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A seleção brasileira de futebol é uma das marcas mais relevantes do esporte em âmbito global. É um time que simboliza vitórias, conquistas, ídolos e um estilo que contribuiu sobremaneira para a própria disseminação do jogo. No entanto, e isso não é um caso recente, também um dos maiores exemplos de como uma comunicação inadequada pode debelar uma imagem essencialmente positiva.
Durante décadas, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) submeteu a seleção a jogos esdrúxulos, estádios e adversários que não condizem com o time pentacampeão mundial, amistosos agendados apenas para afagar o ego de patrocinadores, convocações suspeitas – tema que já apareceu até em uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) –, denúncias de contratos espúrios e uso político da marca. O time que apresentou ao mundo nomes como Pelé, Garrincha, Zico, Romário e Ronaldo também é o responsável por colocar no noticiário figuras como João Havelange e Ricardo Teixeira.
A seleção tornou-se uma parte tão relevante para a construção identitária do que é ser brasileiro que o significado da camisa amarela extrapolou demais os limites do campo. É um símbolo que aproximou turistas de diferentes países por muitos anos, e que mais recentemente virou denominador comum em protestos políticos – as manifestações que antecederam a derrubada da presidente Dilma Rousseff (PT) e que pavimentaram a ascensão da extrema direita representada por Jair Bolsonaro (PSL) tiveram como ponto comum o uniforme.
Em outras épocas, a seleção já foi usada por políticos locais de diferentes espectros e tratada de forma calhorda por muitos dos que deveriam zelar por sua marca. O mau uso da camisa canarinho é outro fenômeno que não tem nada de novo e que apenas revela a total ausência de um manual do que representa a marca.
Se houvesse preocupação com a relação entre público e seleção brasileira, o time nacional não teria enfrentado o Panamá no último sábado (23); se houvesse essa preocupação, o duelo não teria acontecido em Portugal; se houvesse, o empate por 1 a 1 não teria sido tão pouco relevante e o retrospecto do Brasil após a Copa do Mundo de 2018 teria levantado muitas discussões pertinentes.
O Brasil disputou sete partidas desde que foi eliminado pela Bélgica no Mundial disputado na Rússia. Foram seis vitórias e um empate (justamente contra o Panamá), com apenas um gol sofrido e sem qualquer apresentação digna de nota. Há uma renovação em curso, que tem dado mais espaço para nomes como Éder Militão, Lucas Paquetá, Arthur e Richarlison. Também existem mudanças táticas significativas – a principal delas é o papel dos laterais, mais agudos e menos construtores pelo meio do que eram Daniel Alves e Marcelo, titulares até 2018.
No entanto, o que mais levantou discussão após o empate com o Panamá foi o discurso do técnico Tite. Tudo porque o treinador, em entrevista coletiva depois da partida, usou expressões como “externos desequilibrantes” e “sinapses no último terço”. Foi o suficiente para gerar críticas de quem identificou nele um excesso, um pedantismo ou uma dificuldade para criar vínculo com quem recebe a mensagem.
Ora, Tite não se tornou essa figura apenas depois da Copa. O treinador tem esse tom como característica, e foi falando assim que virou uma das maiores unanimidades do país – e não apenas no esporte – antes da disputa do Mundial.
Também é fato que o desgaste da imagem de Tite tem a ver com o excesso, mas não com o excesso das expressões. O treinador foi o principal garoto-propaganda de várias marcas em 2018 e se tornou figura presente em praticamente todos os segmentos. Pelo baixo índice de rejeição e por ter conseguido um rápido sucesso no comando do time nacional, suplantou qualquer jogador em volume de aparição midiática.
A enorme exposição também aumentou a responsabilidade de Tite e transformou o treinador em uma figura mais vinculada ao fracasso na Copa. O Brasil caiu em um grande jogo contra a Bélgica, vale lembrar, numa partida em que teve oportunidades até o fim.
Tudo – o jeito professoral de Tite, o excesso de exposição do treinador, a queda para a Bélgica e as expressões inusitadas – faz parte de um pacote que não atrapalha necessariamente a comunicação. O que acontece é que esses elementos ganham destaque quando as outras pautas perdem importância.
Expressões como as usadas por Tite – e outros exemplos, como “terço final”, “oportunizar”, “entrelinhas” ou “bloco baixo” – fazem parte de um glossário de uma nova geração no futebol, e lutar com isso também denota algum preconceito. Há não muito tempo ouvi dois garotos de 11 e 12 anos comentando que haviam “quitado um jogo” para dizer que tinham deixado uma pelada. É uma apropriação exagerada da língua inglesa, mas o mais importante é que o grupo se identifica a partir desse modo de falar.
Jornalistas falham ao não traduzir bem isso, mas também falham ao ironizar ou falar de forma preconceituosa sobre expressões que têm conteúdo. Tite deu vários elementos que poderiam levantar discussões sobre a seleção brasileira, e discutir o discurso também é uma forma de evitar o trabalho de aprofundamento em outros temas.
O Brasil tem vários problemas de comunicação com seu público, e o discurso de Tite é apenas um deles. Se houvesse uma real preocupação da cúpula da CBF, as expressões do treinador poderiam compor até um glossário ou mostrar a diferentes perfis de público que nem todos precisam consumir o jogo da mesma forma.
Mas talvez seja pedir demais que a CBF, que há décadas busca meios diferentes para pisar na história da seleção brasileira, agora tivesse qualquer tipo de preocupação com as mensagens que sua principal marca transmite.
 

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