A troca constante de treinador é uma realidade impregnada no futebol mundial. Isso mesmo, no mundo todo. Aqui no Brasil acontece mais. Só que em outros centros também troca-se o comando se o resultado não aparece. O argumento dos dirigentes de que é mais fácil trocar o técnico do que todo o grupo de jogadores é até válido, porém superficial demais. Por trás disso está uma falta de convicção gigantesca na maioria das decisões tomadas. Simplifica-se todo o processo de planejamento, definição do modelo de jogo, verificação de forças e fraquezas do elenco e busca das peças certas para a implementação das ideias pretendidas, para no final o treinador ser trocado sem critério algum.
Pior do que trocar o comando técnico avaliando apenas resultado e não o trabalho em si é invariavelmente o perfil de quem é contratado para o lugar vago. Na maioria das vezes, chega um profissional com conceitos completamente diferentes de quem acabou de sair. Pode até acontecer um bom resultado no curto prazo. Mas após o caos inicial que a mexida no líder do processo causa vem a dura realidade traduzida na dificuldade em construir um jogo elaborado, por conta do famigerado ‘resultado a qualquer custo’.
O Flamengo, que hoje é o melhor time do Brasil, deve muito do seu sucesso a capacidade do português Jorge Jesus. Ele conseguiu criar boas ideias coletivas a partir da qualidade dos jogadores. Mas não dá para falar que foi algo pensado estrategicamente pela diretoria, já que nos meses anteriores passaram pelo clube Abel Braga, Dorival Júnior e Maurício Barbieri: profissionais antagônicos, contratados aleatoriamente.
O Palmeiras conseguiu ter um sucesso recente muito mais pela força da sua gestão, que criou boas condições estruturais, do que por um projeto de campo bem pensado. Os perfis de Marcelo Oliveira, Cuca, Eduardo Baptista, Róger Machado, Felipão e Mano Menezes mostram algum tipo de coerência para um suceder o outro? Ou seja, o projeto de futebol ainda é ‘temos que criar um fato novo’, ‘chacoalhar o vestiário’, ‘dar uma resposta a torcida’ e outros chavões que estão sempre na ponta da língua de dirigentes amadores e sem visão.
Eu poderia citar inúmeros outros exemplos que comprovam a aleatoriedade na escolha do treinador, indo do São Paulo, que não deixa ninguém trabalhar em paz, até o Corinthians que tem puramente um ‘achado’ com a similaridade entre Fábio Carille, Tite e Mano Menezes – comprovado pelas contratações de Cristovão Borges e Jair Ventura nesse meio tempo – mas é melhor pensarmos em soluções do que só ficar apontado o problema.
Dentro desse cenário caótico, o treinador tem que ter uma metodologia clara, que consiga extrair o que cada jogador tem de melhor rapidamente, potencializando o todo através da individualidade de cada peça. É preciso saber onde se quer chegar e como fazer isso através da leitura assertiva do ambiente e de um trabalho consistente, com métodos de treino bem definidos e que rapidamente criem padrões de ataque, defesa e de transições potencializando o que cada um tem de melhor.
Se não, continuaremos a ter trabalhos remendados, com um treinador aproveitando um pouco o que o seu antecessor deixou, tentando adicionar um ponto aqui, outro ali…futebol de qualidade não se faz assim. Ainda prefiro convicção nas ideias, respaldo diretivo e tempo para implementações dos conceitos. Quem sabe não tenhamos isso como premissa no futebol brasileiro daqui alguns anos?! Que comece, então, de ‘baixo para cima’, com os próprios técnicos mostrando aos dirigentes como se faz. Torço por isso.