar com erros no ambiente profissional. Podem sofrer, podem ter milhares de inseguranças em decorrência disso. E se não lidarem com uma comunicação clara sobre processos, metas e expectativas, podem se apequenar a cada falha.
Erros fazem parte de qualquer ambiente profissional. Como lidar com eles é um desafio de comunicação para qualquer pessoa – e não apenas para os gestores de grupo. Karius e Mantuan, quando choraram, também emitiram um pedido de ajuda. Os companheiros que preferiram reagir com críticas e revolta não estão errados, mas esgarçaram – talvez definitivamente – uma relação de grupo que pode ser importante no futuro.
 

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