A vida de Eurico Miranda se confunde com o Vasco da Gama. E vida dele era o clube, praticamente. Representava por completo o estereótipo do “cartola” que se conhece: “dono” do clube, “pai” dos jogadores, politicamente hábil, discurso muitas vezes incontestável e comportamento, na maioria das vezes, excêntrico. É verdade que estes personagens são cada vez mais raros, entretanto ainda existem. Em igual ou menor grau.
Em termos de Gestão do Esporte, estas características não se aplicam mais. A atual demanda das organizações esportivas, atletas e fãs do esporte pela busca por transparência, retidão com as receitas do clube, das federações e de parceiros, além de uma governança sustentável, não condizem com as velhas práticas de outros tempos, dos quais Eurico Miranda fez muita parte. Um exemplo – apenas um – é a final da Copa João Havelange de 2000, quando as grades de São Januário se rompem instantes antes do jogo, que teve que ser remarcado. Eurico fez de tudo para que o jogo pudesse acontecer, em vão.
Há quem diga que o falecimento dele é o fim de uma era. Esta era citada no parágrafo anterior. Ledo engano. O futebol do Brasil está longe do término destes tempos. Poucos clubes seguem uma orientação de mercado. Mesmo alguns considerados exemplos na arrecadação de recursos e geração de receitas, estão vinculados a patrocinador(es) cuja rotina também se confunde com o clube, o que sugere participação ativa na vida da instituição. Em outras palavras, manda(m) e desmanda(m).
Manda quem está no comando, quem tem o dinheiro, uma “panela”. Não a torcida, não quem compra o ingresso do jogo e a camisa do clube. Quem, de fato, consome.
Fazer futebol está caro! Atender as demandas das massas por títulos e protagonismo é uma conta que não fecha. Por isso ainda existem os mecenas da bola. Por isso a regulamentação da gestão do esporte e, especificamente, a do futebol, é mais do que urgente.
Com tudo isso, na elite do futebol do Brasil os dirigentes à moda antiga têm perdido espaço para práticas mais voltadas ao mercado. É perceptível este movimento. Entretanto, as práticas diretivas de outrora ainda existem e persistem. O fim dessa era se dará com a participação do torcedor (consumidor); com sustentabilidade financeira e esportiva voltadas para longo prazo. Nos dias de hoje “imediatismos” não mais se aplicam porque a consequência é desastrosa. O produto não se sustenta no mercado e não há marketing que resolva.
Em tempo: nesta coluna acredito que alguma coisa ou outra é falada, ou ideia compartilhada. Quero deixar uma reflexão que é atribuída ao ex-Presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy:
“Sempre se ouvirão vozes em discordância, expressando oposição sem alternativa, descobrindo o errado e nunca o certo, encontrando escuridão em toda parte e procurando exercer influência sem aceitar responsabilidade.”
Longe de qualquer pretensão, em tudo o que se discute e reverbera, é preciso encontrar alternativas e executá-las; procurar ver o que é certo e celebrá-lo, além de aceitar as responsabilidades. Sobretudo, é preciso trabalhar e construir.