No último fim de semana o autor desta coluna terminou a leitura do excelente livro “Red Card: how the U.S. blew the whistle on the World’s biggest sports scandal” (Cartão Vermelho: como os EUA soaram o apito no maior escândalo esportivo do mundo), de Ken Bensinger. Já havia lido “O Delator”, de Allan de Abreu. Um livro é mais específico aos casos brasileiros; o outro levanta as investigações pelo mundo. Ambos tratam do “FIFAgate”, escândalo que envolveu corrupção, lavagem de dinheiro e sonegação de tributos que colocou na prisão vários ex-dirigentes do futebol mundial.
Muitos deles eram da CONCACAF (Confederação de Futebol das Américas do Norte, Central e do Caribe) e da CONMEBOL (Confederação Sul-Americana de Futebol). Por conta disso, os direitos de transmissão da Copa América eram objetos diretos de inúmeras operações ilegais. Para o colunista, tornou-se difícil dissociar o torneio das quase três décadas de crimes ligados a este grande patrimônio Sul-Americano: o futebol. Dos bilhões que foram deixados de se investir para o desenvolvimento do esporte local a fim de satisfazer extravagâncias de gestores que deveriam estar a serviço do esporte.
Recomendo as duas leituras.
No mundo corporativo, diz o ditado que as pessoas vão e vem, mas que a organização e o propósito, ficam. E assim está a Copa América há mais de uma centena de anos. O futebol como fator sine qua non para a consolidação do Estado Nação moderno na América do Sul: a unicidade argentina, a mistura das raças no Brasil, os ideais republicanos no Uruguai. A modalidade ajudou a moldar tudo isso aí nas jovens nações sul-americanas e, especialmente, a Copa América.
E isso, sim, é indissociável.
Ademais, o jeito de torcer e desfrutar o futebol neste canto do planeta são únicos. Não se compara. As rivalidades, também. São muito intensas, mas – com exceção de algumas – não possuem origens em hostilidades que custaram vidas. Estão, na verdade, dentro de campo, o que lhes confere autenticidade; e ser autêntico é uma das características que a América do Sul tem de mais evidente, quer seja no futebol ou nas relações humanas. Claro, há muito para melhorar.
Com tudo isso, não há dúvidas de que a Copa América é um grande torneio e um excelente produto. Romper com o passado obscuro citado no início da coluna é desafio, entretanto feito facilmente, apoiado na vantagem competitiva do futebol por estas bandas, construído em mais de cem anos. É preciso se reinventar: capital humano dentro e fora de campo, por aqui, existe.
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Em tempo mais uma frase relacionada à Gestão e Marketing Esportivo:
“Se a Disney fosse um clube brasileiro, venderia o Mickey e não os seus desenhos animados.”
Walter de Mattos Junior, presidente do diário “Lance!”