Não é novidade a polêmica em que o já antigo Diretor de Marketing do Corinthians, Luís Paulo Rosenberg, se envolveu, ao mencionar a aids ao tentar explicar a situação do clube em relação a patrocinadores, em emissora de televisão. Uma infeliz declaração, sem dúvida. Talvez em outros tempos isso pudesse ser observado de uma outra maneira, deixando isso passar. No entanto, este tipo de fala desde sempre é incorreta e percebe-se que não há mais espaços para deslizes. O público cobra, questiona. Rejeita.
É a imagem de uma centenária instituição em jogo. Colocada em cheque pelo departamento de marketing, um dos principais – senão o principal – responsáveis por ela. Incoerente, no mínimo. Sobretudo em um clube amplamente lembrado pela sua “Democracia”, cuja palavra está diretamente associada aos conceitos de inclusão e respeito.
No Palmeiras, a presença de Marco Polo del Nero (ex-Presidente da CBF) no conselho deliberativo do clube pode trazer problemas em breve. A FIFA o baniu de quaisquer atividades do futebol em função das investigações que levaram à prisão de José Maria Marin (ex-Presidente da CBF) e outros dirigentes do futebol da América do Sul. Por mais que del Nero tenha pedido licença, ele ainda é conselheiro e a entidade máxima da modalidade prevê rigorosas sanções, tais como perda de pontos no campeonato nacional e, consequentemente, rebaixamento para divisão inferior.
Neste caso, a imagem do Palmeiras também é colocada em cheque. Uma também centenária instituição, reconhecida pela saúde financeira e capacidade de gerar receitas, e que faz pouco lobby em comparação com seus rivais, manter o antigo dirigente – mesmo licenciado – no conselho é, de alguma maneira, estar conivente com velhas e irregulares práticas na gestão do futebol. Acredito que o clube – arrisco-me a dizer que todos eles – queira(m) romper com elas.
Não há mais espaço na sociedade para declarações exclusivas e desrespeitosas. É vergonhoso reconhecer que em outros tempos elas não foram reprovadas publicamente e, com isso, dirigentes esportivos, juristas, ministros de Estado e outras pessoas públicas mantiveram-se no poder ou tiveram reconhecimento positivo ao longo de suas carreiras. No alvinegro, Rosenberg demitiu-se. Claro, deve ter havido alguma questão política, mas a declaração foi a gota d’água. Resta saber o que acontecerá no alviverde.
Termino esta coluna do jeito como encerrei a anterior: o Brasil que se quer – justo, de paz, tolerante, eficiente e produtivo – passa obrigatoriamente também pelo futebol. Se queremos mudar pra melhor, é preciso romper com o passado de velhas práticas e costumes que vão na contramão dos valores mencionados no início deste parágrafo. A pressão exercida para o pedido de demissão do antigo Diretor de Marketing do Corinthians é ainda sensível sinal desta mudança.
Ainda há muito para ser feito.